terça-feira, 14 de dezembro de 2010
MUITO ALÉM DO ARCO ÍRIS – UMA PEQUENA HISTÓRIA DE SUCESSO PESSOAL
As cores do Arco Íris, logo após uma chuva pesada de verão, sempre motivaram Luciana. Tudo o que era colorido fazia vibrar seus pequenos olhos levando – a um mundo de fantasias. As cores e suas misturas tornaram-se uma verdadeira razão em sua vida. Aos 7 anos ganhou de um tio um caderno para colorir, o famoso “Menino Pintor”. Que ela rapidamente coloriu misturando as cores de forma artística que todos admiraram seu precoce talento. Arte que se transformou, aos poucos, numa forte resistência aos sofrimentos existenciais. Um mundo místico de cores que se revelou, aos poucos, aprimorado pela educação artística, em seus anos iniciais de estudo. Depois tudo correu solto. A sua arte como refúgio contra a grande barreira do preconceito social. Gente pobre não precisava estudar.
Não era bonita, mas também não era feia. Quando criança padecia de rejeição. Assim, se apegou ao pai. A mãe, muito religiosa, preferia ficar enclausurada no quarto,não dando muita atenção aos dois filhos: Lucas e Luciana. A casa vivia sempre em silêncio, janelas e portas fechadas. No recreio escolar Luciana preferia ficar num canto, com poucas outras colegas, comendo seu lanchinho e observando, de longe, o irmão, do outro lado, com os meninos de sua idade, de uma série mais avançada .
Na pré-adolescência e adolescência não dava muita bola aos namoricos das outras meninas e meninos. Só Arthur, magrinho, talvez por uma certa semelhança com Serafim ,seu primo, no distante interior de Goiás, chamava sua atenção. Era o único mais atencioso com ela. O resto preferia ficar na algazarra, na única lanchonete da cidade, também na única pracinha, que era reduto dos jovens. Sempre que podia escapar voltava prá casa e se fechava no quarto, onde tinha seu pequeno ateliê e vários livros e catálogos de pintura de artistas plásticos famosos. A família era pobre e não podia dar-se ao luxo de pagar estudos de arte para que ela pudesse aprimorar seu talento. Tinha o sonho de estudar na capital até mesmo para poder se relacionar mais e ampliar seus horizontes sociais.
E foi o que acabou acontecendo. Ficou morando com uma tia que tinha uma pensão na Bela Vista. Estudava de noite pois trabalhava num Banco da rua Direita, no centro de SP para poder se sustentar.
Voltava poucas vezes à cidade. Quando os pais morreram e o irmão se casou as visitas acabaram ficando cada vez mais raras. Não havia motivos para voltar a uma cidade que, infelizmente, mantinha um grande preconceito contra quem não fosse da “elite”. No banco em que trabalhava reparou que tudo era muito cinzento, muito austero. Seu único colega, tipo sonhador, como ela, “mas com os pés no chão”, era Alfredo, paulistano da Moóca, estudante de Administração, também à noite.
Não que preferissem o isolamento, mas gostavam de coisas que a maioria não dava muito valor. Como por exemplo assistir filmes de diretores consagrados e peças teatrais que contivessem mensagens ou que despertassem polêmica sobre determinados assuntos. Iam, com frequência, a livrarias e exposições de Artes Plásticas. Digamos que se curtiam, mas não era um namoro. Cada um na sua. Alguns sábados visitavam amigos ou parentes de Alfredo e, é claro, comiam deliciosas pizzas feitas pela “nona” Alícia que também tinha uma conversa bastante agradável, animada, principalmente quando relembrava como seus pais chegaram ao Brasil, vindos do norte da Itália.
Ambos gostavam de andar a pé por uma SP que começava ter Metrô. Da avenida Paulista desciam até o centro, passando por galerias, na avenida São Luiz,pelo Viaduto do Chá, onde ficavam horas conversando nas escadas do Teatro Municipal, admirando o prédio da Ópera, de 1911.
Tudo estava bem fizesse calor ou frio, se chovesse ou tivesse aquela garoa fininha conhecida que os boêmios ou notívagos adoram. Luciana e Alfredo falavam de seus sonhos e projetos. São Paulo sempre foi assim. Talvez alguma grande entidade, um Ser supremo, sério e brincalhão ao mesmo tempo, ouvia tudo lá de cima. E jogava alguma magia pois as pessoas sempre acabavam conquistando um lugar nesta metrópole acolhedora e, de alguma forma, vinham, viviam e venciam.
Quando soube que o banco abriria um concurso para estudantes de Artes Plásticas com o objetivo de inovar as agências, dando personalidade mais apropriada à rede, é claro que Luciana, com 22 anos, se inscreveu, sem não ter muita noção, pois navegava entre a modernidade e o tradicional em suas pinturas e desenhos. Não tinha ousado muito ainda. Admirava muito a obra de famosos como Tomie Otake , Lasar Segall, Hélio Oiticica e muitos outros quando ia ao MASP, ao MAM e, em vernisages, mesmo sem ser convidada.
Os bancos já começavam a se interessar pelo que artistas conhecidos ou nem tanto, anônimos ou estudantes com propostas inovadoras, faziam. Luciana percebeu que ali estava sua grande oportunidade na vida, sonhando mais alto em sua realização profissional como artista, algo que ardia lá dentro de seu coração, sempre.
E começou a elaborar a identidade plástica para o banco. Escolhia formas, linhas, traços e tons que evidenciassem a pujança econômica de SP, mas de modo suave, poético para que cada espaço interior ou exterior ficasse modelado na mente das pessoas. Um projeto que, mesmo para um banco, sugerisse aos clientes estar entrando também numa galeria de Arte. Trabalhava no projeto cada noite um pouco e nas madrugadas de sexta e sábado, em seu quarto na pensão da tia. Alfredo ficava junto e até dava algumas idéias. E foi assim que ela se lembrou da “garoa fina, fininha” que caía sempre sobre a cidade, dos poetas que SP acolhia, bem como dos migrantes e imigrantes, da intensa vida artística da metrópole, dos seus trabalhadores, do café, das indúsrias, da informática que estava transformando tudo rapidamente, a história do Estado e da cidade naquela correria de todos os dias, a hora do rush, o verde dos parques, enfim...
Ansiosa aguardou meses e meses, contando os dias, até o resultado final. Seu projeto intitulado “O futuro agora”, que modificava até o logotipo do banco, com algumas sugestões e palpites dos organizadores do evento, foi classificado. Nunca o dinamismo foi tratado com tanta leveza. A alta diretoria do banco já a destacava entre os milhares de funcionários. Nascia uma artista bancária. Foi alvo de entrevista nos pequenos jornais da empresa e, depois em outros jornais, revistas, no rádio e na TV. Parecia coisa de novela, como aquela “Selva de Pedra”, que tinha acompanhado um pouco. As cores também logo chegariam à TV.
As modificações introduzidas no ambiente bancário a tornaram uma celebridade. Outros banqueiros a queriam em sua equipe. Ficou disputada, por exemplo, quando foi convidada a mudar o estilo do Banco da Amazônia que ficou entre o verde da floresta, o calor tropical ,as paredes destacando aspectos do grande folclore da região e suas lendas, de forma totalmente inusitada.Um Bumba Meu Boi no início da Era Digital. Imaginem vocês o que ela recriou para o Banco do Rio Grande do Sul. O Pampa Gaúcho , o gélido minuano em toda sua dimensão. As paredes internas das agências pareciam grandes obras de arte pictórica. Na parte externa, idem e os logotipos deixaram de ser aquela coisa austera, vetusta.
Em sua nova vida, Luciana viajou para os EUA, Europa e Oriente, sempre a convite.Para o hiper tradicional Banco de Boston recriou em tons e grafismos jamais vistos toda a saga dos puritanos ao chegar na América do Norte, o índios, o far west. Até poderoso Banco HSBC (Banco da China) se rendeu à arte daquela brasileira, agora com quase 40 anos, artista de renome e com uma grande empresa para dirigir. Sua equipe conta com vários artistas plásticos de várias tendências.Tudo começou com ela. Hoje, cada agência bancária no Brasil e no mundo tem uma característica própria, uma personalidade que valoriza a arte plástica em meio ao, digamos assim, capitalismo selvagem. É claro, que Alfredo, seu grande amigo e eterno apaixonado, trabalha na sua empresa, cuidando da administração de tudo, junto com Lucas, o irmão de Luciana, que também teve a sua hora e vez em Sampa, formando –se em Publicidade e Propaganda, na FAAP. Luciana nunca quis se casar. “Um dia ainda, talvez, quem sabe...”
Mora em Alphaville, mas tem uma cobertura na Avenida símbolo de SP, de onde se enxerga praticamente a cidade toda. Realizada, às vezes pensa em visitar a pequena cidade de onde saiu, há mais de 30 anos. Visita sempre adiada. O primo, Serafim, afinal, se tornou um grande repórter especial do Le Monde vivendo pelo mundo, mas morando atualmente em Moçambique, na África. Também seu sonho não cabia naquela pequena cidade de Goiás onde viveu a infância e parte da adolescência. Luciana, quando quer refletir, pensar na vida ou apenas descansar do estresse da cidade grande,vai para o seu refúgio, entre a serra e o mar, em Ubatuba, dirigindo seu próprio carro.Gosta de receber, mas também gosta da solidão, do silêncio, de ler seus livros e ver vídeos preferidos, de navegar na Net de caminhar na praia, de tomar banho de cachoeira ou, simplesmente, de madrugada, ficar vendo o mar prateado pela lua cheia, lá longe. Quando está no Brasil, o primo praticamente mora no refúgio de Luciana. Alfredo também é freqüentador assíduo do refúgio. E, Lucas que gosta de velejar. Formam um pequeno grupo de vencedores, cujo empreendedorismo valeu a pena. Apostaram tudo e ganharam.
Mas tiveram de lutar contra muitas adversidades na vida para atingirem seus objetivos e realizarem seus sonhos. Em sua tela, no computador, Luciana implantou a foto de um imenso arco íris, cuja cauda termina em alto mar, lá onde, segundo a lenda, deve haver um grande pote de ouro. Para nunca esquecer o começo de tudo. Resumo da Ópera: A felicidade buscada o tempo todo, com muita garra, over the rainbow.
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