terça-feira, 6 de julho de 2010





A barca Nictheroy

Rangia como velha resmungando de dores na juntas. E era velha mesmo. Provavelmente do início do séc.XX. Nem sabia como ela ainda podia fazer a atravessia da Baía de Ganabara entre o Rio e Niterói e vice-versa. Graças aos potentes motores de popa, a proa cortava as águas singrando como uma adolescente cheia de vida. E fazia a alegria dos passageiros, fossem crianças como eu ou adultos, a passeio ou a trabalho, porque dava a impressão de uma grande viagem marítima entre continentes.
É claro que dava, ás vezes, um certo temor, mas a paisagem inagualavél logo tirava o medo do pensamento. A paisagem, antes mesmo da ponte moderníssima, que levou anos em construção, absorvia a vontade aventureira de grandes viagens em gigantescos transatlânticos. Quem sabe um dia... uma grande viagem seria feita?
Por enquanto era só fantasia, por isso se contentava com as visitas ao Pier da praça Mauá, onde navios brancos de grande porte faziam escalas e deles saltavam turistas e marinheiros de várias parte do Mundo.
Outro encantamento na minha pré-adolescência eram os passeios a Ilha de Paquetá, onde me assombrava, até ficar de boca aberta, pasmo, parado, olhando um enorme Jequitibá que praticamente tomava uma rua inteira, num dos pontos mais bucólicos da Ilha. Aos domingos, muita gente, eu andava de bicicleta prá lá e prá cá alegre e satisfeito com a vida, de bem com tudo, no prazer total das descobertas. A praia de Icaraí ficou para sempre na minha memória. Só a volta ao rio era meio melancólica. Vontade de ficar um pouquinho mais.O Cristo Redentor, lá em cima do Corcovado abençoava todos os nossos sonhos...
Num desses passeios, na barca Nictheroy, uma jovem mulher estava na maior "zueira" com um grupo de marinheiros suecos, quando de repente, caiu ou foi jogada no mar.
Todos começaram a gritar por socorro até que a barca parou e de ré voltou para resgatá-la, pois alguém já tinha jogado a bóia que foi sua salvação.

Algumas pessoas se revoltaram, já outras riam do vexame em que a mulher tinha se metido.Era uma dessas prostitutas da Lapa."Também vai se meter com marinheiro, onde já se viu isso?!" Eram os cometários que eu ouvia.
Mas eu só pensava em algum dia poder viajar pelos quatro cantos do mundo com a barca Nictheroy.

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