sábado, 28 de agosto de 2010

Passione - uma história de amor.

Jovens imigrantes, recém chegados da Itália, se encontraram, por acaso, nos arrozais de Quiririm, no começo do século. Ou destino. Pois foi amor a primeira vista. As famílias se opuseram, como de início, todas as famílias se opõem. Mas não teve jeito. Casaram-se depois às escondidas. Vieram os filhos. Viviam um eterno namoro. Desses jamais visto na face da Terra. Bela. Belo. Com todos os ingredientes. Mas vá entender as pessoas e os conflitos! O amor que os unia se manteve sereno entre a tormenta de muitos anos de incompreensão e intolerância familiar. A colonia quase virou as costas aos jovens namorados.

Vieram netos. Quatro. E mais quatro. Daí, num belo dia, o pai-avô resolve voltar a falar com a filha e aceitar o genro. O velho chorou como uma criança, recuperando um tempo que sabia, no fundo do coração, quase tinha perdido. Pediu perdão, antes que o efeito da ingratidão injusta mais o devastasse em vida. Riu e beijou, com a alma de todos lavada. A colonia paralisou. Os netos, já um tanto crescidos, foram abraçados e acolhidos. A comemoração foi por muitos dias. E anos.

E o casal foi feliz até que a morte os separou, setenta e cinco anos depois. Mas quem viu as gerações se sucedendo e a mistura se fazendo entre moças e rapazes de outras famílias e raças (portugueses, brasileiros, alemães, mulatos, indios, nordestinos) relembravam ou, quem não sabia, procurava saber, quem tinha sido os ancestrais: Marieta e Giorgio, que um dia se encontraram entre os arrozais de Quiririm marcados pelo cálido sol de outono do Vale...

Tudo aconteceu como se fossem cartas marcadas pelo tempo. O nosso "quatrilho" continua até hoje sendo jogado pelos mais velhos. E também o "truco". Só que este até pelos mais novos. De repente o adolescente entra na sala e apresenta a namorada. "É minha noiva daqui prá diante, vocês aceitam?! Por que se não aceitarem a gente vai ficar junto de qualquer modo e depois a gente se conversa..."

Resumindo: este foi o começo e é o hoje de uma das mais conhecidas famílias descendentes de italianos de São Paulo. Como uma colcha de retalhos ou um bordado pacientemente elaborado por mãos e vidas experientes, cada ponto conta uma história de amor. E de vida. Muita vida vivida. Foi e é assim que tudo aconteceu e acontece.


Texto de 1995, quando o filme brasileiro "O Quatrilho", de Bruno Barreto, recebeu o Oscar como melhor filme estrangeiro, rodado em Caxias do Sul, terra do vinho bom e que conta uma historia de amor entre imigrantes. Neste mesmo ano o Circolo Italiano Leonardo da Vinci, de Jacareí, promoveu no MAV (Museu de Antropologia do Vale) a exposição "Memórias da Itália", com fotos e documentos relembrando muitas histórias de vida e amores vividos por aqueles que escolheram a região como morada.


Deus Imenso

Senhor, no silêncio desta manhã, início de um novo dia, concedido pela sua extrema gratidão, pude contemplar, em paz, o Teu esplendor e a Tua magnitude. Pude ver e perceber que as grandes árvores frondosas espelham o teu imenso poder, na multicultura das formas e funções. Que o Senhor as colocou entre os homens para ornamentar a Terra e purificar o mar com suas folhas e flores.
Para alimentá-los com seus frutos e abrigá –los nos dias quentes, com suas sombras frescas. Que, quando são derrubadas pelo homem, transformam-se em habitações, móveis, cercas de proteção e até papéis. Que servem de moradia para os pássaros, insetos, formigas e as protegem da fúria da natureza na época dos temporais ;além de os alimentar.

Que, apesar de todos esses benefícios, o homem, ao invés de agradecer e conservar essa dádiva divina, por causa da sua ganância, destrói impiedosamente as florestas do mundo. E, aos poucos,vai destruindo tudo o que Deus construiu com amor e por amor. Vai limitando os sonhos de um mundo melhor. E assim vai delineando o destino triste e pavoroso da humanidade que caminha para o fim.

A natureza, criada por Deus, é o elo entre o homem e o Criador. Quando o homem destrói a natureza perde o contato com Deus e decreta a sua morte. Ó Senhor, perdoai os homens destruidores da natureza, porque eles não sabem o que fazem.

Avani Antonio de Carvalho – Santa Branca ( Deserto – 17 de nov. 2002)


CAMINHADA

Colabora para o bom funcionamento dos sistemas cardiovascular e respiratório. Além de queimar calorias, fortalece a musculatura dos membros inferiores e melhora a postura.


CAMOMILA

Ajuda a purificar o sangue, eliminando impurezas e promove a desintoxicação. Tem função calmante sobre o sistema nervoso e alivia problemas digestivos. Compressas com o chá de camomila sobre a pele podem aliviar inflamações e irritações.

CABEÇA FEITA

Depois dos 21 anos,leituras de Leon Tolstoi, Fernando Sabino, Machado de Assis, Guimarães Rosa, João Cabral de Melo Neto, Fernando Pessoa, Hemingway, Gilberto Freire, Paulo Bonfim, Jorge Amado, Érico Veríssimo, Jean Paul Sartre, Ernest Fischer, Lima Barreto, Graciliano Ramos, Nélida Pinõn,Cortázar, Leylah Assumpção, Clarice Lispector, Manuel Bandeira, José Lins do Rego, Dias Gomes,,Vinícius de Moraes, Ferreira Gullar,Cecília Meirelles e uma enorme pá de gente boa como se diz hoje, começaram a me FAZER A CABEÇA.

Agosto 1945

Maria Maeda só ouviu e viu de longe o enorme rugido e a bola de fogo subindo aos céus de Hiroshima. O vento seco e a chuva negra atingiram pouco, ela e seus pais, na desesperada corrida que fizeram por uma estrada sem fim. O pressentimento de uma grande tragédia fizeram com que eles tomassem a iniciativa de correr o mais que pudessem.

Com apenas 10 anos chegou ao Brasil em 1947. Do porto de Santos chegaram a São Paulo e, depois de algum tempo na casa de outros japoneses no bairro da Liberdade, seguiram, de trem, parando em Guararema, uma bucólica cidadezinha às margens do rio Paraíba. Criaram a colônia Cerejeira e plantaram caquis na terra preta muito fértil. Saborosos frutos que fizeram fama.

E a vida seguiu seu rumo, no cotidiano de levantar cedo e deitar tarde, após as tarefas no campo. A Cerejeira,pequeno recorte do Japão recriado no Brasil, um lugar de paz, muita paz . Maria Maeda cresceu, abrasileirou, mantendo, porém, as ricas tradições nipônicas que se revelavam, por exemplo, na extrema cortesia com todos os visitantes que chegavam ao local.

A bola de fogo da morte foi sumindo, aos poucos de sua memória, sendo substituída pelo bola vermelha e inspiradora do sol poente que ela parava para admirar, todos os dias, numa das colinas da colônia. E sentia uma renovada energia para recomeçar sempre. Forte e feliz. Não havia lugar para tristezas em seu coração. Definitivamente não.


Tensão Emocional

Não raro,encontramos, aqui e ali, os irmãos doentes por desajustes emocionais.Quase sempre não caminham.Arrastam-se.Não dialogam. Cultuam a queixa e a lamentação.

E, provado está que, na Terra, a tensão emocional da criatura encarnada se dilata com o tempo. Insegurança, conflito íntimo, frustração,tristeza,desânimo, cólera, inconformidade e apreensão, com outros estados negativos da alma, espancam sutilmente o corpo físico, abrindo campo a moléstias de etiologia obscura,à força de se repetirem constantemente, dilapidam o cosmo orgânico.

S consegues aceitar a existência de Deus e a prática salutar dessa ou daquela religião em que mais te reconfortes, preserva-te contra semelhante desequilíbrio. Começa, aceitando a própria vida tal qual é, procurando melhorá-la com paciência.Aprende a estimar os outros como se te apresentem,sem exigir-lhes mudanças imediatas.Dedica-te ao trabalho em que te sustentes, sem desprezar a pausa de repouso ou o entretenimento em que se te restaurem as energias.

Serve ao próximo tanto quanto puderes. Detém-te ao lado melhor das situações e das pessoas esquecendo o que te pareça inconveniente ou desagradável. Não carregues ressentimentos. Cultiva a simplicidade evitando a carga de complicações e de assuntos improdutivos que te furtem a paz. Admite o fracasso por lição proveitosa, quando o fracasso possa surgir.Tempera a conversação com o fermento da esperança e da alegria. Tanto quanto, possível não te faças problema para ninguém, empenhando – te a zelar por ti mesmo. Se amigos te aban donam, busca outros que te consigam compreender com mais segurança.

Quando a lembrança do passado não contenha valores reais, olvida o que já se foi,usando o presente na edificação de um futuro melhor.Se o inevitável acontece aceita corajosamente as provas em vista na certeza de que todas as criaturas atravessam ocasiões de amarguras e lágrimas. Oferece um sorriso de simpatia e bondade seja a quem for.

Quanto à morte do corpo, não penses nisso, guardando a convicção de que ninguém existiu no mundo, sem a necessidade de enfrentá-la.
E, trabalhando e servindo sempre, sem esperar outra recompensa que não seja a benção da paz na consciência própria, nenhuma tensão emocional te criará desencanto ou doença, de vez que se cumpres o teu dever com sinceridade, quando te falte forças, Deus te sustentará e onde não possa fazer todo bem que desejas realizar, Deus fará sempre a parte mais importante. EMMANUEL

sábado, 14 de agosto de 2010

A moça do Zeppelin



O graff Zeppelin, antes de seguir para Rio e São Paulo em Outubro de 1929, fez uma parada forçada em Recife. Pousou num campo onde hoje é o Aeroporto Internacional de Guararapes. Vinha da Alemanha onde o Nazismo dava início a sua mais cruel escalada de violência e em sua primeira viagem a América do Sul cujo destino final seria Buenos Aires, Argentina.

Passagem rápida para descer Gilberto, o filho do mais poderoso dono de um engenho de açúcar de Pernambuco e recém formado em Engenharia Hidráulica em Berlim. Escala não prevista mas conseguida a custo de manobras com oficiais alemães. Aos 23 anos guardava ainda traços de sua adolescência e era muito brincalhão.

Quando criança vivia entre os canaviais do pai a perder distância. Depois a capital onde se formou no ginásio e no colégio. Pele morena, cabelos pretos e lisos e grandes olhos verdes que herdou da mãe, revelando a origem holandesa do passado da família. Falava misturando português e alemão só de gozação. Mas despediu-se em francês da jovem Lisa de 16 anos e filha de um pequeno empresário alemão que ja percebera que o Brasil era a terra do futuro e aqui expandiria seus empreendimentos comerciais. Durante a viagem sobre o Atlântico ousou alguns beijinhos onde ela sentiu pela primeira vez o gosto de açúcar mascavo e rapadura.



Lisa nunca tinha visto um homem moreno como aquele. Gilberto, de terno branco e chapéu impecáveis se assemelhava mais ou menos ao ator Rodolfo Valentino que naquele ano abalava as telas em filmes vindos de Hollywood. O que Lisa ainda não sabia era que o destino o colocaria mais uma vez em seu caminho. Desta vez em São Paulo em 1930 no auditório da Faculdade de Direito São Francisco onde Gilberto aceitara o convite para professores e alunos sobre sua experiência universitária na Europa.

Agora aos 17 anos Lisa sentiu seu coração bater acelerado ao ver aquele grandalhão pernambucano forte e bonito que já estivera até em Nova Iorque e outras cidades americanas em seu aprendizado de mundo. Ali estava diante dele reelembrando a viagem no Zeppelin. Dois anos depois (quem diria!) Lisa já estaria casada com ele, vivendo um amor engajado na Revolução Constitucionalista de 1932. Foi mesmo um amor à primeira vista.

Uma bala getulista, quase matou Gilberto, perto de Cruzeiro, no Vale do Paraíba. Socorrido sobreviveu com seus ideais. Apesar de família tradicional, secretamente se tornou comunista ao conhecer Luis Carlos Prestes, "O Cavaleiro da Esperança" num evento politico no Rio de Janeiro.

O trem das tropas paulistas em direção ao front parou rapidamente numa estação cujo nome chamou atenção do jovem soldado - Jacarehy -, onde várias senhoras voluntárias ofereceram aos soldados xícaras de café bem forte, um biscoito e bolinhos feito de carne misturado com farinha de milho branca, já tradicional na região. "Hummm, que gosto bom!" Todos estavam com muita fome. Para arrematar tomou um copo de garapa que adoçou a sua boca e o fez lembrar com saudades, a sua terra longe, longe. O nome da estação ele jamais esqueceu. Depois da guerra civil paulista viveu aqui por vários anos com Lisa sua eterna "namorada" até ser convocado em 1942 para lutar na FEB - Força Expedicionaria Brasileira, na Itália, combatendo o mesmo nazismo que ele vira em seu início na Alemanha.

Ja tinha um casal de filhos, Ingrid e Bernardo. Foram anos de puro encantamento tendo recebido alguns anos depois o titulo de Cidadão Jacareíense. Morreu em 1998. Sua mulher o seguiu três anos depois. Mas os filhos, netos e bisnetos estão por aí, felizes da vida, bem brasileiros e com uma história de amor linda para contar, como a de seus pais. Um grande amor vivido sem barreiras e sem fronteiras como o próprio Brasil.



Gentileza gera gentileza

Ensinar com amor é melhor lição que se pode dar.

Canção

Pus o meu sonho num navio
e o navio em cima do mar;
- depois, abri o mar com as mãos,
para o meu sonho naufragar
Cecília Meireles

Erro de Português
Quando o português chegou
Debaixo de uma bruta chuva
Vestiu o índio
Que pena!
Fosse uma manhã de sol
O índio tinha despido
O português.
Oswald de Andrade

Canto do povo de um lugar
Todo dia o sol levanta
E a gente canta
Ao sol de todo dia
Fim da tarde a terra cora
E a gente chora
Porque finda a tarde
Quando a noite a lua mansa
E a gente dança
Venerando a noite

Caetano Veloso

"A função da escola é ensinar às crianças como o mundo é e não instruí-las na arte de viver(...) Não se pode educar sem ao mesmo tempo ensinar; uma educação sem aprendizagem é vazia e portanto degenera, com muita facilidade em retórica moral e emocional."

Hannah Arendt

Alongue, relaxe e viva.

A Horta

Agora plantei chicória e beterraba. A cenoura, a couve e a alface crespa já doei aos vizinhos, a compostagem rendeu 200Kg. Uma parte distribuí para os moradores e a outra parte recomecei 2 novos canteiros. Recomecei também uma nova compostagem (adubo orgânico) com ajuda do Marcos, meu vizinho. Os moradores da rua estão me dando restos de frutas, verduras e legumes; cascas de ovos e pó de café usado. Dessa maneira, daqui uns tempos, poderei doar mais terra vegetal para quem quiser e assim estimular que eles próprios façam adubo em casa. É uma forma de colaborar com a natureza e a comunidade.

sábado, 7 de agosto de 2010

Ó Pai, Ó - Uma carta com muito axé

Edvaldo, você será o primeiro a receber carta minha dessa terra do nosso senhor do Bonfim, faz 24 horas que estou em Salvador e ainda não consegui fechar a boca de tanta felicidade. Quando o avião pousou no aeroporto e pisei em solo baiano, a emoção tomou conta de mim, Naquele momento parecia-me que todos os Orixás me saudavam, era um voltar as origens, senti o sol sobre a pele e uma infinita paz dentro de mim e as lágrimas correram pelo meu rosto. Apartir daquele momento até neste instante que volto da visita as igrejas de São Francisco, São Bartolomeu, museu da cidade e lago do Pelourinho. No lago do Pelourinho você respira gente, nesse lugar havia um coral cantando músicas de saudação a Bahia. Existe no ar musica, parece que todos se parecem com Caetano, Betania e Vinicius de Moraes, ouvi uma apresentação de cantores populares (cordel) e uma apresentação de capoeira, a cada rua, em cada esquina é uma surpresa, um encantamento mas também muito de história. No rosto deste povo percebe-se uma grande simplicidade misturada com folclore, com música, parece que cada um tem dentro de si algo de artístico.
Hoje vou almoçar com um amigo. Ele virá me buscar aqui no hotel, meu quarto é de frente para o mar, lindo de morrer, o hotel é muito confortável e tem acesso de condução para todos os lugares.



Hoje é 1º de Novembro de 1977, não tive tempo de terminar a carta. Fui a igreja de Nosso Senhor do Bonfim, é linda, almocei no Mercado Modelo, comi num restaurante de uma baiana conhecida em toda Bahia, existem frases escritas por Jorge Amado, Vinicius, Dorival Caymi, etc. Até o presidente já comeu aqui, comi vatapá, caruru efó e muqueca de peixe. Como sobremesa comi doce de caju e cocada; batida de gengibre, estou estourando. Comprei sua bolsa e uns badulaques para o pessoal de casa. Lá tem coisas lindas mas caras, e como desta vez eu vim só para conhecer, da próxima as novidades serão melhores. Estou fotografando tudo, ando pela cidade como uma baiana, já conheço até os ónibus. Passei ontem pela famosa zona de meretrício do Pelourinho. É um barato, muito popular mesmo, cheio de turistas. Estive em Itapuâ, comi caranguejo, xinxin e outras comidas. Bebi cada coisa mais estranha que nem sei. Saudades de todos. Abraços e lembranças e faça força para voltar a São Paulo pois não dá vontade. Tchau

Edna - 1977

Você se lembra?

Feliz Natal



Como um clip. Rapidamente passou a sua vida a limpo. Tinha acabado de passar por uma dura lição. A de confiar demais em si e nas pessoas, como se fosse imune a qualquer tipo de desgraça, doença ou contra tempo. Tinha uma larga consciência de que a vida no pais, a vida das pessoas não estava valendo muita coisa, diante da famigerada lei de Gérson. Agora não teria mais nada de valor material. Assim o sentimento de perda se anularia pois não teria sentimento de posse. Perder a ingenuidade, um pouco do idealismo de que algum dia poderia mudar o sistema.

Isto valeria também para sua vida afetiva. O aprendizado do amor sempre foi muito difícil para ele desde da adolescencia, mas caminhara, aos trancos e barrancos, superando traumas e preconceitos. Homem feito, cidadão, amargava a terrivel timidez com as mulheres. Se sentia melhor entre os homens. Solteirão, quase um dândi. Professor, dedicava se aos alunos, era missão sacerdócio, embora a profissão como tantas, estivesse cada vez mais desgatada.

Um Insight: ademais o que representavam uma tv, um video, um radio-gravador, um relógio, e 200 mil cruzeiros. Nem mesmo os investigadores do 6º Distrito Policial tinham movido um dedo, arredado um passo, mexido uma palha para localizar e prender os ladrões. "E assim mesmo, acontece todos os dias, não podemos fazer nada", disseram. Há um mês do natal, tudo aquilo que fora comprado com tanto sacrifício sumira nas mãos de alguns ladrões pés-de-chinelo que entraram na casa enquanto ele dava aulas na escola estadual do próprio bairro.

Tomou decisão de nada mais comprar, a não ser o essencial. Teve de remoer o nojo que sentiu ao ver sua privacidade invadida. E sofrer com a impotência de um sistema que não mais protege, por falta de condições, os cidadãos. Aqueles mesmos cidadãos, com toda certeza trocarão trocarão cartões de boas festas e Feliz Ano Novo, com renovada esperança que uma trégua seja decretada. A sofisticação eletrônica ficaria nas próprias lojas. Quem sabe numa liquidação poderia comprar alguma coisa.

Revoltado, teve ainda que contar e recontar para os parentes, amigos e vizinhos o acontecido. E os indefectíveis tapinhas nas costas. "Não sofra, até o papa, o presidente, os ministros são roubados (e também roubam?!) Melhor seria que todos, ao invés de reclamar fizessem um boicote e decidissem não comprassem mais nada das lojas, apenas o essencial. Nada de supérfluo. Só o arroz, feijão, o leite, o pão! E então! Em dois, uma semana no máximo o sistema pediria arrego e as regras do jogo mudariam! Utopia! É mas imagina se não fosse! Nada comprado, nada haveria para se roubar. Mas tudo depende das pessoas, que como sempre, são submissas a tudo e não se revoltam.

O que mais doía era perceber a transformação em sua cidade. De bucólica passava a violenta, como nas metrópoles. Seres estranhos cada vez mais chegavam em levas. De repente ficavam difícil encontrar os amigos de sempre, de curtir a vidinha interiorana, tomar o café com bolinhos de chuva no meio da tarde. A cidade, mesmo enfeitada pelo natal e aguardando a chegada de um novo prefeito estava suja, entupida de gente desgastada e mal amada.

Gente que não tem culpa de nada, que quer apenas um lugar ao sol e tenta tudo, até não tentar mais nada e passar para o outro lado, o lado das sombras, do escuro, do breu. Mais que um roubo era uma traição, uma covardia, algo difícil de assimilar, de pegar leve assim. Cansara. Apartir de agora, na casa, tudo seria de plástico, como os pratos e talheres da casa de veraneio na praia que também já fora roubada varias vezes. Fazer o que?!

Os sonhos estariam também bem guardados, na caixa forte do fundo do coração, ali, naquele lugar indevassável, num cantinho bem pequeno ainda não visitado pela mágoa deste insensato mundo estaria a sua pureza, sua grande vontade de, sem nenhuma demagogia, construir um mundo melhor, habitável, amigável e respirável. Pelo clip viu que sua vida estava limpa, quase sem pecados. Poderia continuar. Era um pequeno consolo para quem está morando numa terra de ninguém, mais mal amada do que ele. Já que, como simples cidadão nada podia fazer, deixava para as autoridades de plantão, a grave questão social.

Passada a decepção se sentia mais leve, mais coerente com seus pensamentos. Se pudesse, como alguns privilegiados, apagaria a luz do aeroporto e embarcaria para qualquer lugar de um mundo mais civilizado. Como não podia, tinha que se contentar em viver mesmo por aqui, se possível num bairro mais tranquilo. Sossegado, chegou até a desejar, em seu silêncio-reflexão, um Feliz Natal e um Próspero Ano Novo para todos. Estava em paz. Difícil, mas estava.


Edvaldo Ribeiro de Oliveira - 1982

Mano Menezes: Uma nova era




Infelizmente ainda não foi dessa vez. Agora com o técnico mano menezes vamos ver se ganhamos a copa de 2014 no Brasil. Teremos 4 anos para acreditar no sonho de que podemos ser hexa.