sábado, 15 de maio de 2010

Mambo Jambo



Outro dia fui surpreendido com o antigo mambo “Frenesi”, numa rádio ao cair da tarde. Coisa rara atualmente. Na lembrança me veio um distante baile num clube local. Era um sábado. O salão na penumbra, os casais dançando empolgados no ritmo caribenho ao som da pequena orquestra cujos músicos à caráter lembravam os Românticos de Cuba que muitas vezes ouvi numa pequena Sonata que transportávamos aos domingos à tarde para a casa de amigos nos permitidos bailinhos familiares da juventude.


Nas mesas a maioria mantinha a pose, embora a embriaguez de alguns já estivesse chegando ao delírio etílico. A atmosfera, envolta na fumaça dos cigarros, lembrava aquela dos cabarés mostrados nos filmes americanos.Os diretores do clube, entanto, estavam sempre de olho nos excessos da rapaziada.Nos meus poucos vinte anos nada me importava a não ser bebericar Cuba Libre – mistura de Rum com Coca Cola, gelo e limão, naqueles bailes de verão. Era a nossa iniciação. E também porque estava na moda. Quase sempre havia uma briga entre jovens enciumados na disputa por alguma garota, lá pelas tantas. Entrava a turma do deixa disso e a conciliação era feita aos poucos, em frente ao clube, na única praça da cidade, onde a vida passava, de manhã, de tarde, de noite, de madrugada, sem grandes novidades.


Recordando, ao som do mambo jambo, tanta coisa se passou. Hoje a cidade contrasta com a modernidade e a decadência. Cicatrizes e renovação se parecem deixando saudades. Ou não.


Quando o mambo jambo acabou, desliguei o rádio. Passei a lembrar de cinco irmãs, minha mãe Anita, e tias Marta, Ruth, Eunice e a mais jovem, Eneida. Vieram para Jacareí no ano de 1932. Eram jovens simples e, por que não, bonitas. Vieram da cidade de Conselheiro Lafaiete, no interior de Minas. A única que eu não conheci foi a tia Marta, pois morreu ainda jovem, deixando quatro filhos, meus primos. Páginas viradas na memória, chegaram em junho, deixando para trás um histórico de crises familiares mais ou menos insuperáveis. Desceram do trem na pequena estação da Central portando poucas malas usadas reiniciando aqui uma vida nova, formando aos poucos novas famílias.


Hoje ainda me comove, nas lembranças familiares, a pequena saga que viveram. Caminhos sem volta se fizeram na vida delas. De todas elas a que sempre me lembro mais foi a mais rebelde. Sonhadora, gostava de bailes, apesar da severidade de meus avós. Bailes que ia escondida, pulando furtivamente a janela lateral da casa. Nem que tivesse que enfrentar, no dia seguinte, a fúria e as surras do pai. Tia Nicinha. Sempre alegre brincalhona. Por fim, não conseguiu superar as amarguras da vida. O Mal de Alzheimer acabou vencendo a parada. Deixou, porém, para uma das irmãs, um lindo e cobiçado casaco de pele e um colar de pérolas que ganhou de um de seus antigos namorados, um americano, gerente da filial brasileira, no Rio, das Lojas Sears.



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