quinta-feira, 7 de junho de 2012
A doce canção
Pus-me a cantar minha pena
com uma palavra tão doce,
de maneira tão serena,
que até Deus pensou que fosse
felicidade - e não pena.
Anjos de lira dourada
debruçaram-se da altura,
Não houve, no chão, criatura
de que eu não fosse invejada,
pela minha voz tão pura.
Acordei a quem dormia,
fiz suspirarem defuntos,
Um arco - íris de alegria
da minha boca se erguia
pondo o sonho e a vida juntos.
O mistério do meu canto
Deus não soube, tu não viste.
Prodígio mesmo do pranto;-
todos perdidos de encanto,
só eu morrendo de triste!
Por assim tão docemente
meu mal tranformar em verso,
oxalá Deus não o aumente
para trazer o Universo
de polo a polo contente!
CECÍLIA MEIRELES - Antologia Poética
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