sábado, 28 de agosto de 2010

Agosto 1945

Maria Maeda só ouviu e viu de longe o enorme rugido e a bola de fogo subindo aos céus de Hiroshima. O vento seco e a chuva negra atingiram pouco, ela e seus pais, na desesperada corrida que fizeram por uma estrada sem fim. O pressentimento de uma grande tragédia fizeram com que eles tomassem a iniciativa de correr o mais que pudessem.

Com apenas 10 anos chegou ao Brasil em 1947. Do porto de Santos chegaram a São Paulo e, depois de algum tempo na casa de outros japoneses no bairro da Liberdade, seguiram, de trem, parando em Guararema, uma bucólica cidadezinha às margens do rio Paraíba. Criaram a colônia Cerejeira e plantaram caquis na terra preta muito fértil. Saborosos frutos que fizeram fama.

E a vida seguiu seu rumo, no cotidiano de levantar cedo e deitar tarde, após as tarefas no campo. A Cerejeira,pequeno recorte do Japão recriado no Brasil, um lugar de paz, muita paz . Maria Maeda cresceu, abrasileirou, mantendo, porém, as ricas tradições nipônicas que se revelavam, por exemplo, na extrema cortesia com todos os visitantes que chegavam ao local.

A bola de fogo da morte foi sumindo, aos poucos de sua memória, sendo substituída pelo bola vermelha e inspiradora do sol poente que ela parava para admirar, todos os dias, numa das colinas da colônia. E sentia uma renovada energia para recomeçar sempre. Forte e feliz. Não havia lugar para tristezas em seu coração. Definitivamente não.


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