terça-feira, 4 de dezembro de 2012

DEPOIS DAS CHAMAS

Como tudo na vida tem seu lado bom esse é um momento de limpeza,de recomeço.Perdi muita coisa,mas quem precisa de roupas de grife, de bolsas Chanel? É hora de dar valor ao que realmente vale”.

Sabine Boghici – atriz -Rio – Após incêndio em sua cobertura em Copacabana, onde, felizmente sobreviveram seus cães e gatos de estimação. Folha de SP -domingo – 29 de agosto 2012. Bela e sensata reflexão.

Da vida só levamos aquilo que damos, alguém disse isso

UMA VOZ AO VENTO

No Quiosque do Marquinhos, no fim do mundo de uma praia em Porto Novo, na Enseada de Caraguá, num domingo qualquer do verão passado
Andréa Mara, crooner, canta num improvisado palco repertório que vai de Simone, Alcione a Paula Fernandes, Marisa Monte, Maria Rita, etc. se desdobrando para comprar o leite da filhinha de colo que está nos braços de um caiçara pescador, maduro e ciumento, atento à aproximação de rapazes.Como ela chegou ali?
Agora canta, alegra o pessoal com seu talento e com olhar profundo vê o mar e sua linha no horizonte. E sonha, com certeza, sonha! Conseguirá um lugar ao sol? Terá futuro? Cantará, um dia em algum clube noturno da capital? Será descoberta por algum caçador de talentos musicais? Subirá ao palco de algum programa de calouros na TV. Tipo The Voice Brazil? E assim, aos poucos, subirá os degraus da FAMA tendo uma vida melhor?
ELA MERECE! ELA MERECE! Por enquanto é apenas Andréa Mara, uma crooner vinda do sul de Minas, a surpreender os turistas, com sua voz melodiosa, ora brejeira, ora incisiva, como a brisa marinha.


NO SERTÃO DOS CUNHA – NA ROÇA- OU IRLANDA BRASILEIRA



No coração do Sul de Minas, uma espécie de Grande Sertão – Veredas, várias histórias se cruzam: Dona Maria José se despede do marido morto que será enterrado num pequeno cemitério ao lado da capela – “Vai meu veio, vai, que logo eu vou também, meu amor” E as lágrimas correm pela face sulcada de rugas ancestrais.E ela desce, solitária, pela longa estrada da vida, que vai dar junto ao fogão de lenha que ela não abandona nunca,mesmo com apenas algumas brasas dormidas, durante a madrugada. Olhando dia e noite, noite e dia, tudo o que acontece além da janela da cozinha. Lembra agora como conheceu seu marido, Lázaro, num passeio a Poços de Calda, tendo apenas 16 anos. Quanta saudade, meu Deus!, recorda ela, limpando os olhos. Casou-se e ali morou para sempre.Trabalho árduo na roça, nunca lhe cansou. Mas agora!


Na última casinha da estrada, Dona Ana não se conforma com a morte prematura do filho Luciano, bom jogador de futebol na várzea. A doença apareceu no sangramento repentino das gengivas e assim continuou por dias. Na Santa Casa de São Lourenço, o duro diagnóstico: câncer. Agricultor, como seu pai Sebastião, o filho mexia com adubos altamente cancerígenos, sem nenhuma proteção, nas lavouras de repolho, couve flor, batata ou cebola, conforme a época.



Moída pela dor da separação, a mãe nunca mais terá o sorriso largo e alegre do filho. Olha inúmeras vezes, seu retratinho na parede da casa onde tudo é simples, pequeno, amoroso. E chora, não aceita, dias e dias assim. Luciano pelos campos, como alma penada. “Deixa seu filho seguir seu caminho, dona Ana”, aconselha o padre nas missas dominicais. “Nada, Nonada”. Até que um dia, de tanta missa, novena, água benta e preces dos moradores e dos rapazes, colegas de futebol, lá se foi Luciano numa tarde de céu azul, no poente, sobre as montanhas azuis mineiras, como um anjo viril e suave ao mesmo tempo.



Só ficaram boas memórias, esta outra forma de vida, naquela pequena casinha de Dona “doce” Donana, vivendo das lembranças do filho. “Estou em paz, mas aceitar, acho que nunca...”,comenta sempre no beiral da janela da cozinha, de onde enxerga o “campinho” de futebol. “Donana, num fala assim que Deus castiga,mulher”, diziam as comadres. Na casa das “russas”, assim chamada por que as moças são todas loiras e casadoiras (e arredias também),cópias fiéis de seus antepassados ucranianos, fechadas em sua inescalável timidez,Rosália também chora.Luciano era seu primeiro e também caladão namorado de adolescência.

Numa casinha, quase no alto da serra, perto de uma cachoeira pequena, também chora Tonho que, homossexual, o único na vila, tinha um caso muito secreto com Luciano. Mas todos sabiam que, nas noites de sábado, na ausência de mulheres e diversão, na roça, ele promovia “saraus”, com a rapaziada até altas madrugadas, vestida de Messalina ou Vanderléa, dos tempos da Jovem Guarda. Dizem que até lobisomens apareciam por lá para tomar “uns drinques”, com a única bicha do mato, na região entre Maria da Fé e Dom Bosco.”O Tonho é gente boa”, comentava a rapaziada

Sabedora de tudo o que acontecia, Josefa, do alto dos seus 80 anos, pitava seu eterno cachimbo, com enorme prazer, sentada num banquinho da, varanda de sua casa, como uma Mãe de Santo sabedora de tudo nesta e na outra vida. “Qualquer hora a cobra vai fumar!” Eita fuzuê, Tonho não tem eito!”

Para comemorar as safras produzidas e vendidas nos entrepostos do Vale do Paraíba, os roceiros se encharcavam de cachaça nos botecos do caminho, onde, costumeiramente apareciam algumas prostitutas da Zona do Buieê, de Paraisópolis, trazidas por Sueli, a “fia do Zé do Hoter”, prá “carmá o desejo sexuar dos home”. Era uma combinação entre eles, que já durava anos e anos, naquelas paragens.

E o Jaca, típico roceiro, homem bom, calmo, 37 anos, nascido e criado por aquelas bandas não se conformava com os mexericos da Rosa, sua mulher e mãe de seus três filhos. Era só ele botar o pé em casa, um antigo casarão do tempo dos escravos, lá vinha a mulher encher sua cabeça com fofocas. Ele já tinha se desentendido com várias mulheres e seus maridos por causa deste terrível costume de inventar moda das casadas, das solteiras e dos solteiros, tratava mal as crianças por qualquer coisinha.

Um verdadeiro inferno na cabeça daquele homem que, de sol a sol, vivia só para suas vacas, tratando-as e ordenando-as com carinho para que elas produzissem o melhor, leite da região e queijos mineiros dos mais apurados. Vivia lamentando com os amigos como a mulher tinha mudado depois do casamento. Tava que não agüentava mais e já tinha até feito romaria a cavalo rumo à Aparecida e rezado muito, pedindo que a santa de sua devoção desde pequeno fizesse algum milagre. “Nada, nonada”

Pensava que a mulher talvez tivesse ficado louca aos poucos, pois falava mal de todos e de tudo, um verdadeiro inferno em vida. Até na cama, de noite ela acordava para falar mal das vizinhas e incitando o marido a tirar satisfação e vingar de coisas banais. Rosa já estava ficando isolada pois todos a evitavam por causa deste costume. As mulheres queriam matá-la de tanto mexerico que fazia. Inventou que dona Vera, a professorinha da pequena escola do Sertão dos Cunha, um anjo de candura, era mulher da vida em Caxambu.

Foi a gota d’água, um bafafá danado. E foi assim até que um dia, de manhã bem cedo, quase clareando e o sino da capela batendo prá missa de domingo que o corpo dela apareceu balançando no galho de uma figueira bem no alto do morro. Tinha se enforcado ou alguém praticou o crime. Um alívio transpareceu na vida de todos os moradores que achavam que um dia isso ia acontecer. As dúvidas recaíam sobre o marido, mas o fato é que o tempo passou e as coisas foram voltando á normalidade, caindo, no esquecimento. A mexiriqueira foi enterrada por ali mesmo, perto de uma grande pedra.

Passaram a dizer que a figueira tinha ficado mal assombrada. E Jaca só muito depois voltou a se ligar a uma mulata que acabou criando seus filhos diretinho como é de costume na roça, neste Sul de Minas que as pessoas falam que não é apenas uma região, mas uma espécie de instituição, por causa da profunda religiosidade e conservadorismo das famílias. Todos católicos, apostólicas romanos, se bem que uma espécie de invasão pentecostal já começava a mexer com a cabeça daquela gente.

Os filhos dos fazendeiros, mais letrados, estudavam em Itajubá e falavam que o Sertão dos Cunha ou o Sul ,de Minas de modo geral era uma espécie de “Irlanda brasileira”, por causa dos costumes rígidos e das superstições, principalmente histórias de pretos velhos,corpos secos, fantasmas de sinhás e sinhasínhas perversas, de fazendeiros cruéis e sobre lobisomens, entre outros casos.

O corte de uma antiga e robusta jabuticabeira, no sítio do “seu” João foi uma imprudência comentada durante anos. Por que ele tinha feito isso, se a árvore produzia muitos frutos todos os anos, não estava incomodando ninguém. Um crime contra a natureza, que todos lamentavam. Foi no ano que choveu tanto que o lugar chegou a ficar isolado do resto do mundo.

E o córrego das Freiras transbordava inundando tudo. Os trovões e relâmpagos ribombavam assustadoramente, clareando as madrugadas, assustando todos com medo de que o mundo estivesse acabando ou algum castigo do céu estava sendo mandado para que os homens parassem também com aquela bebedeira toda nos botecos ao longo da estrada.

Lá do alto das montanhas, todos podiam ter um ampla visão do Sertão dos Cunha. Paisagem inigualável. Um estranho conjunto de pedras enormes servia de pouso de discos voadores e aparições extraterrestres, afirmavam os moradores. Muitos clarões estranhos foram vistos, de madrugada. Mas era o local preferido para se fazer piqueniques, embora as pedras tivessem realmente um aspecto sombrio, principalmente ao cair da tarde.

Talvez saída de algum filme de Mazzaropi, o Sertão dos Cunhas também tinha uma personagem hilária na figura de uma mulher que, fugia aos padrões das outras, geralmente sérias, não gostando muito de brincadeiras. Era dona Leonor, viúva de um rico fazendeiro. “Estão vendo, ele vivia dizendo que eu estava com o pé na cova. Mas quem foi primeiro foi ele!, comentava com as amigas.

Adorava visitar a filha em São José dos Campos, onde era freguesa habitual do restaurante Resgate Caipira, em Monteiro Lobato. E vivia dizendo que “o sul de Minas começa em São Francisco Xavier,” onde ainda hoje mora Constância, uma de suas melhores amigas. “O lugar é uma gracinha”, dizia.

Literalmente vivia “torrando” o dinheiro do falecido nos shoppings. Sempre muito bem vestida, até numa certa extravagância, de jóias, pulseiras, colares e outros penduricalhos ressonantes. “Mão aberta”, presenteava os filhos, as filhas, os netos e as amigas, só para ter o prazer de vê-los contentes. Quando voltava prá roça era uma festa aguardada com muita ansiedade, todos querendo saber dos passeios que ela fazia e dos presentes que trazia.

Inesquecível era ainda dona Benedita, cujos filhos fizeram fortuna no Vale do Paraíba, com um rede de Supermercados, a partir de Taubaté. Tinha quatro filhos, duas mulheres e dois homens. Um deles, o primogênito, era Edmundo. O mais arteiro. E todos os dias às seis horas da tarde, na hora da Ave Maria, ela gritava do portão, com toda a potência de seu fôlego, – Muuunnndddiiinnnhhhooo! Vem prá dentro, oooooo, minino danado”. Era um chamado tão forte,tão severo, tão amor de mãe temerosa, com hora marcada, que as pessoas de longe ouviam – “Estão escutando, são seis horas, é hora de se recolher!”

Raimundo amava desesperadamente Florisa, Namoro e noivado se arrastando anos e anos, por indecisão sabe-se lá de quê, por parte da bem amada, que vivia brigando com o noivo. Talvez medo de sair da casa dos pais. A situação foi rolando, rolando. O tratorista só faltava se matar de paixão e tesão pela moça. Afinal, o que Florisa queria? Destratava o rapaz a ponto das amigas comentarem “Olha, partidão como este você não encontra todo dia, vamos decida –se! Ele te ama muito.”

Até que um dia,Raimundo, zangadíssimo, foi até a casa dos pais de Florisa e, comentam até hoje, trouxe ela pelos cabelos, arrastando estrada abaixo, até a casinha azul,como o manto de Nossa Senhora, muito bem arrumadinha, com um coraçãozinho desenho na porta com seus nomes – Raimundo e Florisa. A noiva supreendida, rendeu - se finalmente, se entregando de corpo e alma àquele amante latino, para a felicidade de todos que queriam vê-los junto finalmente.

A cena foi uma delícia para Margarida e Filomena, solteironas esperançosas e conhecidas casamenteiras. “Até pareceu Mauren O’Hara sendo arrastada e amada pelo impetuoso e talentoso ator John Wayne, naquele filme antigo “Depois do Vendaval”, com ação passada num distante vilarejo da Irlanda natal do diretor John Ford” , comentavam sempre,nas festas religiosas, nas quermesses, apesar do desconhecimento das pessoas sobre cinema. “Quem? Onde?”

Uma noite de lua cheia, daquelas lindonas de clarear tudo, a rapaziada se juntou num descampado prá prosear, tocando violão e cantando modinhas sertanejas. E beber cerveja, ora se não! Era uma turma mesmo, de uns vinte. Até mesmo quem tinha moto vinha de São Lourenço. Aconteceu o seguinte: de tanta felicidade, tanta beleza, tanta doçura no coração, que todos, ao som de um violão, cantaram e riram, mas riram prá valer, assim do nada, de, tudo, de qualquer coisa, riram de se acabar. E a lua cheia parecia também rir lá de cima.

Até que o domingo foi aparecendo no horizonte, colorindo tudo de tons róseos, como a promessa de um grande amor. Mas daí já a rapaziada toda dormia o sono dos justos na relva meio que molhada de orvalho da madrugada. Alguns com a braguilha da calça rancheira semi aberta. Ora se não!











SERÁ MESMO QUE O MUNDO VAI ACABAR NO DIA 21 DE DEZEMBRO DE 2012, SEXTA-FEIRA, ÁS 12 HORAS?



Um gigantesco Tsunami à vista? Um enorme meteoro, num profundo impacto? Um mega terremoto? Uma grande explosão vulcânica,abalo,impacto? Choque!Morte em massa da população mundial? Nada disso está assustando ninguém.O tema está numa comédia da TVem forma de mini-série onde os protagonistas, convencidos do FIM DO MUNDO, procuram levar o melhor da vida, como se o SINAL DOS TEMPOS fosse acontecer agora, de forma definitiva.

Por outro lado, em documentários na TV várias pessoas, assustadas com o que possa acontecer, estão se prevenindo, de forma cautelosa, acumulando gêneros alimentícios e abrindo abrigos em cavernas em altas montanhas. Revendo acontecimentos históricos trágicos tivemos “fins de um mundo” nos tempos bíblicos do Dilúvio, em Pompéia, o grande terremoto de Lisboa, de São Francisco; no Japão e o Tsunami, mais recente, na Indonésia, entre outros.

Será mesmo que a Terra está saturada de tudo, com mais de 7 bilhões de habitantes e enorme caos causado pela violência urbana?Muitos filmes de catástrofes e invasões de ETs já foram produzidos e continuam sendo exibidos, atraindo grandes multidões aos cinemas. O que Hollywood tem mais a dizer, depois de Independe Day, O Dia Depois de Amanhã e o grande clássico renovado – Guerra dos Mundos?!
Resta a nós, míseros mortais, aguardarmos. Estas e outras profecias Armagedonicas. Com bom humor, a expectativa não há de se cumprir, com certeza. Deveras, o que precisamos fazer é melhorar este planeta para que ele sobreviva e seus habitantes vivam melhor, sem desigualdades, fraternalmente. Justamente neste século XXI onde ressaltamos o grande avanço das tecnologias em todos os setores. Tenhamos mais amor ao próximo Sejamos otimistas. Nada de ruim irá acontecer nos próximo dias e

Assim teremos mais um NATAL pleno de Luz Divina e grande cordialidade.

Livro 'Os mortos e os vivos'


O livro OS MORTOS E OS VIVOS – Uma introdução ao Espiritismo, escrito pelo sociólogo Reginaldo Prandi (foto acima), da USP e um dos principais estudiosos das religiões brasileiras, deve ser lido por todos que querem conhecer melhor esta religiosidade, que já foi um sistema científico e filosófico em seu início, formulado por Allan Kardec,surgido  na França, no século XIX. Editora Três Estrelas - Alameda Barão de Limeira, 401,6º. Andar – CEP 01202-900 São Paulo – SP- Tel. 3224 - 2186/2187/2197 

domingo, 11 de novembro de 2012

A FORÇA DE DEUS ESTÁ NA NATUREZA QUE TEMOS O DEVER DE PRESERVAR E AGRADECER SEMPRE



“EM TODOS OS MOMENTOS DA MINHA VIDA,A FORÇA DE DEUS ESTÁ EM MIM E ELA TEM O PODER DE ME ELEVAR ACIMA DE, TUDO O QUE ME OPRIME” – De um estimado amigo morador de João Pessoa tentando me ajudar com suas palavras e experiências de vida, a ter sempre PENSAMENTOS POSITIVOS.



Pensamento elaborado nas proximidades do Cabo Branco, o ponto mais setentrional do Brasil, diante do mar azul e verde esmeralda da ecológica e florida capital da Paraíba, num passeio de fim de semana, pleno de reflexões sobre a vida e seu valor.



B L O G






Blog da Saudade

Dos caminhos percorridos e a percorrer

Da oração

Do silêncio

Dos destinos a se cumprir nesta vida

Dos encontros e desencontros

Das lembranças

Da sensibilidade em busca de outras

Da imaginação

Da poesia

Da memória

Blog do que ficou para sempre em nossos corações.

Do que ainda resiste, neste mundo cheio de mudanças.

Blog da felicidade que não há prêmio da MEGA SENA que compre!



NERVOSA & NERVOSO



Ficou tão nervosa que acabou ficando quase pelada na frente do farmacêutico (nervoso idem!) que ia lhe aplicar uma simples injeção no bumbum contra gripe, naquela saleta atrás da farmácia. Sentimento de culpa, pudor, medo, desejo e solidão, tudo junto, numa terrível mistura. As dores e vacilos de uma solteirona, cheia de manias. Com o sexo reprimido ainda aos 40 anos! Tem jeito?!



O AMOR SEMPRE VENCE



1928; na Fábrica de Meias Victória, no Brás. A tecelã Catarina amava, escondida, o seu jovem patrão, Abdel, filho do dono, recém chegado do Líbano. Amor correspondido, mas com barreiras de preconceito. Tudo muito novo para o jovem imigrante que veio decidido em “fazer a América” no Brasil. Enquanto rolava o romance secreto dos dois pombinhos os teares zuniam num ritmo frenético dia e noite tecendo meias e mais meias pois “São Paulo não pode parar”, dentro desta sinfonia industrial ininterrupta, marca registrada do chamado progresso paulista. Pelo mundo afora o amor também não pode esperar.



Mesmo no recôndito de algum almoxarifado, naquela Paulicéia desvairada retratada por Mário de Andrade nos anos 20, no ritmo do Charleston e da fama de imigrantes bem sucedidos como os Matarazzo. Anos depois, em 1954, no 4º. Centenário, vamos ver o casal de amantes donos de um verdadeiro e grandioso império fabril, morando num dos mais elegantes apartamentos da Avenida Paulista, freqüentando o “must” da alta sociedade paulistana quatrocentona.



CAMELÔ






Um camelô diferente? Vende DVDs de filmes antigos, geralmente faroestes com grandes artistas do passado, em preto e branco e alguns coloridos. Filmes da Metro. Gary Cooper, Robert Mitchum, Alan Ladd, Ava Gardner, Susan Hayworth e outros. Dá matéria? Filmes que só passavam nos cinemas .Quer conferir? É só passar na rua Barão, logo no começo.

E dá lhe saudades cinematográficas nos velhos corações dos cinéfilos

HORA DA SAUDADE



Na Rádio Nacional do Rio de Janeiro, uma música de Noel Rosa. Margareth olhava a lua e as estrelas, no céu daquele distante subúrbio, da ZN carioca. Fim de domingo qualquer,em 1964, numa varanda de uma casa construída pelo pai em 1940, Verão, no calor da noite, ela pensava por que tinha ficado solteirona?! As pessoas passavam na calçada voltando do cinema, o único do bairro, exibindo o filme “Um Bonde Chamado Desejo”, do americano Tennesse Williams, com Marlon Brando e Vivien Leigh no auge de sua juventude e talento.

Por onde andará Adilson, o único namorado perdido em Andaraí há muitos anos atrás?Que fim levou?!

O DIABO VIAJA PARA O SUL



Estranha, aquela pessoa que se aproximou de mim, num banco de um ponto de ônibus, no centro. Adulto já, na faixa dos 40 anos,cabelos compridos meio grisalho, branco, rosto vermelho. Dizia que ia matar o irmão, perguntando o que eu achava disso?!

Meio assustado, respondi que era uma coisa muito pessoal. Mochila nas costas estava indo para a rodoviária. Revoltado, com alguma briga familiar naquele domingo. Se o tal irmão fosse atrás dele, no Sul, ele o mataria.... Qual motivo? Sabe-se lá! Dramas anônimos de uma cidade crescendo vertiginosamente, como São José dos Campos, na solidão de um domingo, por volta das 14 horas.

PEDREIROS






Alicerces para toda uma vida, nas casas feitas por eles, verdadeiros mestres de obras. Construtores conhecidos na cidade, disputados por todos que queriam e querem ter casas bem sólidas e bonitas. Ontem, hoje e sempre. Salve o pedreiro, Salve!Salve! Tem um Dia especial para eles? Será?



CASAMENTOS MEMORÁVEIS NA IGREJA MATRIZ DAS CIDADES DO VALE













Eram verdadeiros acontecimento sociais, com pompa e circunstância. Contos de fada. Músicas solenes como a famosa Ave Maria de Gounoud. Lágrimas de felicidade dos noivos, padrinhos, madrinhas, parentes e convidados.




Em Jacareí, carros luxuosos chegavam trazendo a noiva, com aquele vestido deslumbrante. Todos faziam óooo! Sendo alvo de olhares e comentários gerais, por causa do modelo escolhido, tradicional ou com toque de modernidade, sempre muito chic. O buquê de flores, detalhe inesquecível. Lágrimas dos pais, dos padrinhos e dos amigos e amigas dos nubentes. O noivo, caso a parte, mesmo que não fosse tão bonito, parecia um príncipe naquele momento.



As crianças, componentes da cerimônia, menina e menino, pareciam tão angelicais, plenos de doçura, embora nos cotidianos fossem verdadeiros diabinhos a atormentar seus pais com suas travessuras. Em todas as novelas na TV (sempre a Globo, a poderosa, mostra casamentos dos protagonistas nesse cenário deslumbrante e inesquecível!).



Carros antigos como um toque de nostalgia, começaram a ser usados de uns tempos para cá. Lá pelas tantas, o casal partia em Cadilacs, para a Lua de Mel, tendo atrás aquele arrastão de latas – recém casados rumo a Poços de Calda, São Lourenço ou Rio de Janeiro,etc.



J. Domingues, cantor já falecido abrilhantava, com sua voz cristalina e poderosa e coral essas cerimônias de gala religiosa e profana ao mesmo tempo.



Na igreja todos os candelabros ficavam acesos enchendo o ambiente com muita luz, fora a dos fotógrafos registrando o acontecimento. A decoração da igreja, sempre com muitas flores brancas também era alvo de comentários durante semanas.



Muita fartura nos comes e bebes. O bolo nupcial, acima de 4 andares era uma atração a parte.O bolo, doces e salgados eram feitos pelas conhecidas doceiras da cidade. Os bufês começaram a surgir depois. Os convidados trajavam roupas finíssimas, a rigor.



Tudo muito chic, acontecimento social difícil de se esquecer... Pura nostalgia histórica a ser resgatada em uma possível reportagem de época.




quarta-feira, 24 de outubro de 2012

CARTAS REVELADORAS


Nestes tempos de Internet ( E –Mail, Facebook, Twitter,etc.) as correspondências postais via Correios vão perdendo muito seu significado afetivo como referências pessoais ou familiares. Hoje fala –se muito nas redes sociais. É este o termo usado modernamente.Contar histórias, narrando acontecimentos, vivenciando dramas ou momentos alegres e amorosos, vai ficando cada vez mais distante como hábito social comum. A carta ficou até consagrada numa música popular brasileira, cantada por Isaurinha Garcia, uma das Rainhas do Rádio e que hoje só os mais velhos se lembram: “Quando o carteiro chegou e prá mim acenou com uma carta na mão...”

Mas ainda há pessoas que se comunicam por cartas e algumas, raras, por certo, gostam de guardá-las para relembrar várias épocas e mostrar aos mais jovens o valor que tinham, a partir da própria escrita, aquele momento voltado inteiramente para a afeição e o carinho com que iam narrando acontecimentos importantes ou banais, tristes ou hilários, assuntos conflituosos ou de pura felicidade. Até os cartões postais parecem estar ficando fora de moda. As pessoas se comunicam pouco em plena Era da Comunicação.

Conheço uma senhora que tem um refinado gosto em reunir parentes e amigos para mostrar e ler cartas recebidas durante mais de 60 anos. Além de relíquia familiar é uma aula de micro história, revelando como age o destino, transformando as pessoas. Mostra, para todos aqueles que têm paciência e educação, a essência da vida.

Ela mesma enviava muitas cartas para parentes, amigos e amigas. As mais saborosas são aquelas que falam de festas cívicas ou aniversários e casamentos, pois revelam os costumes sociais e suas mudanças. De desastres, doenças ou falecimentos são as mais tristes, como a maioria das notícias, obviamente.

Uma das cartas lidas por ela, completamente lúcida, apesar de seus 89 anos, narra a viagem de núpcias de um casal de amigos de Curitiba, pela bela Itália, pela França e pelos Alpes antes de conflitos como se vê muito hoje pela TV. Foram de navio até Portugal e, de lá, percorreram, de trem, vários países. Emoção forte foi ver a Torre Eiffel, o Arco do Triunfo, o Champs Elisées, o rio Sena e, em Roma, o Coliseu, da época dos Imperadores, O Trastevere e a Via Veneto, com seus eternos paparazis.

Fascinante mesmo foi o conteúdo de uma carta em que uma prima dela, uma das primeiras aeromoças da antiga Varig, contava como conheceu o seu falecido marido durante uma turbulência numa viagem entre o Rio e Nova Iorque. Ele nervoso, ela tentando se controlar e, no final, dias depois, um nos braços do outro passeando calmamente pela 5ª. Avenida, quando foi surpreendida por um precoce pedido de casamento que mudou inteiramente sua vida.

Um romance a jato, onde Cupido agiu mais rapidinho ainda, não é?! Durante muitos anos moraram em Vermont onde ele era empresário e, depois, já na meia idade, fixaram-se em Gramado, no Rio Grande do Sul.

Triste, por sua vez, a carta em que uma amiga narrava a doença da mãe, com internações sucessivas, até o desenlace fatal, que trouxe muita tristeza para a família. Outra, fala da decisão de um primo em se tornar frei e se dedicar às famílias carentes nas margens do rio Amazonas e toda a sua luta para manter a vocação e sua fé.

Carta (e foto) dedicada a ela do ator Mário Lago que conheceu em Salvador, na Bahia, durante uma turnê teatral. Carta de um amigo falando das belezas de São Luís do Maranhão e do por do sol no rio Guaíba, numa viagem a Porto Alegre e de lá, a Buenos Aires, onde dançou tango e tomou um porre daqueles.

De uma tia recebeu cartão Postal de Ouro Preto, falando da arte barroca. De outra, uma lembrança de Aparecida, a Capital da Fé. De uma sobrinha, uma carta de recém – casada contando sobre o dia a dia em seu Lar Doce Lar, longe da presença da “mamã”. E assim, várias cartas prosseguem: livros e filmes inesquecíveis, jantares e carnavais em Poços de Caldas, passeios a pé ou a cavalo pela Chapada Diamantina, banhos de mar, em Guarujá, a repentina morte da cantora Elis Regina e shows memoráveis como o de Elizete Cardoso, de Edith Piaf,Dalva de Oliveira, Roberto Carlos, Ronie Von, etc.

Comentários sobre a novela Beto Rockefeler, de Bráulio Pedroso, na antiga TV Tupi, ainda em preto e branco,com a atriz Maria Della Costa,revolucionando o gênero. O autor morreu anos depois, de artrite generalizada. E muitas outras cartas e comentários sobre vários assuntos de épocas passadas, como a inauguração do MASP, o incêndio do Joelma, em São Paulo.

Uma das cartas, para finalizar, narra a visita, dois dias antes do atentado terrorista ao World Trade Center, prédio em NY, em 2001, pela neta, enfermeira, filha de uma sua amiga de Brasília. Separada,ela estava só, com o filho de 8 anos.A Síndrome de Pânico levou dois anos mais ou menos para acabar,mesmo assim com a ajuda de um terapeuta.

Depois de um sessão de leitura destas cartas, sempre com audiência renovada, ela se recolhe em seu quarto, dá um longo suspiro de saudade e sonha com tempos menos turbulentos, como os de hoje. Tempos idos e bem vividos revelados por cartas enviadas e recebidas pelos Correios.
Por tudo isso, é sempre bom, ver um carteiro (ou carteira) se aproximar de nossa casa e deixar uma carta remetida por alguém da família ou amigo querido. Verdade!

UM DOMINGO À LA AMARCORD OU A DENTADURA VOADORA DE DONA MARIA DA GLÓRIA


O dia em que a dentadura de dona Maria da Glória Leite da Costa, filha da baronesa de Mar D’Espanha (perto de Vassouras - RJ) voou pelo teto da sala de jantar, durante um almoço e briga feia do casal de anfitriões (um bafafá daqueles) pais de um grande amigo meu. Foi num domingo, no mês de março de 1959. Testemunha ocular, eu assisti tudo, com ar apalermado de pré adolescente. Nunca mais esqueci...

Querendo apaziguar os ânimos do casal em litígio, (aliás, viviam brigando por qualquer motivo) a filha da ex- Baronesa destituída de qualquer nobreza no começo da República, (final do século 19 e começo do XX) acabou levando a pior, (para vergonha de todos nós) tomando um safanão no rosto, deslocando a tal dentadura.

Lado a lado, todos nós, morrendo de vergonha, querendo contornar a situação, horrorizados, no entorno daquela farta mesa de macarronada, torta de frango, lagarto recheado, vinho Castelo, cerveja e guaraná Antarctica.

A dentadura foi cair exatamente dentro do copo com água onde ficava em cima de um criado mudo no quarto em que a ilustre hóspede, madrinha de minha irmã, dormia, naqueles dias, ainda sob os cuidados de sua fiel escudeira negra Nair, que eu também nunca mais vi. Nair deixou muitas saudades por sua extrema bondade, embora vivesse sempre muito irritada com tudo.

Ela sempre me tratava muito carinhosamente “o filho da dona Anita e seu Toninho”, apesar das bagunças que eu e seu filho Adilson fazíamos pelas ruas do bairro, próximo do Meyer, zona norte do Rio.

Maria da Glória sempre recordava para nós ter sido em sua juventude, professora primária do ex ministro Cirne Lima e do compositor popular Catulo da Paixão Cearense, aquele dos versos “noite alta, céu risonho, aqui tudo é quase um sonho”, etc, etc. etc... Ela nunca se casou, apesar de muito bonita, pele clara, olhos azuis e extrema finesse. Era durona com os alunos, afirmava para nós, adolescentes anarquistas, no mal sentido da palavra.

São lembranças de um pré adolescente e sua primeira embriaguês (pela vida) de jovem apaixonado, sonhando sempre ser um escritor no futuro. Por isso eu lia muito livros, jornais,revistas e fiz teatro no colégio, encenando peças como “ Eles Não Usam Black Tie”, do saudoso Gianfrancesco Guarnieri.Tempo de grandes descobertas.

Dona Maria da Glória nunca mais voltou àquela casa para visitar (pela primeira e única vez) familiares distantes. Ela era prima em segundo grau do avó materno deste meu amigo, por aí. Todos a chamavam de “Dona Neném”.

Mesmo por que morreu alguns anos depois, deixando como herança, a casa ( onde eu passava férias todos os anos), uma antiga cristaleira e um grande retrato oficial do presidente Getúlio Vargas que ficavam na sala. A casa confortável, cheia de lembranças, acabou sendo demolida para dar lugar a um Shopping.

E eu perdi para sempre minhas férias em Engenho de Dentro, onde seu irmão Gastão, solteirão e boêmio inveterado promovia memoráveis blocos carnavalescos no bairro. Um deles o bloco “Sovaco de Cobra”, onde os homens saíam fantasiados de mulher e vice – versa. Uma mistureba de libertinagem deliciosa, mas um escândalo naquela época, para as carolas e moralistas de plantão. Ainda.

Muitos anos depois, já bem adulto, vi o filme Amarcord, de Felini, num cinema de SP. Com sua genialidade de diretor, Fellini evocava passagens de sua infância e mocidade em uma pequena cidade do interior da Itália, antes e durante o Fascismo de Mussolini.

E lembrei-me daquela briga, na casa deste meu amigo que vivia terrível drama familiar, vendo os pais em constante desavença, sofrendo calado e só desabafando comigo, pois éramos carne e unha. A cena, cinematográfica, hoje hilária, ficou gravada em minha memória, apesar dos estilhaços cujas seqüelas a gente, por tabela, acaba levando para o resto da vida...

UMA BARBIE IDOSA EM CARNE E OSSO - VAIDOSA




Li na Folha de São Paulo, de domingo, dia 19 de agosto – Caderno 10 – Cotidiano, uma reportagem mostrando a “Casa da Barbie”, da moradora Cristiane Pichetti, de 34 anos, num Condomínio Residencial de classe alta, em Mogi das Cruzes. A casa, bem diferente das outras, virou atração turística local. Bonecas Barbie decoram jardim e o interior da casa. Todos param para tirar foto e filmar. A dona da casa fica muito contente com isso e se diz realizada, em seu sonho. A casa virou uma espécie de museu dedicado à boneca e que faz sucesso no mundo inteiro, adorada, como objeto de desejo , por meninas e adolescentes. E até adolescentes eternas



A reportagem me fez lembrar, de uma senhora, uma Barbie idosa, em carne e osso, sem tirar nem por, moradora de uma rua calma em minha cidade.Todos os dias, na tranqüilidade de sua aposentadoria como funcionária pública, fica no portão, impecavelmente vestida,bem arrumada, penteada e maquiada, vendo o passar dos transeuntes, horas a fio. É muito fina e educada, jogando conversa fora com todos, sobre os mais variados assuntos e ti-ti-tis do bairro e da cidade.



Também virou atração local. Uma boneca Barbie idosa, estimada por todos. E muito, mas muito vaidosa mesmo. Um verdadeiro exemplo de bem estar. Sempre muito animada, feliz. Filhos criados, netos idem. Memória viva de várias épocas. A vida passada a limpo e, com certeza, muitas lembranças amorosas, pois continua uma senhora bonita e agradável. Sem nenhum travo de amargura que muitas idosas costumam deixar transparecer na fisionomia cansada.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

O brasileiro que levou a Bahia (e o Brasil) para o mundo

No imaginário de brasileiros e estrangeiros, a Bahia é uma terra fascinante — impregnada de calor e vida, repleta de cores e sabores, habitada por uma gente alegre e festiva. Quem forjou essa imagem, usando apenas um dedo de cada mão para datilografar suas histórias, foi Jorge Amado (1912–2001). Se estivesse vivo, o escritor baiano teria completado cem anos na sexta-feira passada.


O Brasil está em meio às comemorações do centenário. Seus romances ganharam novas edições. Em horário nobre, o país vê uma nova adaptação televisiva de Gabriela, Cravo e Canela.

Na semana passada, o Congresso Nacional realizou uma sessão solene em que senadores e deputados federais homenagearam o romancista.

No Senado, a biblioteca abriga a exposição Centenário de Jorge Amado. Nela, o público conhece as primeiras edições de seus livros e algumas das versões publicadas fora do Brasil. Uma cronologia ilustrada com fotos de época leva a uma viagem pelos principais momentos da vida do romancista. A exposição termina na sexta-feira.


Fundação Jorge Amado no Pelourinho


Apenas no Brasil, Jorge Amado vendeu mais de 20 milhões de livros. Provou que best-sellers também podem ter valor literário. Sua obra chegou a mais 55 países, traduzida para idiomas que vão do russo ao catalão, do árabe ao guarani. Gabriela, Clove and Cinnamon, a versão em inglês, chegou a figurar na lista dos mais vendidos do New York Times.

— Ninguém mais que Jorge Amado mereceu, no Brasil, o Prêmio Nobel de Literatura. Que ele nunca tenha ganhado, considero não só uma das maiores injustiças com a literatura brasileira, mas também com o próprio Prêmio Nobel, por não ter entre aqueles que premiou a figura de Jorge Amado, um dos maiores escritores da Humanidade — afirmou o presidente do Senado, José Sarney, na homenagem do Congresso.

Na disputa pelo título de escritor brasileiro mais lido no mundo, Jorge Amado fica atrás apenas de Paulo Coelho.

No quesito adaptação para cinema e televisão, entretanto, nenhum romancista brasileiro conseguiu bater Jorge Amado. A lista de obras adaptadas é extensa. Basta citar Tieta do Agreste, Dona Flor e seus Dois Maridos e, de novo, Gabriela, Cravo e Canela, que foram transformadas tanto em telenovelas quanto em filmes. A mulata Gabriela e o turco Nacib, na versão cinematográfica, 30 anos atrás, foram vividos por Sonia Braga e Marcello Mastroianni.

Em seus romances, Jorge Amado descortinou várias Bahias. Uma diferente da outra, todas -marcantes. A Bahia rural ganhou vida com trabalhadores das fazendas de cacau, coronéis, jagunços e moradores de vilarejos provincianos. A Bahia costeira apareceu com capitães, pescadores e seus saveiros. A Bahia urbana surgiu em meio a pais de santo, boêmios, prostitutas, quituteiras e meninos de rua. Ele gostava de se referir a Salvador como “a cidade da Bahia”.

Em seu discurso na sessão de homenagem, a senadora Lídice da Mata (PSB-BA) afirmou que, graças a Jorge Amado, os próprios baianos passaram a ter uma nova imagem de si mesmos. Nesse ponto, ela colocou o escritor no mesmo patamar do músico ¬Dorival Caymmi (1914–2008):

— Jorge e Caymmi inventaram esta Bahia: terra da felicidade, terra da negritude. Isso contaminou a Bahia de tal forma que nós passamos a ter orgulho da negritude baiana.

Jorge Amado teve uma produção literária extraordinariamente intensa. Entre as décadas de 1930 e 1990, publicou três dezenas de obras. O senador Walter Pinheiro (PT-BA) acredita que seus livros, inclusive os mais antigos, jamais deixaram de ser atuais.

— A memória de Amado esteve sempre relacionada à valorização social e cultural do Brasil. Ele se envolvia nos debates com conceitos como democracia racial e povo. Tudo isso é refletido na tamanha aceitação de sua obra por diferentes públicos.

Nos livros didáticos de literatura brasileira, ele é enquadrado no modernismo — mais precisamente, no modernismo regionalista.

Do grupo, fazem parte a cearense Rachel de Queiroz, o paraibano José Lins do Rego, o alagoano Graciliano Ramos e o gaúcho Érico Veríssimo, que assumiram sem pudor os sotaques locais.

— Jorge Amado é o que se pode chamar de romancista bairrista e, ao mesmo tempo, universal. Ele mostrou que é possível dar asas a personagens do seu dia a dia e igualmente transformá-los em personagens do mundo — disse a senadora Ana Amélia (PP-RS).

Em 1961, a Academia Brasileira de Letras, entidade encarregada de cultivar o português do Brasil e a literatura nacional, finalmente reconheceu o talento literário de Jorge Amado. Ele foi eleito para a cadeira 23 — que tem José de Alencar como patrono e Machado de Assis como primeiro ocupante. Muitos reconhecimentos viriam depois, de prêmios pelo mundo a enredos de escolas de samba.

Tocaia

A vida de Jorge Amado, tão intensa, poderia ser confundida com uma bela obra de ficção.

Ele nasce numa fazenda de cacau em Itabuna, sul da Bahia. Com poucos meses de vida, é empapado pelo sangue de seu pai, alvo de uma tocaia nas próprias terras. O pai sobrevive. Ainda criança, é alfabetizado pela mãe.

Em Salvador, adolescente com extraordinária facilidade para escrever, trabalha em jornais como repórter policial.

Lança seu primeiro romance. Influenciado por Rachel de Queiroz, apaixona-se pelo socialismo e seus ideais de união e justiça — suas convicções ideológicas lhe renderiam muita perseguição. No Rio de Janeiro, forma-se em Direito, mas não chega a trabalhar com as leis. Suas obras começam a ser editadas fora do Brasil.

Casa-se pela primeira vez. É preso pela ditadura de Vargas e seus livros são queimados em praça pública. Exila-se no exterior. Separa-se. Conhece Zélia Gattai e passam a viver juntos. Pelo Partido Comunista Brasileiro (PCB), elege-se deputado federal na Assembleia Constituinte. É dele o histórico projeto que instituiu a liberdade religiosa no Brasil.

— Desde jovem, foi-lhe dado testemunhar a violência desmedida com que o Estado e a Igreja tentavam aniquilar os valores culturais provenientes da África. Havia discriminação religiosa. Pais e mães de santo eram presos, espancados e humilhados, e seus lugares sagrados eram invadidos e depredados — disse o deputado federal Roberto Freire (PPS-SP), que já fez parte do PCB.

Pouco depois, o “partidão” é posto na clandestinidade e Jorge Amado perde o assento na Câmara dos Deputados. Mais uma vez, agora com Zélia, parte para o exílio. Percorre todo o leste europeu.

Desilusão

Quando se inteira das atrocidades cometidas pelo ditador Josef Stálin — um de seus heróis — contra os adversários do comunismo soviético, Jorge Amado vê o chão desabar sob seus pés. Acorda, desiludido, de seu sonho quixotesco e abandona a militância política.

Mais tarde, por uma pequena fortuna, vende para Hollywood os direitos de Gabriela, Cravo e Canela. Com o dinheiro, compra um terreno no bairro do Rio Vermelho, em Salvador, para construir a casa onde moraria até o fim da vida.

As décadas rendem-lhe amigos do quilate de Pablo Neruda, Dorival Caymmi, Diego Rivera, Pablo Picasso, Glauber Rocha, Simone de Beauvoir e Jean-Paul Sartre.

A vida de Jorge Amado chegou ao fim em 6 de agosto de 2001, a cinco dias de completar 89 anos. Suas cinzas foram enterradas ao lado de uma mangueira no jardim da casa do Rio Vermelho.

Ele deixou um romance apenas iniciado. Na homenagem do Congresso, o filho do escritor, João Jorge Amado, subiu à tribuna para resumir essa história inacabada.

O escritor imaginava um coronel casado com uma mulher que enlouquece. Ele acaba se apaixonando por uma moça e tenta se casar com ela, mas o padre se recusa a celebrar a união. O coronel fica sabendo que o rei da Inglaterra, para se casar novamente, mudou a religião do país. Assim, ele importa um pastor e declara a sua cidade protestante. A população, que não ousa desafiar o coronel, converte-se. Concluiu João Jorge:

— Conto tudo isso aos senhores para mostrar como é grande a perda dele, que nos priva de ler essa história que não foi concluída e nunca será. É uma lástima.


Jorge Amado,em1990,na Cidade Baixa, Salvador

terça-feira, 14 de agosto de 2012

" 50 Anos sem nossa Estrela : Marilyn Monroe""

" O Pecado Mora ao Lado"!  SEMPRE..........

" A Vida é uma Janela Poética"!

Juliano Cazarré, 31 anos, ator Global: O Adauto da novela Avenida Brasil, em seu primeiro livro de poesias a ser lançado até o final do ano.
“ De todas as janelas do mundo, nenhuma é mais singela que a janela de um sorriso de uma criança banguela”.  ( Juliano Cazarré).





"A SOPA".


Durante muitos anos os moradores de Rua de São Paulo (Sem Teto) foram os únicos, talvez, a ter acesso àquela sopa altamente nutritiva preparada pelas mãos carinhosas e caridosas da irmã Carolina e sua dedicada equipe de freiras do Convento das Carmelitas. Sopas e caldos, em pequenas tigelas, capazes, como se diz no popular, “de levantar defunto.” Uma refeição, talvez a única do dia para muitos, que criava uma sensação de bem estar e aconchego.


Nem a idade já avançada a impedia de preparar em vários caldeirões, aquela refeição, que, nas noites frias da capital, chegava, como uma espécie de milagre, nos baixios das pontes e viadutos, aos famintos.
Principalmente para aquelas levas de pessoas desgarradas de suas raízes (muitos migrantes nordestinos e de outras regiões em busca de uma vida melhor) e que viviam como andarilhos pelas ruas, avenidas e praças da capital, sem ter ainda abrigos permanentes para morar, numa época em que a cidade comemorava o seu 4º. Centenário, no ano de 1954.
Eram conhecidos como “andantes” e “pedintes”, vivendo da solidariedade de pessoas anônimas. Albergues, os poucos que existiam, viviam lotados de pobres já naquela época.
A tarefa era feita também por fiéis voluntários, católicos ou não, que se tornaram conhecidos pelo discreto, mas sólido e constante, amor ao próximo.
A vocação para uma vida religiosa começou a ser sentida por Carolina ainda quando criança e se acentuou na adolescência. De família alemã, imigrantes da Bavária, seus pais chegaram ao Brasil e, de início, se instalaram no interior de Santa Catarina. A jovem Carolina aprendeu, com sua avó e com sua mãe a preparar caldos e sopas que eram distribuídas entre os integrantes da pequena colônia local. Mas também aprendeu a fazer outras receitas. Doces, bolos, tortas e salgados que conquistaram fama aos poucos. Já naquela época o Livro de Receitas de Dona Benta, também era conhecido em todos os lares e ajudava muito, em todas as cozinhas do Brasil afora.
No Convento, depois das missas e rezas, às 6 horas da tarde, as noviças e as freiras, não viam a hora de saborear a vigorosa sopa da Irmã Carolina, elogiada também pelos padres e coroinhas. Verduras e legumes, macarrão e as carnes, geralmente pedaços de músculo bovino, chegavam ao convento pelos doadores anônimos comerciantes que faziam questão absoluta disso.
A sopa de fubá, com ovos, couve rasgada e carne moída, com pitadas de pimenta do Reino era uma das preferidas de todos. “De se tomar rezando, de joelhos”, comentavam pessoas, não tão carentes assim, que se enfiavam, furtivamente, nas filas, para ter o raro privilégio de tomar um pouco da sopa.
Depois de certo tempo de observação, a equipe da Irmã Carolina, teve de tomar uma drástica providência: selecionar e distribuir senhas, avisando com firmeza que “as sopas são só para os muito carentes, por favor”. Fazia isso, é claro, com um pouco de dor no coração.
O sucesso da providencial distribuição de sopas aos carentes aumentou, no decorrer dos anos, a ponto de alguns chefes de cozinha recorrer ao convento para pegar as receitas e fazer fama em restaurantes chiques. Servidas com nacos de pão italiano. Sopa da Irmã Carolina, aparecia, discretamente, nos cardápios. Chique no “úrtimo”,não?!



O caldo de ervilhas com bacon parecia ter sido feito com mãos de anjos, pois as pessoas exclamavam “É da cozinha do céu, é de Deus”, de tão suave e revigorante que era. A sopa de abobrinha, com cubinhos de queijo e azeite, imaginem!, no frio das noites e madrugadas, tinha o dom de criar uma atmosfera de calor, satisfação e felicidade.Uma noite, uma dama da sociedade, parou, poderosa que era, com seu Cadilac, envolta num enorme casaco de pele, embaixo do Viaduto do Chá. “Quem é a Irmã Carolina?!
Alguns jornalistas da Folha de SP e da TV Excelsior, que estavam fazendo reportagem especial sobre a sopa da Irmã Carolina, comentaram: “Pronto, é agora que vai prendê-la por ser comunista!”Coisa, sem dúvida, que ela não era, naquele ano cruel de 1968, de perseguições,cassações, prisões e exílios políticos. Irmã Carolina, ao ser ordenada, tinha feito, isso sim, votos de pobreza absoluta. Apresentou-se, naturalmente, sem medo algum.
“Sou eu, em que posso serví –la, minha senhora.” Ah! Então é a senhora a famosa freira da sopa que todos estão comentando por aí ! Irmã Carolina tinha uma modéstia inigualável, mas era firme, não tinha medo de nada, nem dos poderosos, assim conhecidos. Pelo contrário todos a respeitavam.
E seus muitos conselhos, falavam diretamente ao coração e a mente das pessoas que, comovidas e consoladas em suas aflições e angústias, começavam a praticar orações e meditações, lembrando que “do pó viemos, ao pó voltaremos” e só subiremos aos céus pela infinita graça de Deus. E, sem sombra de dúvidas as sopas da Irmã Carolina,como uma espécie de milagre, colaboravam em muito nessa possível ascensão.
Resumindo a história, aquela dama rica queria mesmo era conhecer a irmã e provar de sua sopa maravilhosa, que, depois de algumas colheradas, revirava os olhos e exclamava Hum! que bela e deliciosa sopa, parabéns irmã Carolina, nunca provei iguaria tão gostosa! Naturalmente ficou muito amiga de Irmã Carolina. As polpudas doações daquela senhora (em dinheiro e produtos) ajudaram muito, mas a amizade ficou acima de tudo. Com muita sabedoria Irmã Carolina sabia deixar as coisas em seu devido lugar.

A irmã sentiu-se consagrada naquela noite inesquecível, mas não perdeu a modéstia. Só relembrou sua adolescência, num flash da memória, a horta da colônia, onde, enfiando a mão na estimulante terra preta, colhia cenouras, batatas, inhames e outras verduras e legumes e o fogão a lenha da pequena casa onde morava com seus pais e cozinhava as suas sopas, que, ao longo de sua vida de religiosa, distribuía aos pobres e aos não pobres, igualmente, sem distinção de classe social.

Sopas encantadas, vitaminadas, verdadeiras lições de vida e de humildade, para todos que serviam e recebiam naquelas noites geladas, de garoa paulistana, onde parecia que o frio penetrava até nos ossos. Sopas que aqueciam o corpo e a alma.

A Prefeitura de SP adotou a iniciativa e até hoje as sopas da Irmã Carolina são compartilhadas como um inesperado luxo, nas noites frias, nos acolhedores abrigos. Sopas (segredos culinários de família) como a de agrião com azeite de tomate seco, sopa completa de mandioca, de maçã, gengibre e mandioquinha, sopa de abobrinha com farinha de peixe, de macarrão Ave Maria com lingüiça e beterraba e outras dignas dos mais famosos gastrônomos e restaurantes desta Terra de Nosso Senhor.

No céu, Irmã Carolina, com certeza, continua sua obra, distribuindo suas generosas sopas aos anjos da Guarda de todos nós. AMÉM!!!


SOPA COMPLETA DE MANDIOCA.

1 colher de sopa de óleo, uma cebola picada, 250 gramas de músculo em cubos pequenos, meio quilo de mandioca sem casca, cortada em pedaços pequenos, uma cenoura grande em rodelas, 3 tabletes de caldo de carne, 2 xícaras de (chá) de escarola picada ( ou agrião), 2 colheres (de sopa) de cebolinha verde picada.
MODO DE PREPARO

Em uma panela de pressão, aqueça o óleo, refogue a cebola. Junte os pedaços de carne e refogue por 10 minutos. Acrescente a mandioca, a cenoura, dois litros de água quente e os tabletes de caldo. Misture bem, tampe a panela e cozinhe por cerca de 30 minutos após pegar pressão ou até que a carne fique mais macia. Desligue o fogo, espere sair toda a pressão, abra a panela e bata metade da sopa no liquidificador. Volte a sopa batida à panela, junte a escarola (ou agrião), misture com a sopa restante. Aqueça por cerca de 5 minutos ou até ferver. Sirva polvilhada com a cebolinha. Rendimento: 10 porções.



NÃO SE ESQUEÇAM DE AGRADECER A IRMÃ CAROLINA!!!

terça-feira, 26 de junho de 2012

"TRECHOS DE UM DIÁRIO - NEM SEMPRE..."





11/06/2012 – segunda feira


O sol até apareceu. Forte. Mas, por volta das 10 horas, começou a chover e assim foi praticamente dia todo, com pancadas esporádicas e aguaceiro lavando o céu e a terra. Fiz os serviços rotineiros: cuidar dos dois cães, limpar o quintal, a varanda e a casa. Tomei café cedo e almocei lá pelas 3 horas.Fiquei vendo a natureza, sentado na varanda, meditando sobre a minha vida.

Pensei nas pequenas comunidades e cidadezinhas da Serra da Mantiqueira, a “serra que chora”, pela grande quantidade de córregos e ribeirões que desce dela. Um pouco de frio após a chuva. Aos pouco, creio, vou me reconciliando com Deus, que está dentro de nós, pura energia, e em todo lugar. E agradeço, silenciosamente por mais um dia.


12/06/2012 – terça feira

Meio preguiçoso o sol apareceu. Doei 2 pares de tênis e alguns agasalhos para a campanha de Inverno,no Postinho de Saúde do bairro. Dia dos Namorados, muitas compras e pouco afeto nos shoppings, frios templos do consumismo que cada vez mais domina as pessoas.
Na rua, nos ônibus, em qualquer lugar o uso de celulares é cada vez maior, impedindo as pessoas de se comunicarem. Semblantes cotidianos, sem querer, escutamos trechos das conversas das pessoas, Assuntos íntimos ou banais. Pequenos compromissos e dramas da vida.
Pelo trajeto do ônibus urbano, obras, demolições e até esqueletos enferrujados de um carro alegórico do último carnaval abandonado num térreo baldio (um maestro regendo uma pequena orquestra aos pedaços). A poesia flash de uma cidade em crescimento, com levas de gente se mudando para cá, trazendo na bagagem sonhos e histórias de vida. No final da tarde, vi o mais lindo por do sol pós chuvas, com suas cores cambiantes prenunciando a chegada de mais uma noite.Quero ter calma, paciência e decisão. E não temer nada, pois Deus está comigo, comigo sempre. Obrigado por mais um dia.

13/06/2012 – quarta feira
Poemas do Pequeno Oratório de Santa Clara( e São Francisco) me enternecem a alma, De autoria de Cecília Meireles, um punhado de profunda ternura. Fui de SJC a Caçapava, via Eugênio de Melo. Bairros industriais, operários, pequenas capelas e a pequena e antiga estação da localidade, completamente abandonada. E pensar que por esta linha férrea passou muita entre SP e Rio (EFCB) desde meados do século 19. Velhas lembranças familiares me ocorreram durante este pequeno passeio. Um dos meus tios serviu militarmente em Caçapava, lá pelos anos 30.
14/06/2012 – quinta feira
Passei por Guararema a caminho de Mogi e admirei mais uma vez o pequeno recanto de Pau D’Alho, junto ao rio Paraíba, as rochas submersas e suas corredeiras, um lugar de encantadora serenidade bem no centro desta cidadela. De Mogi segui, sem estar programado, até Salesópolis. O motorista do ônibus me orientou e agora sei o caminho. Fiquei impressionado com a imensidão do“cinturão verde”, cultivado por “japoneses”. E as pequenas estradas com nomes de seus proprietários rurais de origem nipônica.
Vi a represa do rio Paraitinga. Um trecho do rio Tietê, o distrito de NS dos Remédios, Biritiba Mirim com muita gente simples do meio rural circulando e vários estudantes indo ou voltando das escolas. Do Banco do Povo trouxe vários folhetos turísticos de Salesópolis, onde ficam as nascentes do rio Tietê e uma pequena e antiga usina hidrelétrica, hoje Museu da Energia.
Este passeio serviu também para me relaxar e tirar da cabeça temores e preocupações desnecessárias.
15/06/2012 – sexta feira
Cedo fui fazer teste ergométrico, o sol apareceu e esquentou bem o dia. Peguei jabuticabas e almocei de marmitex, pois a filha de minha vizinha e seu namorado estão começando n o negócio para ganhar a vida. São bem jovens, tudo dará certo com certeza. A comida caseira estava bem gostosa e eu de saco cheio com fogão. Dei um tempo. Valeu.
De noite fui assistir a abertura e palestra da 9ª. Semana Espírita na Câmara Municipal. Um belo coral de músicas sacras me aliviou a alma e pude dormir bem, com as mensagens de amor, ternura e paz, proferidas por uma psicóloga reconhecida no Brasil e no exterior.
Trouxe leituras para entender um pouco mais da filosofia espírita,com o objetivo de me reencontrar, de me sentir mais próximo de Deus, da fé e da espiritualidade que tento cultivar diariamente. Quero alcançar equilíbrio emocional para resgatar a alegria de viver e a felicidade que Ele nos dá.
E que estou aprendendo a agradecer a todo momento. Nessa empreitada a natureza tem me ajudado muito. Por isso gosto de São Francisco Xavier e outros lugares como Jambeiro, Paraibuna e Monteiro Lobato...

16/06/2012 – sábado
Assisti duas palestras – cedo e a tarde – sobre a espiritualidade dos animais e sobre a comunicação correta com o cineasta, diretor do filme “O filme dos Espíritos” As duas foram bastante esclarecedoras a respeito da doutrina espírita. Me emocionei, juntamente com outras pessoas, que têm verdadeiro amor pelos animais domésticos.
E aprendi mais um pouco sobre esses nossos “irmãos menores”. E de noite fui ao Museu assistir um concerto lírico com o tenor Paulo Abrão Esper e a pianista Maria Rasseti. Encontrei amigos. Foi uma bela noite cultural. A música sempre faz um bem danado ao corpo e a alma. Obrigado.
17/06/2012 – domingo
Levantei – me às 8,30. Um belo e grandioso dia de SOL. fiquei vendo um pouco na TV – a programação do evento Rio + 20 sobre Desenvolvimento Sustentável e o Meio Ambiente. Será que dará bons frutos e mais conscientização do homem no sentido de preservarmos a natureza e garantir a vida no planeta Terra? Fico entre otimista e pessimista sobre esta questão. Vamos ver!
18/06/2012 – segunda feira
Ler e escrever sempre, entre outras atividades prazeirosas, faz bem ao coração e a mente. Por isso quero perseverar nessa disciplina. Que Deus me ajude. Obrigado. As impressões de mais um dia...Mais uma semana que começa.
Hoje é dia da estréia de “Gabriela”, na Globo. Com Juliana Pais e grande elenco. O horário é um pouco tarde, mas é bom rever os personagens consagrados nas comemorações dos 100 anos de nascimento de Jorge Amado, o grande escritor baiano, internacionalmente conhecido por suas obras literárias. A Bahia de todos os santos e dos velhos tempos dos coronéis e retirantes da seca.
19/06/2012 – terça feira
Colhi mais jabuticabas, vi que alguns maracujás estão vingando no pé, meditei e orei, pensando na família e nos amigos. Li jornais e revistas. Deus é Luz. Permanentemente.

20/06/2012 – quarta feira
Como estava previsto começou a chover de madrugada e assim foi o dia todo. “A arte é necessária para que a verdade não nos destrua.” Li a carta de um amigo de muitos anos que mora em João Pessoa, na Paraíba. Uma carta amável, com fotos da praia de Ponta Negra, um lugar lindo, no Nordeste. Revi, motivado, antigas fotos de outros passeios memoráveis. O Brasil é um grande país. Por isso recebe muitos turistas de fora.
Emoção é um estado da mente que se manifesta através de nítidas alterações no corpo. Pó isso temos que aprender a lidar, diariamente,com nossas emoções, para ter mais saúde. Um dos muitos conselhos de auto ajuda – “Nas horas difíceis, visualize-se no meio de um imenso jardim e deixe que as flores perfumem e embelezem sua vida”. Faça isso e verá o resultado positivo.
21/06/2012 – quinta feira
Fatos banais do cotidiano tem sua poesia. A poesia rudimentar de vidas vivendo por viver, sem muitos detalhes, É a luta pela sobrevivência. Trechos de conversas nas ruas dão conta disso. Pequenas obras primas da luta diária de todos, com ou sem afeto, Alegrias ou preocupações, todos tem direito a um lugar ao sol.

ECO – Cantara ao longe Francisco, jogral de DEUS, deslumbrado.Quem se mirara em seus olhos, seguira atrás de seu passo!( Um filho de mercadores pode ser mais que um fidalgo,se DEUS o espera com seu comovido abraço...)Ah! Que celeste Destino, ser pobre e andar a seu lado!Só de perfeita alegria levar repleto o regaço!Beijar leprosos, sem se sentir enojado!Converter homens e bichos!Falar com os anjos do espaço!...(Ah! Quem fora a sombra ao menos, desse jogral deslumbrado!)
CLARA – Voz luminosa da noite, feliz de quem te entendia!(Num palácio mui guardado,levantou-se uma menina:já não pode ser quem era,tão bem guarnida, com seus vestidos bordados,de veludo e musselina;já não quer saber de noivos:outra é a sua vida. Fecha as portas, desce a treva, que com seu nome ilumina.Que são lágrimas?Pelo silêncio caminha...)Um vasto campo deserto,a larga estrada divina!Ah! feliz itinerário!Sobrenatural partida!
VIDA – Do pano mais velho usava. Do pão mais velho comia.Num leito de vidas secas, e de cilícios vestida, em travesseiro de pedra, seu curto sono dormia.Cada vez mais pobre tinha de ser sua vida, entre orações e trabalhos e milagres que fazia, a salvar a humanidade dolorida.Mãos no altar, a acender luzes, pés na pedra fria. Humilde, entre as companheiras; diante do mal destemida, Irmã Clara em seu mosteiro tênue vivia.

(Trechos do Pequeno Oratório)
E viva Cecília Meireles com sua magnífica poesia a nos iluminar o dia a dia! Palavras guardadas no coração como uma lição divina!



quinta-feira, 7 de junho de 2012

A doce canção




Pus-me a cantar minha pena
com uma palavra tão doce,
de maneira tão serena,
que até Deus pensou que fosse
felicidade - e não pena.

Anjos de lira dourada
debruçaram-se da altura,
Não houve, no chão, criatura
de que eu não fosse invejada,
pela minha voz tão pura.

Acordei a quem dormia,
fiz suspirarem defuntos,
Um arco - íris de alegria
da minha boca se erguia
pondo o sonho e a vida juntos.

O mistério do meu canto
Deus não soube, tu não viste.
Prodígio mesmo do pranto;-
todos perdidos de encanto,
só eu morrendo de triste!

Por assim tão docemente
meu mal tranformar em verso,
oxalá Deus não o aumente
para trazer o Universo
de polo a polo contente!

 CECÍLIA MEIRELES - Antologia Poética

O DESTINO DO ETERNAL HOPE



(Histórias do mar sem fim)

Era um velho cargueiro de bandeira panamenha que sempre atracava no porto de São Sebastião, Litoral Norte de SP e aí permanecia por vários dias. Já tinha cruzado os sete mares e hoje, meio enferrujado, rangia no embate das ondas no cais, onde ficava amarrado com aquelas grossas cordas. O comandante a bordo e seus oficiais preferiam passar noites e madrugadas enchendo a cara de cerveja e ouvindo todo tipo de música popular brasileira e americana dos bons tempos, no Lorde Jim, um bar a beira mar, na pequena Vila de São Francisco. Já marujada gostava mesmo era das badernas e das garotas de programa no Boteco do Capitão no lado norte de Ilhabela, bem ao lado do pequeno Museu dos Naufrágios.

Eternal Hope ou Eterna Esperança, era o nome deste cargueiro. Segundo a lenda dos navegantes era uma espécie de “Navio Fantasma”, que já tinha naufragado na Ponta de Piribura, ao bater numa madrugada, durante uma forte tempestade, numa laje submersa. Os caiçaras, que tinham prática de mergulhar em profundidade, retiraram uma preciosa carga de barras de ouro de seu casco e, no meio da selva, ergueram uma cidadela chamada Eldorado, onde praticavam estranhíssimos rituais, nas noites claras de Lua Cheia. Perto de um cemitério onde foram sendo enterrados os afogados que apareciam nas praias, dizem que apareciam alguns ETS(?) Várias fotos do navio mercante estão no Museu do Mar, em São Sebastião e no Museu dos Naufrágios.



A história do Eterna Esperança ( afinal porque tinha esse no me?) é incansavelmente contada pelo estagiário Bruno, no museu, junto com a história do “Príncipe das Astúrias”, navio espanhol que afundou no mesmo local em 1916, o chamado “Titanic Brasileiro”. O Eternal Hope seria mesmo um navio e tripulação fantasmas?! Mistérios que perduram até hoje.Um escritor grego, que há muitos anos mora na ilha, também gosta de contar esta história, acrescentando detalhes como a desilusão de um de seus comandantes que, na juventude teria se apaixonado perdidamente pela famosa pintora mexicana Frida Khalo, antes de ser atropelada por um carro que a deixou paraplégica. No convés da velha embarcação sua alma (penada?), costumava aparecer dedilhando um violão e cantando tristemente velhas canções de amor perdido para sempre nas rotas dos Sete Mares.Jovens e até mesmo idosas prostitutas, passeando pelo cais, em busca de marinheiros, choravam copiosamente, ficando repentinamente melancólicas lembrando capítulos de suas vidas pelos prostíbulos em portos do Oriente e do Ocidente




















sexta-feira, 23 de março de 2012

UMA MÃE DE SANTO CHAMADA DONA DÊ


Dê, de Delícia. Mãe Delicinha. Coisa estranha achavam os parentes! Toda vez que a menina Delícia, nome dado pela mãe, não se sabe muito bem porquê, passava por uma banca de doces de uma baiana conhecida, perto do Mercado Modelo,em Salvador, tinha desmaios e ficava salivando. Alguém tinha de socorrê-la com um pedaço de cocada branca ou preta. Delícia aos poucos voltava a si, como num sonho, depois de ter balbuciado algumas palavras desconexas.

Demorou para as pessoas da família e conhecidos acharem que aquilo “era coisa de Santo” e que a menina, com cinco anos mais ou menos, uma graciosa alemãzinha, de profundos olhos azuis, recém chegada ao Brasil, em l943, tinha que “desenvolver sua mediunidade” num dos muitos terreiros da Bahia. “A menina deve ser prometida de Cosme Damião ou de algum santo ou orixá (Ogum de Beira Mar?) ligado a criança que gosta de guloseimas”, falavam as vizinhas de Dona Marlene Dietrich e Gustave Van Heinreid pais de Delícia.


Assim que chegaram ao Brasil, desembarcando de um navio holandês, no porto de Salvador, fugindo do Nazi Fascismo ( Hitler já dominava a Europa), o casal se encantou com o calor e com a diversidade colorida da nova terra que pretendiam adotar. Com certa dificuldade, por causa da língua portuguesa e dialetos que as pessoas falavam, principalmente os negros e negras, que, sem sombra de dúvida, eram extremamente corteses e sorridentes, acharam um pequeno sobrado na Baixa do Sapateiro, onde passaram a morar. Todos achavam bem diferente aquele casal muito branco e também bem educado.

A dúvida era como eles iam se adaptar ao calor dos Trópicos e às comidas típicas da região? Foi assunto por muitos meses. Por fim, acabaram de acostumando. Havia uma pequena colônia de refugiados alemães perto da casa do escritor Jorge Amado e sua mulher Zélia, no bairro do Rio Vermelho. Ambos caíram de amores pelo casal, principalmente Zélia Gattai, descendente de italianos de São Paulo e que estava receosa do que estava acontecendo na Itália de Mussolini, onde ainda moravam vários de seus parentes.

Jorge Amado integrava o Partido Comunista e não gostava nenhum pouco do ditador Getúlio Vargas, que governava o Brasil, naquela época e que só apoiou os aliados depois que o presidente americano Roosevelt visitou o Brasil e recebeu dele um puxão de orelhas político fazendo-o lembrar que a “América é dos americanos”.

O resto a história conta com mais detalhes. Voltemos ao cotidiano da menina Delícia, que foi crescendo com várias meninas e meninos negros, brancos e mulatos da “Roma Negra”, nome dado a Salvador pelo antropólogo francês Pierre Verger, um dos muitos estrangeiros que adotaram a enorme afetividade brasileira (brasilidade).

Todos, em Salvador, já sabiam dos desmaios (ou incorporação) da menina Delícia toda vez que via uma baiana vendendo doces pelas ruas da cidade. A manifestação de dava com mais intensidade, quando os pais levavam Dê para passear no Pelourinho. Quando saíam de uma das mais antigas igrejas da Cidade Alta e passavam pelo Terreiro de Jesus, a menina, começava a chorar e a sentir-se estranha. “Quero doce, quero doce, mãe, me dá doce!”.


Nem mesmo os doces alemães (bolos, biscoitos, apfelstrudel e tortas) que a mãe fazia em casa satisfaziam a menina que se deliciava mais com os doces da terra. Arroz doce, quindin, cocada, canjica, pé de moleque, pudim de tapioca com baba de moça, doce de caju cristalizado etc. Ela comia com gosto. O casal era luterano e tinha ainda um certo pudor ou receio, em levar Dê a um Candomblé, conforme recomendava já algumas amigas do casal. Principalmente Djanira, uma artesã e pintora popular, que morava perto da Igreja de Nossa Senhora Conceição da Praia e que todos os anos participava da lavagem da Igreja de Nossa Senhora do Bom Fim.


Ela e algumas senhoras da “sociedade” freqüentavam o casal que já falava um pouco português, aprendendo com elas o linguajar do cotidiano, carregado de gírias e misticismo.”Mas me diga minha comadre como é que a senhora foi dar justamente o nome de Delícia para sua filha, me explique isto, Ó xente!” E acrescentou que delícia aqui a gente fala quando come ou acha alguma coisa muito gostosa e que dá grande prazer. Daí a gente fala “Hum que delícia!” Um pouco difícil foi explicar a expressão relativa ao amor, ao sexo, conforme canta aquele cantor popular que está fazendo muito sucesso atualmente “Delícia, delícia, assim você me mata, ai se eu te pego!”.

Mas quando aquelas senhoras nem tanto pudicas de outrora e as negras maliciosas conseguiram, finalmente, explicar para aquela alemã, já com alguns anos no Brasil, foi só gargalhada e frivolités meio lascivos, como se estivessem num cabaré. Só de senhoras e senhores.

Foi numa noite de calor, diante de uma farta mesa de doces e salgados alemães e baianos, com um pouco de vinho do Porto e cerveja (o casal sentia saudades da terra de origem, é inegável). Noite de lua cheia e seresta inesquecível –como aquela de Catulo da Paixão Cearense – “Noite alta, céu risonho, aqui tudo é como um sonho...” Todos se esforçaram para integrá-lo na nova terra que recebe amorosamente, de braços abertos, quem aqui chega, de onde vier, como o Cristo Redentor, no alto do Corcovado, no Rio de Janeiro.

A menina Delícia já estava com quase nove anos, e embora estudando no tradicional Liceu Bahiano, da elite de Salvador, já estava se misturando até como os “Capitães de Areia,” (meninos de rua ou das praias, que viam nela uma espécie de Vênus platinada mitológica), quando, num ato determinado, próprio da cultura germânica, o casal Marlene Dietrich e Gustav ( está explicado, a mãe dela dera o nome daquela artista de cinema famosa – O Anjo Azul - e a tinha influenciado dar o nome de Delícia para a neta, com certeza, coisas de família,daqui e de lá!) decidiram levar a menina a um terreiro para desvendar o mistério dos seus desmaios.

Toda de branco, a menina e seus pais, acompanhados de um grupo de 10 pessoas, incluindo aí Jorge Amado e Zélia, Djanira, Caribé e também três integrantes da colônia alemã da capital e que não tinham mais preconceitos sobre os ritos afro brasileiros, foi levada ao Terreiro de Mãe Menininha de Gantuá, no bairro da Federação, depois do Dique de Itororó.


Foi só vê-la e Mãe Meninha já disse tudo, do passado, do presente e do futuro de Delícia, conforme sua enorme sabedoria e bem querer. Chorou copiosamente abraçando-a, afagando seus cabelos loiros e admirando seus enormes olhos azuis. A menina não se assustou num um pouco, como se estivesse há muito tempo a procura desta estranha ( para ela ) afetividade religiosa. “Oi, mãe”, disse Delícia, deixando todos muito comovidos, chorando e cantando, todos naquela enorme roda de Orixás e seus filhos e filhas, cheirando a alfazema, filigrana de fraternidade infinita. “Fia, não tenha medo, a gente já estava esperando por você, há muito tempo,” disse Mãe Menininha.

Noite memorável para o sincretismo religioso da Bahia. Noite de rezas, cantos e cantigas. Seguindo o Candomblé, a partir daquela época, Dê se tornou, aos poucos, o braço direito daquela Mãe de Santo, que, muitos anos depois, pouco antes de morrer, delegou a ela seus poderes mágicos e a nomeou Mãe Dê Delícinha de Gantuá, de cabelos de ouro e olhos de safira, a primeira mãe de santo alemã em terras brasileiras.Guardiã de todas as doçuras pelo mundo afora, muito venerada e procurada até hoje, com quase 80 anos.

UM CONTO DE AMOR NA “INGLESA”


Diziam que os túneis eram mal assombrados. Fantasmas de antigos ferroviários mortos em acidentes durante a construção da Ferrovia Santos – Jundiaí, também conhecida como “A Inglesa”, costumavam aparecer em determinados dias, assustando as pessoas que moravam na Estação de Paranapiacaba, no alto da serra, em Cubatão, a caminho do mar.
Mas era neles que Mary e Jefferson, crianças ainda, costumavam se encontrar, depois das brincadeiras: jogo de bola, empinar pipas ou ainda balançando nas árvores da Mata Atlântica exuberante. Nas cachoeiras do trecho tomavam um banho refrescante e quase ao anoitecer pegavam “carona”, para voltar para casa, em algum trem subindo para São Paulo, com passageiros (muitos imigrantes japoneses, italianos,espanhóis, sírios libaneses, etc). Na descida, gostavam de encurtar o passeio (sempre uma aventura cotidiana depois da escola),subindo nos trens de carga, carregados com sacas de café para embarque no porto.

Mary era filha de um maquinista inglês casado com uma caiçara de Bertioga e Jefferson, filho de um inglês, chefe da Estação e uma jovem de Santa Bárbara D’Oeste, cujos avós eram norte – americanos (ianques),descontentes com a derrota dos sulistas,na Guerra de Secessão e que tinham entrado no Brasil pelo litoral. O forte encantamento das praias não impediu que eles subissem para São Paulo, a capital em grande expansão. Parentes de Mary e Jefferson até hoje moram no bairro de Santo Amaro.
A rígida educação de Jefferson não impediu que, já no começo da adolescência, namorasse Mary, cuja mãe por ser nativa, não era vista com “bons olhos”. Era o preconceito disfarçado, na época (entre 1910 e 1925) entre os moradores daquela vila. O pai dela sempre repudiava qualquer manifestação desse tipo, eterno namorado que era da esposa brasileira, que sempre tratava com grande respeito. Viviam apaixonados um romance que começou ainda aos 18 anos quando ele veio trabalhar na ferrovia, vivendo a primeira grande aventura de sua vida, ao atravessar o Atlântico, num navio cargueiro.

A amizade vivida entre Mary e Jefferson se tornou paixão, aos 13 anos, mais ou menos, quando a troca de olhares e o aperto de mãos se tornaram mais intensos. Ficavam juntos o tempo todo, separando-se aos poucos dos outros adolescentes que costumavam se reunir na pracinha da vila, sempre ao entardecer, para admirar o por do sol. E trocar juras de amor e furtivos beijos.
Quando terminaram o ginásio em Paranapiacaba tiveram que vir para São Paulo,onde haviam o Colégio Mackenzie e o Anglo Americano para filhos de ingleses, pois ambos pretendiam continuar os estudos.Ambos moravam em pensionatos diferentes, mas se encontravam sempre aos fins de semana, para namorar, indo ao Cine Metro, na avenida São João. Pelo menos uma vez por mês pegavam o trem na Estação da Luz e iam ver os pais, pois a saudade batia forte.


Quase na fase adulta, já perto dos 23 anos e faltando pouco para a formatura. Ela, enfermeira padrão e ele jovem engenheiro mecânico, decidiram ficar juntos para sempre, pois era grande o amor entre eles. Foi depois de uma matiné no Cine Metro, num sábado, de Agosto, que eles decidiram que já era a hora de se conhecerem mais.Tinham acabado de assistir, o filme “A Deusa do Canal” com Jean Harlow e Ramón Navarro. Num discreto hotelzinho do Campos Elísios, de propriedade de uma vivida senhora francesa, conhecido por receber estudantes apaixonados, selaram a união para sempre. Mary e Jefferson se entregaram um ao outro, ambos virgens na questão de sexo. Foi uma noite de sonhos para ambos, que só despertaram daquela magia por volta do meio dia de um domingo cálido de inverno. E com muita fome.


Pareciam de novo, aquelas crianças que brincavam dentro dos túneis supostamente mal assombrados naquela ferrovia “Inglesa”, no alto da serra de Cubatão.
“Não importa o que acontecer, meu amor, vou te amar para sempre”, frisou Jefferson. Mary confirmou também sua intenção selando o compromisso com um longo e doce beijo, ambos abraçados no quarto. O hilário foi que durante “a batalha do amor”, lá pelas tantas da madrugada, ambos caíram da cama e foram parar no chão, entre risadas.

De manhã, sonolentos ainda, na mais perfeita paz que dois seres humanos enamorados podem curtir, da janela aberta viram o pico do Jaraguá ao longe e ouviram o longo apito de mais um trem em direção ao interior paulista, saindo da Estação da Luz, com certeza o destino certo ou incerto de muitos outros casais apaixonados começando uma vida nova.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

A NATUREZA TE CONTEMPLA COM UM GRANDIOSO ESPETÁCULO PELAS MANHÃS E ELA NEM TE COBRA POR ISSO...

Carnaval 2012



Nessa Folia: Pule, Cante, Dance, Sorria, Alegrias.... sem violência - nós também pedimos Paz!

Reflexão

“PORQUE HÁ O DIREITO AO GRITO, ENTÃO EU GRITO”

"O QUE É VERDADEIRAMENTE IMORAL É TER DESISTIDO DE VOCÊ MESMO”

"LIBERDADE É POUCO. O QUE EU DESEJO AINDA NÃO TEM NOME”

..................(Clarice Lispector).........................
SE AQUELA BRASTEMP FALASSE!...

(Com saudades de Dercy Gonçalves. E bota saudades nisso!)



Eram três irmãs viúvas fogosas, na faixa dos 45 a 60 anos. Adalgisa(veterinária, quase foi miss Brasil em 1936), Ruthnéia ( bem aposentada pela CEF) e Lindonice (enfermeira também aposentada,mas da Aeronáutica). Nascidas no interior de Minas Gerais acabaram morando no Rio de Janeiro no final dos anos 40. Ficaram casadas mais ou menos uns 25 anos, despachando seus maridos desta para melhor, tendo já os filhos e filhas criados e os netos e netas também.

Por força da criação familiar nunca foram dadas a dramas muito sentimentais. A avó e a mãe delas eram “secas, não se abrindo muito diante de pessoas desconhecidas”. E quem sabe bem lá prá trás, algumas ancestrais que viveram entre o Sudeste e o Nordeste, no vai e vem das vidas passadas no “trem bão” e “paus de arara” deste país quente e colorido, também tivessem sido assim. “Tudo são águas passadas... morreu, morreu, fazer o que, minha filha!” Mais ou menos assim, como marca registrada. Não suportavam as falsas carolas, “destas que ficam enfiadas dentro das igrejas, mas na verdade estão atrás de fofocas, de disse me disse”, que também é tradição neste vasto país de Deus e o Diabo na terra do Sol”. Vai ver!

Choraram sim as perdas e danos da vida, mas como todos sabem ela continua sempre e esta é a principal lição que podemos tirar, desta estrada, às vezes reta, às vezes tortuosa, com momentos de extrema felicidade e outros, tristes e cheios de incertezas. Só não eram “viúvas alegres”, pois eram mais ou menos recatadas. Irônicas sim, não perdiam oportunidade para fazer comentários sobre a vida alheia, mas nada que ofendesse os princípios da boa vizinhança e da moral vigente. Só uma vez, Adalgisa pisou na bola com uma das filhas, numa festa de aniversário de 18 anos, quando um dos namorados se esforçava DEMAIS para lembrar quem eram seus pais,figuras conhecidas da alta sociedade do Rio, donos de uma emissora de Rádio e TV famosas. A filha quis morrer naquele dia, com a resposta dada ao rapaz pela mãe. “Não precisa se esforçar tanto não, meu filho, pois aqui até o presidente da República passa despercebido!” MAMÃAAEEEEE, só conseguiu dizer a filha, acabando de perder mais um partidão, pensando em namoro sério e casamento, essas coisas.”

As três viúvas gostavam também de algumas piadas meio que sórdidas para levarem a vida “numa boa”, conforme costumavam dizer em seus chavões hilários. Entre eles, o famoso “vai que é mole” ou “vê se não enfia o pé na Jaca, querida!”Costumavam lembrar as comédias de Dercy Gonçalves que tinham assistido no auge da Praça Tiradentes. Não riam muito na hora, pois estavam acompanhadas de seus distintos maridos, mas depois, entre quatro paredes, riam de se mixar. Os maridos, estes sim, podiam se escangalhar de rir nas poltronas do teatro Rival ou na Cinelândia, quando passava alguma chanchada da desbocada atriz, recentemente lembrada numa mini-série de TV baseada na biografia “Dercy de Cabo a Rabo”, da escritora Maria Adelaide Amaral.


Viúvas, Adalgisa,que morava num bom apartamento em Copacabana,herdado do marido um novo rico da época, Ruthnéia,que morava no Meyer e Lindonice, na Tijuca, marcavam encontro um sábado por mês à tarde para “bater perna no centro do Rio ou colocar as novidades em dia”, tranqüilas, passeando na Galeria Central e depois tomar um chope no Amarelinho ou um chá na Confeitaria Colombo, conforme o humor delas.

Era um Rio no ano de 1960, deixando de ser Capital Federal, de mudança para Brasília, no governo JK, o “presidente Bossa Nova”. Portanto uma “Cidade Maravilhosa” que mantinha ainda um pouco do conhecido charme carioca, embora muitas vezes, de dia faltasse água e de noite faltasse luz. “Imaginem vocês JK querendo governar 50 anos em 5, ele, tá é doido, esse homem!, não consegue botar ordem nem na casa dele”, comentavam.

Como tinham curso superior, entendiam e acompanhavam a política da época. E proferiam palavras abjetas se referindo aos políticos e suas ações corruptas no calor de uma discussão, no calor do verão carioca entre um chop e outro, no caso ( da Brahma é claro). Mas se fosse na Colombo mediam as palavras e só falavam de moda e dos “bonitões da tela”, de um ou outro filme da Atlântida ou da Metro em cartaz. Tomavam seu chá com discrição e elegância (propositalmente um pouco afetadas é claro!) com pitadas de ironia vendo tal e tal fulana ou fulano entrar.
Momentos inesquecíveis para elas que pareciam ter voltado à adolescência que tinha ficado longe, longe, lá por Conselheiro Lafayete, num dos muitos caminhos que levam a BH. E assim as horas iam passando até chegar o momento do mais lindo crepúsculo do mundo, na Praça Paris, hora de voltar para casa, de (ônibus, de táxi ou num trem da Central )

Relembrando tudo isso, já ia me esquecendo de falar da velha Brastemp (comprada a prazo nas Casas Garçon ). Enlouquecidas pelo calor de 40º, daquele ano, elas tinham ido à praia no Leblon e encontraram algumas amigas balzaqueanas como elas e que fazia tempo que não se viam. Imagine vocês o longo papo que tiveram recordando. Naturalmente uma olhando as pelancas e rugas da outra, mas sem comentários. Esqueceram até da hora.

E como uma das amigas era de Juiz de Fora, recordou o pai que era prefeito e Dercy Gonçalves estava na cidade numa de suas comédias pelo Brasil a fora. “Imaginem vocês, que um dos refletores resolveu cair bem no meio da cena. Dercy lascou um palavrão ( PQP é claro!), “Tem gente querendo me matar aqui, não é possível!” O teatro quase veio abaixo de tantas gargalhadas. “Meu pai prefeito, não sabia como se desculpar perante a atriz que disse depois” “Ora bolas deixa prá lá, to viva num to!

As duas irmãs viúvas, meio que empolgadas pelo reencontro ou pelos chops, desta vez no Bar Garota de Ipanema, passaram a noite no apartamento de Adalgisa, em Copacabana, que era mais perto. “Você não vai querer que eu pegue trem da Central prá voltar pro Meyer, agora, vai? Vamos que um tarado resolva me atacar, já pensou!”, disse Ruthnéia. “E nem eu, nem pensar de voltar prá Tijuca, na escuridão da noite, Vocês sabem, eu sou menina moça mineira, uai!”, afirmou Lindonice. (Risos, muitos, mas muitos risos ecoavam pelo poço do elevador naquele prédio na rua Barata Ribeiro, até chegar ao 10º. andar. Esbaforidas ligaram todos os ventiladores, abriram a porta da geladeira, sentaram na frente dela, para receber aquela brisa geladinha, geladinha.”Ah que alívio!”


E diziam em coro, “entra abençoadinha, entra,” levantando as saias. Mortas de calor, mas satisfeitíssimas da vida. “Homem, prá que homem, só serve prá encher o saco!” E riam a mais não poder.Até a bicha, artista plástico do 11º. andar veio ver o que estava acontecendo com suas amigas. Nossa!... Bateu na porta do apê. E foi recebido pelas três animadíssimas viúvas. Daí foi mais e mais risadas ainda. Pode!