quarta-feira, 15 de agosto de 2012

O brasileiro que levou a Bahia (e o Brasil) para o mundo

No imaginário de brasileiros e estrangeiros, a Bahia é uma terra fascinante — impregnada de calor e vida, repleta de cores e sabores, habitada por uma gente alegre e festiva. Quem forjou essa imagem, usando apenas um dedo de cada mão para datilografar suas histórias, foi Jorge Amado (1912–2001). Se estivesse vivo, o escritor baiano teria completado cem anos na sexta-feira passada.


O Brasil está em meio às comemorações do centenário. Seus romances ganharam novas edições. Em horário nobre, o país vê uma nova adaptação televisiva de Gabriela, Cravo e Canela.

Na semana passada, o Congresso Nacional realizou uma sessão solene em que senadores e deputados federais homenagearam o romancista.

No Senado, a biblioteca abriga a exposição Centenário de Jorge Amado. Nela, o público conhece as primeiras edições de seus livros e algumas das versões publicadas fora do Brasil. Uma cronologia ilustrada com fotos de época leva a uma viagem pelos principais momentos da vida do romancista. A exposição termina na sexta-feira.


Fundação Jorge Amado no Pelourinho


Apenas no Brasil, Jorge Amado vendeu mais de 20 milhões de livros. Provou que best-sellers também podem ter valor literário. Sua obra chegou a mais 55 países, traduzida para idiomas que vão do russo ao catalão, do árabe ao guarani. Gabriela, Clove and Cinnamon, a versão em inglês, chegou a figurar na lista dos mais vendidos do New York Times.

— Ninguém mais que Jorge Amado mereceu, no Brasil, o Prêmio Nobel de Literatura. Que ele nunca tenha ganhado, considero não só uma das maiores injustiças com a literatura brasileira, mas também com o próprio Prêmio Nobel, por não ter entre aqueles que premiou a figura de Jorge Amado, um dos maiores escritores da Humanidade — afirmou o presidente do Senado, José Sarney, na homenagem do Congresso.

Na disputa pelo título de escritor brasileiro mais lido no mundo, Jorge Amado fica atrás apenas de Paulo Coelho.

No quesito adaptação para cinema e televisão, entretanto, nenhum romancista brasileiro conseguiu bater Jorge Amado. A lista de obras adaptadas é extensa. Basta citar Tieta do Agreste, Dona Flor e seus Dois Maridos e, de novo, Gabriela, Cravo e Canela, que foram transformadas tanto em telenovelas quanto em filmes. A mulata Gabriela e o turco Nacib, na versão cinematográfica, 30 anos atrás, foram vividos por Sonia Braga e Marcello Mastroianni.

Em seus romances, Jorge Amado descortinou várias Bahias. Uma diferente da outra, todas -marcantes. A Bahia rural ganhou vida com trabalhadores das fazendas de cacau, coronéis, jagunços e moradores de vilarejos provincianos. A Bahia costeira apareceu com capitães, pescadores e seus saveiros. A Bahia urbana surgiu em meio a pais de santo, boêmios, prostitutas, quituteiras e meninos de rua. Ele gostava de se referir a Salvador como “a cidade da Bahia”.

Em seu discurso na sessão de homenagem, a senadora Lídice da Mata (PSB-BA) afirmou que, graças a Jorge Amado, os próprios baianos passaram a ter uma nova imagem de si mesmos. Nesse ponto, ela colocou o escritor no mesmo patamar do músico ¬Dorival Caymmi (1914–2008):

— Jorge e Caymmi inventaram esta Bahia: terra da felicidade, terra da negritude. Isso contaminou a Bahia de tal forma que nós passamos a ter orgulho da negritude baiana.

Jorge Amado teve uma produção literária extraordinariamente intensa. Entre as décadas de 1930 e 1990, publicou três dezenas de obras. O senador Walter Pinheiro (PT-BA) acredita que seus livros, inclusive os mais antigos, jamais deixaram de ser atuais.

— A memória de Amado esteve sempre relacionada à valorização social e cultural do Brasil. Ele se envolvia nos debates com conceitos como democracia racial e povo. Tudo isso é refletido na tamanha aceitação de sua obra por diferentes públicos.

Nos livros didáticos de literatura brasileira, ele é enquadrado no modernismo — mais precisamente, no modernismo regionalista.

Do grupo, fazem parte a cearense Rachel de Queiroz, o paraibano José Lins do Rego, o alagoano Graciliano Ramos e o gaúcho Érico Veríssimo, que assumiram sem pudor os sotaques locais.

— Jorge Amado é o que se pode chamar de romancista bairrista e, ao mesmo tempo, universal. Ele mostrou que é possível dar asas a personagens do seu dia a dia e igualmente transformá-los em personagens do mundo — disse a senadora Ana Amélia (PP-RS).

Em 1961, a Academia Brasileira de Letras, entidade encarregada de cultivar o português do Brasil e a literatura nacional, finalmente reconheceu o talento literário de Jorge Amado. Ele foi eleito para a cadeira 23 — que tem José de Alencar como patrono e Machado de Assis como primeiro ocupante. Muitos reconhecimentos viriam depois, de prêmios pelo mundo a enredos de escolas de samba.

Tocaia

A vida de Jorge Amado, tão intensa, poderia ser confundida com uma bela obra de ficção.

Ele nasce numa fazenda de cacau em Itabuna, sul da Bahia. Com poucos meses de vida, é empapado pelo sangue de seu pai, alvo de uma tocaia nas próprias terras. O pai sobrevive. Ainda criança, é alfabetizado pela mãe.

Em Salvador, adolescente com extraordinária facilidade para escrever, trabalha em jornais como repórter policial.

Lança seu primeiro romance. Influenciado por Rachel de Queiroz, apaixona-se pelo socialismo e seus ideais de união e justiça — suas convicções ideológicas lhe renderiam muita perseguição. No Rio de Janeiro, forma-se em Direito, mas não chega a trabalhar com as leis. Suas obras começam a ser editadas fora do Brasil.

Casa-se pela primeira vez. É preso pela ditadura de Vargas e seus livros são queimados em praça pública. Exila-se no exterior. Separa-se. Conhece Zélia Gattai e passam a viver juntos. Pelo Partido Comunista Brasileiro (PCB), elege-se deputado federal na Assembleia Constituinte. É dele o histórico projeto que instituiu a liberdade religiosa no Brasil.

— Desde jovem, foi-lhe dado testemunhar a violência desmedida com que o Estado e a Igreja tentavam aniquilar os valores culturais provenientes da África. Havia discriminação religiosa. Pais e mães de santo eram presos, espancados e humilhados, e seus lugares sagrados eram invadidos e depredados — disse o deputado federal Roberto Freire (PPS-SP), que já fez parte do PCB.

Pouco depois, o “partidão” é posto na clandestinidade e Jorge Amado perde o assento na Câmara dos Deputados. Mais uma vez, agora com Zélia, parte para o exílio. Percorre todo o leste europeu.

Desilusão

Quando se inteira das atrocidades cometidas pelo ditador Josef Stálin — um de seus heróis — contra os adversários do comunismo soviético, Jorge Amado vê o chão desabar sob seus pés. Acorda, desiludido, de seu sonho quixotesco e abandona a militância política.

Mais tarde, por uma pequena fortuna, vende para Hollywood os direitos de Gabriela, Cravo e Canela. Com o dinheiro, compra um terreno no bairro do Rio Vermelho, em Salvador, para construir a casa onde moraria até o fim da vida.

As décadas rendem-lhe amigos do quilate de Pablo Neruda, Dorival Caymmi, Diego Rivera, Pablo Picasso, Glauber Rocha, Simone de Beauvoir e Jean-Paul Sartre.

A vida de Jorge Amado chegou ao fim em 6 de agosto de 2001, a cinco dias de completar 89 anos. Suas cinzas foram enterradas ao lado de uma mangueira no jardim da casa do Rio Vermelho.

Ele deixou um romance apenas iniciado. Na homenagem do Congresso, o filho do escritor, João Jorge Amado, subiu à tribuna para resumir essa história inacabada.

O escritor imaginava um coronel casado com uma mulher que enlouquece. Ele acaba se apaixonando por uma moça e tenta se casar com ela, mas o padre se recusa a celebrar a união. O coronel fica sabendo que o rei da Inglaterra, para se casar novamente, mudou a religião do país. Assim, ele importa um pastor e declara a sua cidade protestante. A população, que não ousa desafiar o coronel, converte-se. Concluiu João Jorge:

— Conto tudo isso aos senhores para mostrar como é grande a perda dele, que nos priva de ler essa história que não foi concluída e nunca será. É uma lástima.


Jorge Amado,em1990,na Cidade Baixa, Salvador

terça-feira, 14 de agosto de 2012

" 50 Anos sem nossa Estrela : Marilyn Monroe""

" O Pecado Mora ao Lado"!  SEMPRE..........

" A Vida é uma Janela Poética"!

Juliano Cazarré, 31 anos, ator Global: O Adauto da novela Avenida Brasil, em seu primeiro livro de poesias a ser lançado até o final do ano.
“ De todas as janelas do mundo, nenhuma é mais singela que a janela de um sorriso de uma criança banguela”.  ( Juliano Cazarré).





"A SOPA".


Durante muitos anos os moradores de Rua de São Paulo (Sem Teto) foram os únicos, talvez, a ter acesso àquela sopa altamente nutritiva preparada pelas mãos carinhosas e caridosas da irmã Carolina e sua dedicada equipe de freiras do Convento das Carmelitas. Sopas e caldos, em pequenas tigelas, capazes, como se diz no popular, “de levantar defunto.” Uma refeição, talvez a única do dia para muitos, que criava uma sensação de bem estar e aconchego.


Nem a idade já avançada a impedia de preparar em vários caldeirões, aquela refeição, que, nas noites frias da capital, chegava, como uma espécie de milagre, nos baixios das pontes e viadutos, aos famintos.
Principalmente para aquelas levas de pessoas desgarradas de suas raízes (muitos migrantes nordestinos e de outras regiões em busca de uma vida melhor) e que viviam como andarilhos pelas ruas, avenidas e praças da capital, sem ter ainda abrigos permanentes para morar, numa época em que a cidade comemorava o seu 4º. Centenário, no ano de 1954.
Eram conhecidos como “andantes” e “pedintes”, vivendo da solidariedade de pessoas anônimas. Albergues, os poucos que existiam, viviam lotados de pobres já naquela época.
A tarefa era feita também por fiéis voluntários, católicos ou não, que se tornaram conhecidos pelo discreto, mas sólido e constante, amor ao próximo.
A vocação para uma vida religiosa começou a ser sentida por Carolina ainda quando criança e se acentuou na adolescência. De família alemã, imigrantes da Bavária, seus pais chegaram ao Brasil e, de início, se instalaram no interior de Santa Catarina. A jovem Carolina aprendeu, com sua avó e com sua mãe a preparar caldos e sopas que eram distribuídas entre os integrantes da pequena colônia local. Mas também aprendeu a fazer outras receitas. Doces, bolos, tortas e salgados que conquistaram fama aos poucos. Já naquela época o Livro de Receitas de Dona Benta, também era conhecido em todos os lares e ajudava muito, em todas as cozinhas do Brasil afora.
No Convento, depois das missas e rezas, às 6 horas da tarde, as noviças e as freiras, não viam a hora de saborear a vigorosa sopa da Irmã Carolina, elogiada também pelos padres e coroinhas. Verduras e legumes, macarrão e as carnes, geralmente pedaços de músculo bovino, chegavam ao convento pelos doadores anônimos comerciantes que faziam questão absoluta disso.
A sopa de fubá, com ovos, couve rasgada e carne moída, com pitadas de pimenta do Reino era uma das preferidas de todos. “De se tomar rezando, de joelhos”, comentavam pessoas, não tão carentes assim, que se enfiavam, furtivamente, nas filas, para ter o raro privilégio de tomar um pouco da sopa.
Depois de certo tempo de observação, a equipe da Irmã Carolina, teve de tomar uma drástica providência: selecionar e distribuir senhas, avisando com firmeza que “as sopas são só para os muito carentes, por favor”. Fazia isso, é claro, com um pouco de dor no coração.
O sucesso da providencial distribuição de sopas aos carentes aumentou, no decorrer dos anos, a ponto de alguns chefes de cozinha recorrer ao convento para pegar as receitas e fazer fama em restaurantes chiques. Servidas com nacos de pão italiano. Sopa da Irmã Carolina, aparecia, discretamente, nos cardápios. Chique no “úrtimo”,não?!



O caldo de ervilhas com bacon parecia ter sido feito com mãos de anjos, pois as pessoas exclamavam “É da cozinha do céu, é de Deus”, de tão suave e revigorante que era. A sopa de abobrinha, com cubinhos de queijo e azeite, imaginem!, no frio das noites e madrugadas, tinha o dom de criar uma atmosfera de calor, satisfação e felicidade.Uma noite, uma dama da sociedade, parou, poderosa que era, com seu Cadilac, envolta num enorme casaco de pele, embaixo do Viaduto do Chá. “Quem é a Irmã Carolina?!
Alguns jornalistas da Folha de SP e da TV Excelsior, que estavam fazendo reportagem especial sobre a sopa da Irmã Carolina, comentaram: “Pronto, é agora que vai prendê-la por ser comunista!”Coisa, sem dúvida, que ela não era, naquele ano cruel de 1968, de perseguições,cassações, prisões e exílios políticos. Irmã Carolina, ao ser ordenada, tinha feito, isso sim, votos de pobreza absoluta. Apresentou-se, naturalmente, sem medo algum.
“Sou eu, em que posso serví –la, minha senhora.” Ah! Então é a senhora a famosa freira da sopa que todos estão comentando por aí ! Irmã Carolina tinha uma modéstia inigualável, mas era firme, não tinha medo de nada, nem dos poderosos, assim conhecidos. Pelo contrário todos a respeitavam.
E seus muitos conselhos, falavam diretamente ao coração e a mente das pessoas que, comovidas e consoladas em suas aflições e angústias, começavam a praticar orações e meditações, lembrando que “do pó viemos, ao pó voltaremos” e só subiremos aos céus pela infinita graça de Deus. E, sem sombra de dúvidas as sopas da Irmã Carolina,como uma espécie de milagre, colaboravam em muito nessa possível ascensão.
Resumindo a história, aquela dama rica queria mesmo era conhecer a irmã e provar de sua sopa maravilhosa, que, depois de algumas colheradas, revirava os olhos e exclamava Hum! que bela e deliciosa sopa, parabéns irmã Carolina, nunca provei iguaria tão gostosa! Naturalmente ficou muito amiga de Irmã Carolina. As polpudas doações daquela senhora (em dinheiro e produtos) ajudaram muito, mas a amizade ficou acima de tudo. Com muita sabedoria Irmã Carolina sabia deixar as coisas em seu devido lugar.

A irmã sentiu-se consagrada naquela noite inesquecível, mas não perdeu a modéstia. Só relembrou sua adolescência, num flash da memória, a horta da colônia, onde, enfiando a mão na estimulante terra preta, colhia cenouras, batatas, inhames e outras verduras e legumes e o fogão a lenha da pequena casa onde morava com seus pais e cozinhava as suas sopas, que, ao longo de sua vida de religiosa, distribuía aos pobres e aos não pobres, igualmente, sem distinção de classe social.

Sopas encantadas, vitaminadas, verdadeiras lições de vida e de humildade, para todos que serviam e recebiam naquelas noites geladas, de garoa paulistana, onde parecia que o frio penetrava até nos ossos. Sopas que aqueciam o corpo e a alma.

A Prefeitura de SP adotou a iniciativa e até hoje as sopas da Irmã Carolina são compartilhadas como um inesperado luxo, nas noites frias, nos acolhedores abrigos. Sopas (segredos culinários de família) como a de agrião com azeite de tomate seco, sopa completa de mandioca, de maçã, gengibre e mandioquinha, sopa de abobrinha com farinha de peixe, de macarrão Ave Maria com lingüiça e beterraba e outras dignas dos mais famosos gastrônomos e restaurantes desta Terra de Nosso Senhor.

No céu, Irmã Carolina, com certeza, continua sua obra, distribuindo suas generosas sopas aos anjos da Guarda de todos nós. AMÉM!!!


SOPA COMPLETA DE MANDIOCA.

1 colher de sopa de óleo, uma cebola picada, 250 gramas de músculo em cubos pequenos, meio quilo de mandioca sem casca, cortada em pedaços pequenos, uma cenoura grande em rodelas, 3 tabletes de caldo de carne, 2 xícaras de (chá) de escarola picada ( ou agrião), 2 colheres (de sopa) de cebolinha verde picada.
MODO DE PREPARO

Em uma panela de pressão, aqueça o óleo, refogue a cebola. Junte os pedaços de carne e refogue por 10 minutos. Acrescente a mandioca, a cenoura, dois litros de água quente e os tabletes de caldo. Misture bem, tampe a panela e cozinhe por cerca de 30 minutos após pegar pressão ou até que a carne fique mais macia. Desligue o fogo, espere sair toda a pressão, abra a panela e bata metade da sopa no liquidificador. Volte a sopa batida à panela, junte a escarola (ou agrião), misture com a sopa restante. Aqueça por cerca de 5 minutos ou até ferver. Sirva polvilhada com a cebolinha. Rendimento: 10 porções.



NÃO SE ESQUEÇAM DE AGRADECER A IRMÃ CAROLINA!!!