sábado, 29 de maio de 2010

AQUELA FOGUEIRA DE SÃO JOÃO

No principio era uma Edícula....



24 de junho de 1932 – o que me vem à memória depois de tantos anos, parece imaginação. O inverno com toda a sua densidade tomava conta da rua. Me vem à lembrança aquela fogueira que marcou o fim de amizades entre vizinhos que todos os anos festejavam a noite de São João. Nossa alma desperta a recordação daqueles velhos amigos. Com o nariz achatado no vidro da janela, olhava um céu azul muito escuro,estrelas brilhantes pareciam correr junto com o trem que transpunha a Serra da Mantiqueira,noite a dentro.
Vez por outra, aparecia uma fogueira em extinção. Pequenas cidades dormiam. Silêncio. Só o barulho das rodas do trem. A madrugada foi vencida pelo sono. Longas horas de viagem, o trem sempre veloz. A baldeação feita em Barra do Piray. E finalmente, já no Vale do Paraíba, de manhãzinha, apareceu a placa da estação onde deveríamos descer:” JACAREHY.”


A transformação foi lenta e gradual.


Cidade que nos recebeu de braços abertos. Já se passaram 61 anos. Quatro gerações já estão radicadas aqui. Cidade outrora tão simples e pequena. Dá- nos prazer, a cada semana, ler os artigos do jornalista Jobanito, que, com toda a simplicidade, rico em detalhes, descreve cenas da história cotidiana de Jacareí, “Pelas Ruas da Cidade”. Há um ditado que diz: “Recordar É Viver”. Recordar, contudo, não é querer de volta o passado. Viver é lembrar da longíngua noite que deixamos Conselheiro Lafaiete, em Minas Gerais e chegamos a Jacareí, em São Paulo, na movimentação de tropas da “guerra civil” – a Revolução Constitucionalista de 32, quando Getúlio Vargas estava no poder.
Aprendemos a amar a cidade. O medo, a estranheza, tudo de transformou, aos poucos, em carinho e ternura. Durante muitos anos moramos na “Rua do Meio” (Rui Barbosa).Hoje,sentimo-nos pequenos nessa imensa cidade. Para conhecer todas as ruas, avenidas, praças e bairros, só voando por cima dela. Lágrimas doem nos olhos ao lembrar, com “Jobanito”, as ruas antigas, crianças brincando tranqüilas, sem nenhum perigo. Famílias sentadas nas portas, pondo a conversa em dia, após, os trabalhos caseiros.


verde que te quero verde.

Nestas ruas, algumas de chão batido, podíamos olhar a lua e as estrelas em sua trajetórias, no infinito céu. O passeio pelas praças modestas, as “bandas de música”, serenatas pela noite adentro, lindo! Sentimo-nos outra vez pequenos e perdidos. Jacareí agora é “cidade grande”. Com a explosão demográfica, o progresso chegou junto. Há muito ainda que contar das ruas “de baixo”,”do Carmo”, do Mercado, dos Ferroviários, dos Operários e outras, pela memória também do professor BSL – (Benedicto Sérgio Lencioni). No entanto, causa-nos tristeza perceber que a cidade hoje também se tornou bastante desumana. No meio da multidão fica cada vez mais difícil encontrar e reencontrar amigos. Tudo fica a cargo do acaso.
Pessoas disputam espaço com veículos; carros ônibus, caminhões, motos e bicicletas. A solidariedade parece estar sumindo, pois todos têm pressa. Por causa da violência as noites ficam vazias. A cidade cresceu em todos os sentidos. Está, sem dúvida, até mais bonita e moderna. E, nesta noite de São João, estão fazendo falta as fogueiras que nos trazem alegria e calor ao coração. Uma alegria renovada. Como aquela fogueira que ficou para trás, apenas na lembrança.


O recanto: Uma troca diária de energia positiva.

RUTH RIBEIRO DE OLIVEIRA, minha tia, hoje com 88 anos, naturalizada jacareiense, chegou à cidade, com sua família, aos 10 anos. Memória Viva,como muitos outros, por que, de lá prá cá, viu a cidade crescer. E, principalmente, viveu.
(Crônica escrita em 1993 e publicada no Diário de Jacareí)

PROMETA A SI MESMO
SER FORTE de maneira que nada possa perturbar a sua paz de espírito
FALAR de saúde, felicidade e prosperidade a toda pessoa que encontrar espalhando entusiasmo e otimismo.
ESQUECER os erros do passado e preparar-se para melhores realizações no futuro
CONSERVAR em todas as ocasiões um rosto de alegria,plantando,nos ambientes, a semente do bom humor
SER CALMO nas dificuldades, nobre nos momentos de raiva, corajoso nas tempestades,para extrair,com sabedoria,as lições da vida.
FAZER um bom juízo de si mesmo e proclamar este fato ao mundo, não em altas vozes, mas em grandes feitos.


Uma pausa para lembranças e reflexões.


Mas: foi um longo caminho até aqui.


Canto de Passáros...


A cada amanhecer!!!!


Minha mãe dona Anita e meus familiares num tradicional almoço de domingo, bons tempos.


Na parede da memória meu Irmão e os 4 sobrinhhos!!!!


Nina e Prika, sobrinhas: Danadaaaassssss!!!!!

A SIMPLICIDADE DA VIDA


Minha Saudosa Mãe dona Anita aos 17 anos recém chegada á Jacareí em 1933.

Ainda bem que logo mais, no moderníssimo anfiteatro,com capacidade para cinco mil espectadores, recém inaugurado,seria comemorado o 34 aniversário do jornal “O Liberal”, com uma apresentação especial da peça “Mãe Coragem”, de Bertold Brecht, com o elenco da corajosa trupe de atores que tinha resistido bravamente à repressão.Oportunidade única, graças a uma bem fundamentada parceria entre o governo que começava e empresários esclarecidos e mecenas em potencial . A vida intelectual na cidade estava renascendo outra vez. Novos Tempos para todos.
Pintava no céu da tarde os conhecidos tons avermelhados de mais um dia outonal. A cidade, num recanto bucólico do Vale, fora também testemunha da selvageria imposta por aquele governo, um poder arcaico ilegítimo vindo ninguém sabe de onde, que quase acabara com a conhecida marca de um povo vivaz que habitava o lugar. Tudo seria esquecido aos poucos na dobras do tempo, com certeza, assim que abrisse a cortina. O sofrimento dos cidadãos parecia algo interminável naquela época de sombras. Dores surdas, secas, lágrimas furtivas, o ódio corroendo a alma. Ódio duramente aprendido por aqueles corações pacíficos. Agora a esperança estava no mar. Como um grito de alegria.
César, o historiador, se embriagava de satisfação, pelos bares da cidade. O poeta Carlos, declamava versos pelas praças. O fascismo, que se instalou no governo anterior, caiu pelas tabelas. A jornalista Raquel, refletia, “nada é mesmo para sempre”. E não era sonho. Era real. O pesadelo, que levou a trupe teatral para fora da cidade, tinha acabado. Os artistas voltavam prá casa mais do que reconhecidos. E realizados.


Passeio à Belo Horizonte e ao Rio de Janeiro em 1960 (Eu a Edna e o Eduardo) no clássico cavalinho de Pau.

O pesadelo ficou bem claro quando asseclas mascarados do governo empastelaram o jornal e incendiaram a redação. Os jornalistas passaram a viver na clandestinidade e no silêncio imposto. Alfredo, o escritor, descreveu os fatos como “uma longa noite medieval, de ignorância e cabotinismo que caiu sobre a cidade...” Sentia, agora, aquela enorme e lúcida vontade de escrever. Sentado, na penumbra do teatro, aguardando o início da peça, via aquele jovens, senhores e senhoras, velhos amigos, gente nova misturada, sem receios, animada.
Entre eles estava a figureira Matilde,cujas raízes africanas ancestrais lhe davam uma reconhecida sabedoria tribal ao ensinar crianças e adolescentes a moldar ingênuas pecinhas com o barro da região, tirado das margens do rio e mostrar a eles que,com naquele rústico artesanato, estava também uma verdade histórica e cultural. Aquelas crianças também podiam sonhar com um destino feliz. Com uma identidade telúrica. O próprio gosto dos moradores pela arte foi aos poucos moldado. Ela agora contaminava sadiamente a todos. Matilde também sobreviveu aos zumbis do antigo governo de Ton Ton Macouts.
A arquiteta Joana estava lá com seu namorado, um jovem intelectual da capital. Ambos de descendência judia comemoravam abertamente, entre abraços, beijos e acenos. Ela foi uma das primeiras a perceber que algo estava errado no ar a quatro anos atrás. Um novo ramal ferroviário foi aberto a pretexto de carregar e descarregar mercadorias. Mas eram corpos humanos empalhados que eram enfiados nos vagões. As vítimas, os descontentes com os desmandos políticos. Sempre há um jeito de eliminá-los não é!
Mas a resistência aos poucos foi se organizando. Aquela horda no poder não podia fazer o que bem quisesse. Reuniões secretas na calada das noites. A revolta era tanta que muitos queriam resolver a parada na base da porrada. Calma, espera, argumentavam os mais sensatos. A panfletagem começou a correr a solta. Com ajuda do jornal se denunciava toda a sujeira. A população foi criando coragem e se esclarecendo . E foi nos bairros que o levante aos poucos foi aumentando até chegar à praça principal da cidade, numa grande demonstração de forças e incon- formismo. Num movimento inédito, nas urnas eletrônicas, o NÃO foi avalassador. O velho governo autoritário caiu. E pela primeira vez temeram e começaram a enfiar o rabo entre as pernas.
Um dia antes da posse do novo governo, de madrugada, uma servente limpava o gabinete e estranhou, num canto, empilhadas, sinistros moldes cinza em forma de estrelas junto com um monte de papelada rasgada. Achou meio estranho. Como não havia quase ninguém na solidão do prédio, só os faxineiros. Ela acabou enfiando tudo aquilo num saco de lixo. No lixo da história. E foi em frente.
As luzes se apagaram na platéia do teatro, todos foram ficando em silêncio absoluto. A cortina se abriu. “MÃE CORAGEM” entrou empurrando sua carroça.

sábado, 22 de maio de 2010

Ai, Que saudades!



Neste aprendizado de Internet, mexendo aqui e ali nas teclas do computador, de truque em truque e atalhos, vou relembrando momentos passados de pura felicidade. Bate uma saudade danada de tanta coisa. Algumas enumero aqui: saudades, principalmente, do rio Paraíba limpo. Tinha um trampolim de ferro perto da ponte, onde banhistas jovens e mais ousados davam seus mergulhos. Naquela época já estava ficando meio inútil, mas por isso mesmo era bucólico. Estava ali, enferrujando, mas quem notava sua presença, com certeza sentia uma sensação de segurança e seguia em frente rumo ao centro da cidade. Acho que foi levado pelas águas. Ou deve estar em algum ponto arenoso do rio. Hoje poluído ao extremo.



Saudades da hora da passagem do “Trem Branco”, de luxo, exatamente à 9:54 todas as manhãs. O centro parava. Era uma festa. Para muitos era hora de sonhar. Com grandes viagens. A rápida parada na Estação era seguida de um também rapidíssimo ritual. Momento de luxo, de glamour. “Estou indo para o Rio de Janeiro”, ficava estampado no rosto alegre dos que embarcavam. Elegantes. Da forma que podiam. Difícil imaginar que não houvesse um pouco de inveja nos transeuntes e nas pessoas que ficavam. Com a força de um redemoinho, que tudo leva, tudo voltava ao seu lugar depois que o trem passava, sumindo na primeira curva, lá longe. A minha vez de embarcar para o Rio chegou. Eu tinha l2 anos. A paisagem na janela enchia meus olhos e o coração, de uma enorme e indescritível alegria. Que só se tem mesmo nesta época.
Saudades do cinema Rio Branco e Rosário, quando ainda era possível, vez por outra, entrar de graça, por cortesia, ou mesmo dó que os porteiros sentiam, da nossa infância pobre e sem dinheiro para pagar ingresso. Saudades das chanchadas brasileiras com Oscarito, Eliana e outros artistas e dos filmes americanos, faroestes com o modelo de virilidade masculina, o ator Gary Cooper ou “Bonequinha de Luxo”, com a inesquecível Audrey Hepburn, entre muitos outros. Moon River, lá,lá,lá rá...
Saudades dos sábados à noite, a praça fervilhando, quando íamos matar nossa fome comendo pizzas do Bar do Britto e sonhar, sonhar, sonhar...
Saudades dos desfiles de Sete de Setembro, com toda sua pompa e circunstância cívica descendo as ruas principais até chegar na praça. Ah! As fanfarras e a rivalidade entre os alunos do Silva Prado e da Escola Agrícola. Aí do aluno que ousasse não comparecer à cerimônia!
Que saudades dos bailes de gala ou de formaturas no Trianon quando grandes orquestras brasileiras faziam sucesso e se apresentavam à sociedade local. Meu Deus! Quanta expectativa vivida. Os namorados e as namoradas, a família sempre vigilante. O salão perfumado.
Finalizo este exercício de memória lembrando como fiquei imensamente feliz, quando, assim que aprendi a ler, ganhei da minha professora, um livro chamado Saudade. Foi aí que tudo começou. Como posso esquecer!
Peço às pessoas que também enumerem suas saudades E escrevam. É gratificante. É bom, pois não é como dizem que “Recordar é Viver!”.


(O famoso trem de aço)

Eden, O Jardim

Que vontade enorme de ir para um lugar, bem no interior do país, perto de uma cachoeira, de um riacho límpido, com águas cristalinas a me lavar o corpo e a alma de todas as mágoas. E depois, essas águas desaguariam num oceano de paz levando para as profundezas abissais todos os dissabores. Um lugar calmo sob um permanente céu azul. Um lugar onde as chuvas fossem rápidas caindo do bojo enorme das nuvens e fizessem pequenas torrentes no chão vermelho nos remetendo sempre à infância. Um lugar lembrando constantemente um coração.
Um Jardim do Éden recriado pela imaginação, onde houvesse perene nas pessoas um desejo forte de cordialidade. Um vale verde, com sol, lua, estrelas sempre prontos a nos levar à inspiração, à poesia, à ternura, ao amor. Um mundo sem violência onde imperasse a fraternidade de um Xangri – Lá, onde a única religião seria a do perdão e da esperança. E a tolerância e a compreensão fossem sim, palavras de ordem. Deus deve estar tendo, realmente, muita paciência atualmente com a humanidade. Não é nem preciso descrever o cenário de horror. O que vemos diariamente me leva a acreditar exatamente no contrário. Quando, afinal, teremos um mundo melhor?


domingo, 16 de maio de 2010

Olhar

É facil escrever versos
De pessoas especiais
Filho da terra.
A sabedoria é sua estrada
O coração é alado.

Bom estarmos no mesmo espaço,
Bom compartilharmos
O mesmo planeta;
O passado é doce
O presente é a resposta.

Tantos amigos conquistados
Escrever é seu dom
A caneta a sua aliada.
Palavras energeticas.
Que nos dão força.

Assim é esse homem
Seu nome: Poeta
Profissão: Varias
A mais importante,
É essa de ser apenas vencedor!

Autora: Profª Marilda da Silva

Caminhos do coração - por Gonzaguinha

"Toda pessoa sempre é as marcas
Das lições diárias de outras tantas pessoas
E é tão bonito quando a gente entende
Que a gente é tanta gente onde quer que a gente vá
E é tão bonito quando a gente sente
Que nunca está sozinho por mais que pense estar
É tão bonito quando a gente pisa firme
Nessas linhas que estão nas palmas de nossas mãos
É tão bonito quando a gente vai à vida
Nos caminhos onde bate, bem mais forte o coração"

Gonzaguinha - Caminhos do coração

sábado, 15 de maio de 2010

O feijão e o sonho



A cidade anoitece. Com todos os sonhos ou pesadelos de mais um dia vivido em sua própria rotina. As luzes se acendem amareladas. As pessoas voltam para casa depois dos afazeres, com aquela ânsia característica de chegar (ufa!) em segurança. Aos poucos o barulho e o som das ruas e avenidas vão diminuindo e a cidade se esvazia e adormece. É nessa hora, começo da madrugada, que o ser noctívago que sou, desperta e começa reviver.


Até altas horas irei refletir sobre tudo o que me levou a chegar até aqui, náufrago sobrevivente de muitas tormentas. A minha vida passada a limpo para poder, mais uma vez, me posicionar como ser humano e cidadão. Nessas horas mortas é que percebo o quanto de mim, corpo e alma, foi, levado de roldão. Roda Viva é pouco! Sobreviver e escrever, o feijão e o sonho! Poderia ser melhor? Poderia não ter queimado etapas inutilmente? Ou foi tudo de bom tamanho? Tudo foi como deveria ter sido, por desígnios que já estavam traçados !? Sem que eu pudesse escolher?


Estilhaços juntados na memória, sangue e ossos, vida e morte, a mente tentando deletar o pior e selecionar só os bons momentos e o melhor de mim, o que foi mais sofrido, o que foi mais vivido, o que foi mais prazeroso, na tentativa de sobreviver e profundamente amar e ser amado, juntando guerra e paz, ódio e ternura, no envólucro sonho de valsa das lembranças. Sigo rumo ao significado do ser. Sou. Noite a dentro.Vem, memória, vem!


No mais profundo recôndito de minha alma, do meu constante sonho de cronista, procuro encontrar uma forma de conviver ternamente com as pessoas e os acontecimentos. Desde muito jovem. Por isso as redações escolares, a poesia escrita e muitas vezes declamada em voz alta, a música pop ou erudita, as encenações ou adaptações de peças teatrais, as leituras. Ah! as leituras. Todos nós, artistas vivendo nos limites da aldeia. Era tudo ou nada. Descobertas.


Era preciso vencer na vida. O que sabia eu dos sonhos? Era preciso ter uma identidade contra a exclusão, contra todas as formas de preconceito. Hoje percebo que nesta caminhada encontrei muita gente que me ajudou a vencer a longa jornada contra a ignorância. Pessoas que reforçaram a minha crença em mim e na humanidade, apesar de tantos holocaustos, pogrons, extermínios e terrorismo. A elas serei sempre grato. Eram gente da melhor qualidade e sensibilidade. Ainda estão por aí. Nesses poucos momentos, nas ruas, trocamos olhares cúmplices de como conseguimos. Sim, como conseguimos! Outros foram embora da cidade. De vez em quando recebemos notícias auspiciosas. Venceram. Cada qual a se modo. Outros já partiram desta para melhor.



Difícil não lembrar de “O Encontro Marcado”, de Fernando Sabino, que fez nossas cabeças na juventude. E a literatura que nos era introduzida no Colégio era da melhor qualidade. Época de professores dedicados e cúmplices dos nossos sonhos. Me lembro que não conseguia, por mais esforço de fizesse, ler “Grande Sertão Veredas”, de Guimarães Rosa. Uma noite, desprevinido, o “Nonada” me pegou de jeito. E até hoje ainda é uma viagem não interrompida ao Brasil mais que profundo e ao mais profundo de nossa solidão. Afinal “o sertão está mesmo é dentro de nossas cabeças” Depois vieram outras descobertas, livros, filmes, peças, poemas, etc. Que integrou minha (nossa) formação para o mundo.


Tudo que fazia o deleite de um jovem em formação. Tudo que afastava de mim o medo e a solidão. Tudo que, no grande debate da vida, me ajudou a compreendê-la cada vez mais. E que me conduziram ao sentimento de solidariedade e de profissionalismo. Hoje sei que amar o próximo não é e nunca foi, tarefa tão difícil assim.


Por isso, a madrugada, que me excita e me apascenta, que me obriga a pensar e a mergulhar nos meus próprios “sertões” é a minha melhor hora. Por que saio renascido das minhas sombras para a claridade meridiana. Saio íntegro, compreendendo mais e mais.


( De longe...ainda parece que estou escutando o apito de algum trem noturno varando a madrugada...Cortando a cidade ao meio...Dá para garantir esta poesia ainda hoje? Ou a violência e a indiferença estão a engolir tudo e a todos!? )



Mambo Jambo



Outro dia fui surpreendido com o antigo mambo “Frenesi”, numa rádio ao cair da tarde. Coisa rara atualmente. Na lembrança me veio um distante baile num clube local. Era um sábado. O salão na penumbra, os casais dançando empolgados no ritmo caribenho ao som da pequena orquestra cujos músicos à caráter lembravam os Românticos de Cuba que muitas vezes ouvi numa pequena Sonata que transportávamos aos domingos à tarde para a casa de amigos nos permitidos bailinhos familiares da juventude.


Nas mesas a maioria mantinha a pose, embora a embriaguez de alguns já estivesse chegando ao delírio etílico. A atmosfera, envolta na fumaça dos cigarros, lembrava aquela dos cabarés mostrados nos filmes americanos.Os diretores do clube, entanto, estavam sempre de olho nos excessos da rapaziada.Nos meus poucos vinte anos nada me importava a não ser bebericar Cuba Libre – mistura de Rum com Coca Cola, gelo e limão, naqueles bailes de verão. Era a nossa iniciação. E também porque estava na moda. Quase sempre havia uma briga entre jovens enciumados na disputa por alguma garota, lá pelas tantas. Entrava a turma do deixa disso e a conciliação era feita aos poucos, em frente ao clube, na única praça da cidade, onde a vida passava, de manhã, de tarde, de noite, de madrugada, sem grandes novidades.


Recordando, ao som do mambo jambo, tanta coisa se passou. Hoje a cidade contrasta com a modernidade e a decadência. Cicatrizes e renovação se parecem deixando saudades. Ou não.


Quando o mambo jambo acabou, desliguei o rádio. Passei a lembrar de cinco irmãs, minha mãe Anita, e tias Marta, Ruth, Eunice e a mais jovem, Eneida. Vieram para Jacareí no ano de 1932. Eram jovens simples e, por que não, bonitas. Vieram da cidade de Conselheiro Lafaiete, no interior de Minas. A única que eu não conheci foi a tia Marta, pois morreu ainda jovem, deixando quatro filhos, meus primos. Páginas viradas na memória, chegaram em junho, deixando para trás um histórico de crises familiares mais ou menos insuperáveis. Desceram do trem na pequena estação da Central portando poucas malas usadas reiniciando aqui uma vida nova, formando aos poucos novas famílias.


Hoje ainda me comove, nas lembranças familiares, a pequena saga que viveram. Caminhos sem volta se fizeram na vida delas. De todas elas a que sempre me lembro mais foi a mais rebelde. Sonhadora, gostava de bailes, apesar da severidade de meus avós. Bailes que ia escondida, pulando furtivamente a janela lateral da casa. Nem que tivesse que enfrentar, no dia seguinte, a fúria e as surras do pai. Tia Nicinha. Sempre alegre brincalhona. Por fim, não conseguiu superar as amarguras da vida. O Mal de Alzheimer acabou vencendo a parada. Deixou, porém, para uma das irmãs, um lindo e cobiçado casaco de pele e um colar de pérolas que ganhou de um de seus antigos namorados, um americano, gerente da filial brasileira, no Rio, das Lojas Sears.



domingo, 9 de maio de 2010

Remexendo a terra

Hoje, 5 de maio,às 17 horas, praticamente terminei uma pequena reforma nos fundos da casa. Iniciada na semana passada. Vai ser um pequeno recanto. Fiz três canteiros onde pretendo iniciar uma nova horta. Revolvi a compostagem na terra preta, guardei as ferramentas e fiz dois caminhos com bloquetes para poder passar sem dificuldade quando chover. Agora o tempo está seco. Por isso será preciso regar a terra para que ela possa receber com carinho as sementes de legumes e verduras que vou escolher no Mercado. As sementes são vendidas em saquinhos. Após esta tarefa lavei as mãos e passei a admirar o belo por do sol. No quintal onde tenho minhas outras plantas e flores. Momento de puro encanto. E reflexão. Um pouco cansado mas satisfeito com o resultado. Nos próximos dias vou escolher as sementes cuidadosamente. De preferência aquelas que podem ser plantadas o ano inteiro. Sementes também podem ser palavras que escritas com o coração podem render boas e belas safras de mútua compreensão e carinho. A humanidade está muito carente. Muito. Plantemos os nossos canteiros com humildade. Pensando nisso tudo, na boca da noite. Uma grande paz vai chegando. De mansinho. De mansinho...

domingo, 2 de maio de 2010

Recordações




"SOU CAIPIRA PIRAPORA, NOSSA SENHORA APARECIDA...." Quando cheguei ao bairro Jardim Panorama, no dia 16 de dezembro de 1987, fui saudado por uma Folia do Divino (Folia de Reis). Não tinha muita noção do que era. O colorido e a cantoria, contudo, foram me atraindo aos poucos e soando como algo ancestral, mas alegre, festivo, diferente. Raízes, folclore e chegança foram palavras que me ocorreram, no turbilhão daquele momento que eu vivia.
Hoje sei que era uma humilde recepção a um novo morador, costume local. Bandeira do Divino. Da dona Maria, do "seu" Mané, da Carminha, do "seu Dito" e de vários outros moradores que fui conhecendo aos poucos e começando a fazer parte daquela nova fase da minha vida. Tudo era novo, novo, novo, embora eu já tivesse uma bagagem de vida, vivida, dividida. Tudo me emocionava. Me liguei, fácil, fácil, no largo visual descortinado da minha pequena VARANDA.
Lá estavam a minha cidade e seu centro, o rio Paraíba, o Vale, a Serra da Mantiqueira, às vezes azul, às vezes dourada pelo sol do poente, parte da cidade de São José dos Campos... bem longe, mas incrivelmente visível, a Pedra do Baú, em Campos do Jordão, com seu formato característico, o Pico do Itapeva. Tudo, até hoje, passado mais de vinte anos, são fontes de inspiração.
Agradeço a Deus, por tudo isso. Principalmente, por que a partir daquele momento mágico, mas cotidiano, fui me tornando um pouco "caipira, capiau, piraquara”, sendo mais humano e entendendo melhor tudo a minha volta. Continuo colhendo, com mais sabedoria (creio) lembranças que vou revelando, com muito amor e assim vivendo e revivendo. Juntando pedras, cacos, seixos, construindo pirâmides de taipa de pilão, com a força do Tempo.
Permanecem, desde o início, nas paredes e janelas da casa, o branco e o azul, como o manto de Nossa Senhora, padroeira deste meu país e muito venerada nessa região. É o meu recanto (e dos meus amigos). Ao mesmo tempo "na roça" e na cidade. Minha referência, minha identidade, minhas emoções e meu caminhar...




"VOU TE DIZER QUEM SOMOS NÓS, GOSTAMOS DE IR ALÉM...NÃO SER IGUAL A NINGUÉM!
MUITA ADRENALINA PRÀ VIVER E UM JEITO ÚNICO DE SER. "

Fragmento de “Morte e Vida Severina”, de João Cabral de Melo Neto

“É difícil defender,só com palavras,a vida,ainda mais quando ela é esta que vê, severina; mas se responder não pude `a pergunta que fazia, ela a vida, a respondeu com sua presença viva. E não há melhor resposta que o espetáculo da vida: vê- la desfiar seu fio, que tbém se chama vida: ver a fábrica que ela mesma teimosamente,se fabrica, vê- la brotar como há pouco em nova vida explodida;mesmo quando é assim pequena a explosão,como a ocorrida;mesmo quando é uma explosão como a de há pouco,franzina;mesmo quando é a explosão de uma vida severina.”


Ficou na lembrança.

E foi assim...Um grupo de estudantes do Colégio Silva Prado em 1966 decidiu montar a peça de João Cabral no TEJA Teatro Estudantil Jacareiense Amador. Depois de muita pesquisa sobre o autor e a obra, que naquela época venceu o Festival de Teatro na em Nancy, na França. Era o TUCA – Teatro da Universidade Católica ,de SP , representando o Brasil. Fizemos várias apresentações na cidade e na região,sempre motivados por vários professores.FOI UM SUCESSO. Depois vieram outras peças nacionais de sucesso. Rolou o tempo e ficou a marca empreendedora de jovens que queriam melhorar o mundo. Era um grupo, sem dúvida, de jovens intelectuais principiantes. Virou história. Uma longa e saudosa história...


Cajus amigos...

Meia duzia de cajus amigos...Pela primeira vez... Acridoces. O pé foi plantado cerca de 10 anos. Dia 12 de março.Fiquei muito contente. No quintal cajus amigos. Depois de morangos, maracujás, azedos e doces, mangas, goiabas, pitangas, laranjas e limões, mamões, romãs, jabuticabas e bananas,muitas bananas. Agradeço a Deus e a terra, o sol e a chuva...

DESIDERATA

Caminha calmo entre o ruído e a pressa e pensa na paz que podes encontrar no silêncio...Esforça – te para ser feliz...Este fragmento de texto é de 1692. Igreja Saint Paul - Baltimore.

Sensibilidade

No sábado passado fui ver o filme Chico Xavier... A elevada espiritualidade e a biografia de um homem que sempre fez o bem nesta tão carente Terra. Sensível. Deu para refletir mais sobre nosso desterro e a nossa missão por aqui...



Sol da meia noite, foto tirada da varanda de casa, by Anderson Placido...


É fato

“O que o filósofo e historiador grego Xenofonte escreveu 2.400 anos atrás poderia ter sido escrito hoje ‘ Um bom amigo é o mais precioso de todos os bens. Está sempre pronto a auxiliar...Há homens, contudo,que investem toda a sua energia no cultivo de árvores, para colher frutos, e são negligentes com o amigo, o bem mais frutifica’ O amigo vê e ouve o que não somos capazes de ver nem ouvir. Assim sendo pode fazer por nós o que não temos como fazer por nós mesmos. Como o analista ele ilumina o caminho...” ( Betty Milan – revista VEJA – 23.12.2009)