domingo, 31 de outubro de 2010

O FIM DO MUNDO (Recordações à beira de um vulcão) Conto terapia
“Hoje num tá com jeito que o mundo vai acabar?” A pergunta de Margarida soou esquisito naquela manhã sem sol, assim do nada, com os olhos arregalados, sentada ao lado de Gilberto que ficou meio apalermado. Crianças, aguardavam naquele mês de fevereiro, o reinício das aulas na pequena escola do Sindicato Operário, sentados na guia da calçada daquela rua de paralelepípedos recém nivelada pelos calceteiros da Prefeitura. Entretanto não havia nada de anormal no ar e distraído ele nem teve tempo de responder, meio que perdido em seus pensamentos, mexendo com a ponta dos dedos num pequeno monte de areia.
O fim do mundo era algo que nem poderia passar pela mente ou imaginação de duas crianças. Principalmente quando a chegada do carnaval estava bem próxima e os blocos e cordões encheriam as ruas com marchinhas e fantasias e muita alegria. As aulas continuariam a ser dadas pela dona Yolanda, negra, muito carinhosa com os pequenos alunos e dedicada ao magistério como num sacerdócio. O sol voltou a brilhar aos poucos desfazendo a névoa e o dia continuou. Gilberto só voltou a pensar na estranha pergunta de Margarida de noite, quando a mãe o obrigou a ir para a cama, apagando de sopetão a luz do pequeno quarto.
Ele achava Margarida meio doida, mas era uma de suas melhores amigas naquela infância quase que perdida na pobreza da cidade onde todos eram solidários uns com os outros. Os pais trabalhavam no comércio ou nas pequenas fábricas de tecidos. Só uma grande fábrica de fogos de artifício se destacava. Havia a zona rural, mas se não fosse o esforço coletivo da pequena colônia japonesa, seria totalmente improdutiva. Alguns fazendeiros criavam vacas e delas ordenhavam o leite que ia para a única cooperativa do município. Na escuridão do quarto pensava como “que o mundo poderia acabar se tudo estava em ordem.” Começou a procurar indícios do fim do mundo em sua imaginação. Lembrou-se do filme “Guerra dos Mundos”, exibido recentemente no único cinema da cidade e de como ficou assustado com aquela terrível invasão marciana, matando tanta gente e destruindo cidades inteiras.




Como o mundo poderia acabar se todas as manhãs a sua mãe, antes de sair para o trabalho, deixava o café com leite quentinho, o pão com manteiga sobre a mesa e o acordava, com extrema ternura para não perder a hora da escola. “Levanta, filho, está na hora, deixe de preguiça”. O pai levantava mais cedo e logo saía. Se um dia a mãe morresse aí sim, seria o fim do mundo, pensou. Gilberto amava a mãe até mais que o pai que ele achava meio rude no trato com ele, com a mãe e sua única irmã, a Valéria. Era um enigma para ele, ver o pai sempre muito sério ou era apenas impressão? A mãe, ao contrário, estava sempre alegre, cantando enquanto arrumava a casa, deixando-a bem limpinha, apesar se ser uma casa simples, como todas as outras das redondezas.
Como o mundo poderia acabar se quando chegava da escola a comida estava prontinha e quentinha, mesmo que fosse apenas arroz com feijão e um pouco de carne com legumes? E de noite, a mãe levava um copo de leite morno e algumas bolachas prá ele na cama! Margarida não tinha razão, era meio doida mesmo. Mas tinha pena dela, pois morava numa pequena vila com a mãe. O pai tinha morrido numa explosão na fábrica de fogos. O acidente deixou mais gente queimada e mutilada.Para muitos foi uma espécie de fim do mundo.Parte da fábrica e metade de um quarteirão foi para os ares numa grande bola de fogo.



Dona Helena, mãe de Gilberto, é quem levava algum alimento para sua mãe, nem que fosse um pouco de açúcar, um pão. Na convivência com Margarida, ele tinha reparado que ela tinha os olhos um pouco triste. Com certeza por causa da morte trágica do pai. Era como se ela vivesse o fim do mundo todos os dias e sua alegria era diferente das outras meninas e meninos de sua idade. Por isso, talvez, Gilberto tivesse um especial carinho por ela.
Antes de pegar no sono Gilberto pensou – Ora o fim do mundo não existe É só na imaginação da gente! Mas, no meio da noite, veio o pesadelo. Como um sonâmbulo levantou-se e viu-se na casa sozinho, às escuras. Mãe? Pai? Valéria? Cadê vocês? Nada. Chegou até o corredor que parecia longo demais. A cozinha, apenas o gato em cima de um armário com enormes olhos em brasa uma secura na garganta, um suor no rosto, um calafrio na espinha. Um vulto foi crescendo a sua frente. DEUS OU O DIABO? Assustado, correu. Mas parecia que tinha chumbo nas pernas. Não conseguia chegar até a porta da rua. Trancada, ela parecia enorme e intransponível. Voltou pelo corredor escuro e ouviu um gemido da mãe –“Ai, Ai, está me machucando” Gilberto gritava “Pai, pai, não faça isso, não, não...” Em seu delírio, ouvia a voz do vulto em seu ouvido- “Você aí brincando, alegre é seu pai lá todo queimado, a CULPA foi sua,viu, quem mandou abrir a torneira do bujão de gás, por isso a casa pegou fogo!”
Sacudido pela mãe, Gilberto foi voltando a si. “Que foi filho? Estou aqui, calma, calma, estava sonhando”. Com lágrimas nos olhos, agarrou-se à mãe. Depois de tomar um pouco de água com açúcar providenciado pela mãe, foi se acalmando. Trocou o pijama pois tinha urinado nele. Antes de pegar no sono de novo, Gilberto percebeu que aquele escuro, aquele breu impenetrável a qualquer claridade o perseguiria para o resto da vida como um fantasma sofredor. O que para ele era uma luta feroz na escuridão era apenas um ato de amor entre seus pais.
Mas só com muita dor e aflição e muitos e muitos anos mais tarde, com a ajuda de um terapeuta psicanalista ao reconstituir toda aquela cena, finalmente, pode distinguir claramente o que se passava em sua mente, naquela longa noite, em que parecia que o mundo estava se acabando. Nas sessões o terapeuta, espiritualista conhecido na cidade, tocou fundo na ferida. “Por favor, não me machuque, meu pai machucava minha mãe”, um grito forte, como se uma faca de corte afiado tivesse dilacerado a sua alma. Ou um ferro em brasa, numa tortura terrível. Uma posse violenta.
Um grito, seguido de um grande alívio e o abraço amigo do terapeuta. “Calma! Calma! Meu filho. Está tudo bem agora.” E livre do pesadelo, soluçando, Gilberto sentiu-se curado daquilo que sempre o limitava inexplicavelmente no seu desejo de amar plenamente. Sentiu-se como que várias portas e janelas estivessem abrindo à sua frente para um horizonte real e mágico. Pode viver sadiamente e com enorme alegria o reencontro definitivo consigo mesmo. A sua personalidade não estava mais dividida. Distinguia o BEM e o MAL.
Um dia, por acaso, encontrou Margarida dentro de um ônibus urbano. “Olá, lembra-se de mim?” Jovem ainda. Apenas com algumas rugas verdadeiras a delinear um belo rosto de mulher experiente na vida. Disse que tinha ficado viúva e...




LITERATURA E HUMANIDADE
GABRIEL GARCIA MARQUES, (Cem Anos de Solidão) RAUL ROA BASTOS (Hijo de Hombre), MÁRIO VARGAS LHOSA (A Guerra do fim do mundo), HILDA HILST, GUIMARÃES ROSA,CORTÁZAR,GRACILIANO RAMOS (Vidas Secas) BORGES,NÉLIDA PINÕN ( A República dos Sonhos),CLARICE LISPECTOR,(Os desastres de Sofia), MÁRIO QUINTANA,ADÉLIA PRADO e tantos e tantos outros a nos ensinar lições de HUMANIDADE.
PASSADO NÃO DÁ FUTURO
Não fique remoendo as coisas do passado. Ficar preso ao passado não dá futuro. Não se deixe prender por mágoas e ressentimentos. Não se atormente pelo que passou, mesmo que reconheça seu erro. Levante-se e siga em frente, o mais rapidamente que puder. Faça as pazes com seus adversários, envie pensamentos de simpatia e amor e todas as mágoas se afastarão e você viverá feliz e risonho.

O MISTÉRIO DA RUA DO MEIO (VIDAS AMARGAS)
Nunca iam ao cinema. Não sei como podiam levar a vida daquele jeito, trancadas dentro de casa. Quando muito saíam na janela para ver o movimento dos poucos transeuntes na rua onde moravam. A Rua do Meio. Solteironas, sentiam um pouco de inveja dos jovens namorados Odalisca e Odonty que não perdiam uma sessão sequer do Cine Teatro Bijou. Ficavam até um pouco enciumadas vendo aquele belo par enlaçado, brincalhão, passando pela janela, dando “tchauzinho” e jogando beijinhos prá elas. Viravam o nariz e até ameaçavam fechar a janela de raiva.
Os pais já tinham falecido. Ficaram sós naquela casa enorme cheia de lembranças. Os dois irmãos, formados em Engenharia no Mackenzie, turma de 1936, já estavam bem casados e morando em São Paulo.Vinham pouco à cidade. Elas, por sua vez, tinham horror da agitação da capital onde foram poucas vezes. E também não gostavam muito do jeito “moderno” das duas cunhadas.
Mas, ai que vontade de ir ao cinema! Logo agora que estava passando aquela fita famosa “E o vento Levou...”, com Clark Gable e a esplendorosa Vivien Leigh. Ficariam em cartaz vários dias. A vontade, contudo, foi passando, passando e só saíam para irem às missas e se confessarem, com freqüência, pois a igreja era ali pertinho.



Se havia um mistério naquela vidinha que Imaculada e Doroti levavam estava trancado a sete chaves. Mas sussurros existiam. E gritos sufocados. Histórias envolvendo o sobrinho de um ex-prefeito da cidade e um caminhoneiro do Sul. Naturalmente segredos que a família tentava esconder. Era o que falavam a boca pequena na pequena cidade que preservava sua mentalidade obtusa, sua enorme ignorância que cercava de preconceito tudo e a todos.
Imaculada amou um adolescente ardentemente e dos encontros fortuitos nasceu um menino que foi cruelmente renegado pelo avô. Numa madrugada fria pegou o recém nascido e às escondidas pediu e pagou uma mulher surgida das brenhas da periferia para levar o rebento e deixá-lo num vagão do trem que seguia para o Rio de Janeiro. Imaculada nunca mais viu seu filhinho. A família encobriu o resto. E ela foi ficando amargurada vendo a vida passar pela janela. No dia em que morreu, 20 anos mais tarde, estava passando no cinema local o filme “Suplício de Uma Saudade”, com William Holden e Jennifer Jones. Um “mar de lágrimas”, cuja história envolvia uma eurasiana e um jornalista americano que acabou morto na guerra da Coréia, em 1953.



O que não ficaram sabendo é que aquele bebê abandonado foi achado na Estação Central Pedro II e entregue na “Roda Dos Enjeitados” do Convento das Carmelitas, na rua do Lavradio. Depois foi adotado pela mãe de uma famosa atriz do Rio que protagonizou nos anos 60 e 70 várias novelas na Rede Globo. O menino cresceu forte e sadio entre familiares e atores da “Venus Platinada” (TV Globo) e tornou-se um de seus mais conhecidos e competentes diretores. Nunca conheceu sua história. Mas viveu muito feliz.
Já Doroti tinha sido seduzida e abandonada por um caminhoneiro de Santa Fé do Sul com promessa de casamento e tudo mais. Nunca mais apareceu. Apaixonada Doroti escondeu tudo a vida inteira. Chorava escondida no quarto o seu grande amor, amassando no peito um pequeno retrato que ele deixara como recordação de eterno amor. Gregório era seu nome. Com certeza foi convocado quando o Brasil entrou na 2ª. Guerra e morreu defendo a Pátria em Monte Castelo na Itália.Uma das tias percebeu algo de errado. “Essa menina está ficando meio doida”. Mas ficou por isso mesmo.
Por anos a fio, por volta das seis horas da tarde, quando a Rádio local anunciava “A Hora da Ave Maria”, com voz melosa e arrastada, Doroti se arrumava se perfumava e ia para a janela. “Quem sabe Gregório aparece hoje...”, pensava. Mas isto nunca aconteceu. História que não teve um final feliz. Ficou sozinha na casa. Se recebia algum parente ou amigo da família o fazia apenas por uma pequena fresta da porta.
De madrugada, no quarto ouvia Sonatas e dançava pela casa toda a meia luz. Por causa da música e dos ruídos noturnos, os moradores diziam que a casa tinha ficado mal assombrada. Doroti, que costumava ver filmes antigos pela TV gostava muito do filme “Vidas Amargas” com o rebelde James Dean. Foi encontrada morta pelos vizinhos 30 anos mais tarde. Do lado da poltrona, caído, foi encontrado um copo com restos de vinho.


Outras Ideias - Dulce Critelli: Fim do mundo

Fim do Mundo segundo, Dulce Critelli...
"...Quando penso no fim do mundo, lembro-me mesmo é de um mundo que a memória me diz estar perdido para sempre. E, então, sinto saudade desse tempo que pude conhecer e que não foi nenhum furacão que varreu..."

Trecho da Folha de S. Paulo(caderno folha Equilíbrio)






EDSON ARANTES DO NASCIMENTO – PELÉ – 70 ANOS- PARABÉNS



COMEÇA A ERA DILMA
Eleita 1° Mulher Presidente do país.

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