quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

DAIANE E PEDRO; AMOR ENTRE HINOS EVANGÉLICOS!!!


Na Cadeia todos já estavam acostumados a ver, todos os domingos, ás 2 horas da tarde, aquele grupo de fiéis evangélicos, assíduos que eram na visita dominical aos presos. Calor ou frio, vento ou chuva, nada afastava aquele grupo de religiosos, conhecido na cidade pela força de sua temperança e constância, do amor a Deus e ao próximo e, sobretudo, grande misericórdia e compaixão bíblica, na missão de levar um pouco de conforto espiritual, na tentativa, difícil, (deveras!) de salvar aquelas almas da mais completa perdição, naquele fim de linha que representava para aqueles 98 detentos, o duro confinamento para pagar suas curtas,médias ou longas penas, de acordo com o delito que tinham praticado pelas ciladas do destino cruel, dos percalços da vida ou seja lá o que fosse que tivesse acontecido.

“Pescadores de homens serei, de homens serei, de homens sereis, seeeguindo a Cristo, seeeguindo a Cristo, seeeguindo a Cristo, pescadores de homens serei, de homens serei...” Entre hinos e palavras de estímulo e auto-ajuda, sempre citando histórias bíblicas do Velho e do Novo Testamento, aquele grupo de missionários, tentava resgatar para a vida e para sociedade, um deles que fosse já representava uma grande obra divina.

Como domingo era dia de visita de familiares e amigos, todos eles acabavam também recebendo um pouco dessa mensagem de ternura e paz. Mas sempre havia os indiferentes, que ficavam num canto,conversando, rindo, matando as saudades. Eram pais, mães, irmãos, tios, amigos, enfim. As visitas eram curtas, não mais que uma hora, a mesma duração dos cultos impregnados de orações igualmente. Nesses momentos o duro ambiente do cárcere se enchia de uma nova esperança. “Um dia saio daqui e vou mudar a minha vida...” Frases soltas, abraços e lágrimas.


Os presos, homens e mulheres ficavam separados por alas e grades. Alguém pode sentir o cheiro entranhado que parte do interior das celas, do ajuntamento de seres humanos?! Apesar da limpeza diária, com creolina, que os funcionários e mesmos os presos fazem para melhorar um pouco a área central onde os visitantes se reúnem, o cheiro é algo inominável. Parece partir de dentro de um calabouço úmido e fétido, mistura de suor contido, urina e fezes. É insuportável. Acostuma-se? Cheiro de vida não é! De morte! Quase!

Foi num desses cultos, na semana de mais um Natal, que Daiane, 17 anos, conheceu Pedro, 25, quando suas mãos se tocaram,levemente, num raro e rápido momento, ao virar uma página da Bíblia Sagrada, ao ler um versículo, que falava do nascimento, paixão e morte de Jesus Cristo na distante e histórica Galiléia. Todos sentem um pouco de temor ao ficarem perto demais dos presos, nessas horas. Mesmo com a vigilância atenta dos guardas.

Não foi o caso aqui entre eles. Mesmo que timidamente, o coração de ambos bateu um pouco mais forte entre os vãos das grades de ferro. Foi com serenidade, contudo, que os olhos da jovem evangélica e do sofrido preso se cruzaram. Pedro queria estar do lado de fora das grades para poder ficar mais junto dela. Daiane, com recato, mesmo por estar perto da mãe, retribuiu o olhar, deixando, com certeza, um pouco mais de alegria e esperança de salvação no coração de Pedro, que antes de tudo, era e é um ser humano como outro qualquer. História comovente! Com certeza sim! Mas não pensem que foi fácil! Daiane começou, apesar de contrariar um pouco seus pais, a se corresponder, por carta, com o preso. E todos os domingos, ansiosamente, aguardavam para vê-lo. O pastor consentiu, mas aconselhou a ir devagar com este inusitado namoro, para não ferir, com os conhecidos preconceitos, o jovem casal que se amava entre as grades. É o amor superando tudo. Pedro também se percebia, na medida do possível, e caprichava mais no visual. “Está lindo!” disse ela um dia. “Para mim você está sempre linda!” disse Pedro, mostrando um pequeno retrato que ela lhe tinha dado, no decorrer dos encontros. Ganhou roupas novas num Dia dos Namorados.



Por causa da vida criminosa que levava desde adolescente e de maior, o jovem nunca tinha namorado e nem tido compromisso firme com nenhuma mulher. Daiane, muito jovem, nunca tinha passado dos namoricos. Mesmo assim, só na porta da igreja que freqüentava num bairro distante, sob o olhar dos pais e das “irmãs e irmãos”, como se reverenciavam todos naquela seita. A comunidade era rigorosa na preservação da moral e dos bons costumes. Todos eram felizes naquela vida simples que levavam apesar dos problemas e pesares da vida cotidiana. Que passavam no correr dos dias.
Imperando quase sempre uma discreta alegria de viver, como o bom Deus nos dá.
O amor foi num crescente fértil entre Pedro e Daiane.

O conforto vinha, certamente, com hinos, pregações e orações pedindo cura divina. E era o que acontecia com todos, quando afirmavam que “a mão de Deus agiu, sem dúvida”.Aleluia,aleluia!.. Naturalmente haviam algumas diferenças, ciúmes e pontas de inveja gerando momentos de fofoca nas esquinas perto da igreja. Até todos sumirem, após os cultos, nas ruas sem muita iluminação, rumo a suas casas, cuidando da vida, todos os dias.

“Ó que belos hinos cantam lá no Céu... Aleluia, Aleluia...” E foi assim, durante três longos anos, até que Pedro foi libertado, pagando sua dívida com a sociedade. E lá estava Daiane, aos 20 anos, trabalhando como enfermeira num Hospital, o que sempre sonhou para sua vida profissional, na porta da Cadeia, correndo logo para abraçá-lo como nunca tinha feito por causa das grades. “E lá estavam familiares de ambas as partes, parentes, o pastor e todos os irmãos e irmãs da Igreja, num verdadeiro mar de lágrimas”, de tanta emoção, como numa antecipação do casamento que aconteceu, numa tarde gloriosa, iluminada pelo sol da primavera, lotando a igreja de fiéis e muita gente curiosa também. A vida e, principalmente o AMOR, tinham vencido, de forma inconteste. Sem grades, barreiras ou muralhas. Com muita compreensão, carinho e respeito. Simples, como são as coisas simples. E basta isso.

Esta história como existe muitas outras semelhantes, aconteceu realmente. Não me perguntem onde? Por aí... Pela vida...

Existe algo quase semelhante na novela Fina Estampa, onde Agnaldo Silva, o autor, criou um personagem que se entrega à polícia, para redimir de seus crimes e ganhar o difícil amor da jovem Amália, filha de Griselda, conhecida pelo seu grande caráter. Por ser do bem.

Vamos ver o que, no final, vai acontecer ao jovem Rafael que, no capítulo desta semana, ficou preso!

Quanto aos noivos Daiane e Pedro, vieram sua lua de mel, na pacata cidadezinha de Maria da Fé, no Sul de Minas. Ele conseguiu um emprego. Foi difícil, mas conseguiu vencer o preconceito que a sociedade tem sobre os ex-detentos. No batido carro emprestado por um irmão da Igreja, podia se ver, além do famoso “recém casados”, a frase, repleta de ternura – “Todos me seguem, mas apenas JESUS me Acompanha”.

Com toda certeza, concordam?!

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