quinta-feira, 22 de dezembro de 2011
DAIANE E PEDRO; AMOR ENTRE HINOS EVANGÉLICOS!!!
Na Cadeia todos já estavam acostumados a ver, todos os domingos, ás 2 horas da tarde, aquele grupo de fiéis evangélicos, assíduos que eram na visita dominical aos presos. Calor ou frio, vento ou chuva, nada afastava aquele grupo de religiosos, conhecido na cidade pela força de sua temperança e constância, do amor a Deus e ao próximo e, sobretudo, grande misericórdia e compaixão bíblica, na missão de levar um pouco de conforto espiritual, na tentativa, difícil, (deveras!) de salvar aquelas almas da mais completa perdição, naquele fim de linha que representava para aqueles 98 detentos, o duro confinamento para pagar suas curtas,médias ou longas penas, de acordo com o delito que tinham praticado pelas ciladas do destino cruel, dos percalços da vida ou seja lá o que fosse que tivesse acontecido.
“Pescadores de homens serei, de homens serei, de homens sereis, seeeguindo a Cristo, seeeguindo a Cristo, seeeguindo a Cristo, pescadores de homens serei, de homens serei...” Entre hinos e palavras de estímulo e auto-ajuda, sempre citando histórias bíblicas do Velho e do Novo Testamento, aquele grupo de missionários, tentava resgatar para a vida e para sociedade, um deles que fosse já representava uma grande obra divina.
Como domingo era dia de visita de familiares e amigos, todos eles acabavam também recebendo um pouco dessa mensagem de ternura e paz. Mas sempre havia os indiferentes, que ficavam num canto,conversando, rindo, matando as saudades. Eram pais, mães, irmãos, tios, amigos, enfim. As visitas eram curtas, não mais que uma hora, a mesma duração dos cultos impregnados de orações igualmente. Nesses momentos o duro ambiente do cárcere se enchia de uma nova esperança. “Um dia saio daqui e vou mudar a minha vida...” Frases soltas, abraços e lágrimas.
Os presos, homens e mulheres ficavam separados por alas e grades. Alguém pode sentir o cheiro entranhado que parte do interior das celas, do ajuntamento de seres humanos?! Apesar da limpeza diária, com creolina, que os funcionários e mesmos os presos fazem para melhorar um pouco a área central onde os visitantes se reúnem, o cheiro é algo inominável. Parece partir de dentro de um calabouço úmido e fétido, mistura de suor contido, urina e fezes. É insuportável. Acostuma-se? Cheiro de vida não é! De morte! Quase!
Foi num desses cultos, na semana de mais um Natal, que Daiane, 17 anos, conheceu Pedro, 25, quando suas mãos se tocaram,levemente, num raro e rápido momento, ao virar uma página da Bíblia Sagrada, ao ler um versículo, que falava do nascimento, paixão e morte de Jesus Cristo na distante e histórica Galiléia. Todos sentem um pouco de temor ao ficarem perto demais dos presos, nessas horas. Mesmo com a vigilância atenta dos guardas.
Não foi o caso aqui entre eles. Mesmo que timidamente, o coração de ambos bateu um pouco mais forte entre os vãos das grades de ferro. Foi com serenidade, contudo, que os olhos da jovem evangélica e do sofrido preso se cruzaram. Pedro queria estar do lado de fora das grades para poder ficar mais junto dela. Daiane, com recato, mesmo por estar perto da mãe, retribuiu o olhar, deixando, com certeza, um pouco mais de alegria e esperança de salvação no coração de Pedro, que antes de tudo, era e é um ser humano como outro qualquer. História comovente! Com certeza sim! Mas não pensem que foi fácil! Daiane começou, apesar de contrariar um pouco seus pais, a se corresponder, por carta, com o preso. E todos os domingos, ansiosamente, aguardavam para vê-lo. O pastor consentiu, mas aconselhou a ir devagar com este inusitado namoro, para não ferir, com os conhecidos preconceitos, o jovem casal que se amava entre as grades. É o amor superando tudo. Pedro também se percebia, na medida do possível, e caprichava mais no visual. “Está lindo!” disse ela um dia. “Para mim você está sempre linda!” disse Pedro, mostrando um pequeno retrato que ela lhe tinha dado, no decorrer dos encontros. Ganhou roupas novas num Dia dos Namorados.
Por causa da vida criminosa que levava desde adolescente e de maior, o jovem nunca tinha namorado e nem tido compromisso firme com nenhuma mulher. Daiane, muito jovem, nunca tinha passado dos namoricos. Mesmo assim, só na porta da igreja que freqüentava num bairro distante, sob o olhar dos pais e das “irmãs e irmãos”, como se reverenciavam todos naquela seita. A comunidade era rigorosa na preservação da moral e dos bons costumes. Todos eram felizes naquela vida simples que levavam apesar dos problemas e pesares da vida cotidiana. Que passavam no correr dos dias.
Imperando quase sempre uma discreta alegria de viver, como o bom Deus nos dá.
O amor foi num crescente fértil entre Pedro e Daiane.
O conforto vinha, certamente, com hinos, pregações e orações pedindo cura divina. E era o que acontecia com todos, quando afirmavam que “a mão de Deus agiu, sem dúvida”.Aleluia,aleluia!.. Naturalmente haviam algumas diferenças, ciúmes e pontas de inveja gerando momentos de fofoca nas esquinas perto da igreja. Até todos sumirem, após os cultos, nas ruas sem muita iluminação, rumo a suas casas, cuidando da vida, todos os dias.
“Ó que belos hinos cantam lá no Céu... Aleluia, Aleluia...” E foi assim, durante três longos anos, até que Pedro foi libertado, pagando sua dívida com a sociedade. E lá estava Daiane, aos 20 anos, trabalhando como enfermeira num Hospital, o que sempre sonhou para sua vida profissional, na porta da Cadeia, correndo logo para abraçá-lo como nunca tinha feito por causa das grades. “E lá estavam familiares de ambas as partes, parentes, o pastor e todos os irmãos e irmãs da Igreja, num verdadeiro mar de lágrimas”, de tanta emoção, como numa antecipação do casamento que aconteceu, numa tarde gloriosa, iluminada pelo sol da primavera, lotando a igreja de fiéis e muita gente curiosa também. A vida e, principalmente o AMOR, tinham vencido, de forma inconteste. Sem grades, barreiras ou muralhas. Com muita compreensão, carinho e respeito. Simples, como são as coisas simples. E basta isso.
Esta história como existe muitas outras semelhantes, aconteceu realmente. Não me perguntem onde? Por aí... Pela vida...
Existe algo quase semelhante na novela Fina Estampa, onde Agnaldo Silva, o autor, criou um personagem que se entrega à polícia, para redimir de seus crimes e ganhar o difícil amor da jovem Amália, filha de Griselda, conhecida pelo seu grande caráter. Por ser do bem.
Vamos ver o que, no final, vai acontecer ao jovem Rafael que, no capítulo desta semana, ficou preso!
Quanto aos noivos Daiane e Pedro, vieram sua lua de mel, na pacata cidadezinha de Maria da Fé, no Sul de Minas. Ele conseguiu um emprego. Foi difícil, mas conseguiu vencer o preconceito que a sociedade tem sobre os ex-detentos. No batido carro emprestado por um irmão da Igreja, podia se ver, além do famoso “recém casados”, a frase, repleta de ternura – “Todos me seguem, mas apenas JESUS me Acompanha”.
Com toda certeza, concordam?!
sábado, 10 de dezembro de 2011
MORO NUM PAÍS TROPICAL...
Tropical porque moramos num país de CLIMA QUENTE. Brasil. O calor, mesmo no inverno, se impõe muitas vezes. colorido, diverso culturalmente. A sua luminosidade traduz o jeito do brasileiro. Musicalidade, ginga, folclore, alegria constante, misturas. Beleza e emoção que está nas pessoas, no caminhar, na forma de ver as coisas. Samba e futebol, Frevo,FORRÓ,Carimbó, Calipso, música caipira; comidas típicas regionais, acarajés, cantos e cantigas. Amor. País que busca a modernidade, preservando suas tradições. Podemos escrever, escrever, cantar, ENCANTAR, dançar, amar. Tudo traduz este país raro na Terra. Do Amazonas aos Pampas, do litoral às chapadas do interior. Vales, magias, águas, cachoeiras, MISTÉRIOS, gente de todas as cores. COMO NÃO TE AMAR! “Minha terra tem palmeiras onde canta o sabiá e por aí vai, vamos nós... Macumba e Candomblé...ARRE! TCHE!...UAI, ZÉ POVINHO, POVÃO...
PORTA RETRATOS - De uma família -
Viveram a plenitude do final do século XIX e o XX chegando ao XXI, ano 2011. Assistiram a abertura da Avenida Paulista em 1891 e toda a sua grande transformação como centro financeiro da capital paulista, 120 anos depois. No último dia 8 de dezembro – Dia da Família – o enorme clã dos Castro Medeiros de Oliveira Ribeiro estava reunido num hotel comemorando a data, num almoço festivo. Muitos de seus integrantes, é claro, já tinham morrido e estavam enterrados no Cemitério da Consolação. Os vivos estavam ali, os anciãos e a última geração, bem jovens e cheios de vitalidade, descendentes de Germano e Filomena, depois de se integrarem e formarem suas novas famílias.
A coleção de porta retratos ocupa ainda um lugar especial no apartamento de andar inteiro localizado da Rua Frei Caneca. Um prédio datado dos anos 50, portanto bastante sólido e cheio de histórias. Era o lugar especial da tri neta Mariana, estudante de História na PUC – Pontifícia Universidade Católica. Ela era o resumo de toda uma grande família de classe média paulistana. Várias gerações viveram a 1ª. Grande Guerra Mundial ( 1914 a 1918), a Revolução Constitucionalista de 1932, a 2ª. Grande Guerra Mundial (1939 a 1945), a construção e inauguração de Brasília (1955 a 1960) e vários acontecimentos político - sociais econômicos e culturais do Brasil e do mundo. No mundo das artes viram a chegada do cinema, do cinema falado, colorido, a Era do Rádio e da TV, etc e vários avanços da ciência e da medicina.
Sérios, graves ou muito alegres as fotos dizem por si. Até nos momentos de grande dor pelas perdas e danos que acontecem a todas as famílias, as fotos revelam o caráter sólido e a firmeza moral de seus integrantes. Todos muito unidos e lutando por conquistas, a família compartilha, sem muitas desavenças, todos os bons e maus momentos da vida. Mariana, embora solteira ainda aos 29 anos, tem sonhos de formar família com um colega da faculdade, onde faz mestrado em história das famílias brasileiras. Irrequieta, dona de uma rara inteligência e sensibilidade, briga pelos seus ideais e adora os sobrinhos. Com olhos claros e cabelos castanhos quase loiros, Mariana é o resultado da mistura genética intensa da família: brasileiros descendentes de italianos, sírio libaneses, alemães, japoneses, judeus, ibéricos, poloneses,ingleses e franceses. Que professam religiões católica, protestante, espírita, budista e outras seitas.
São tolerantes e amistosos, discordando pouco em algumas questões. Não são, de maneira alguma, fanáticos ou supersticiosos. De fina educação, respeitam o próximo sobremaneira. Crêem firmemente em DEUS. Compartilham, em misericórdia e compaixão, com todos os seres humanos. Mariana adora cães e gatos. Talvez, por isso, não tenha decidido se casar ainda. Vários pretendentes já fizeram corte amorosa. Mas, delicadamente se esquiva de compromissos mais sérios.
Uma família que viu São Paulo crescer e se tornar uma metrópole. Fotos emolduradas por lembranças inesquecíveis de passeios ao Rio de Janeiro, Caxambu, Poços de Caldas, Santos e Guarujá, Salvador, Aparecida, a Cidade Santuário, a Recife, Porto Alegre; Buenos Aires, Paris, Roma, Londres, Madri, Lisboa, Nova Iorque ou simplesmente fotos caseiras de almoços, churrascos em família, em jogos de futebol, em praias ou piscinas, no campo ou na cidade, como aquela em que aparecem vários de seus tios e tias namorando nos anos 30, no Parque Trianon, onde hoje se situa o MASP na Avenida Paulista.
Mariana tem paixão verdadeira por todos aqueles porta- retratos e álbuns que ficam guardados num armário numa saleta. São fotos que contam uma história, a história de sua família extensa. Para ela, admirar aquelas fotos são momentos de indescritível prazer e beleza, de sonho e de amor revelados ao longo do tempo.
Talvez uma forma diferente de meditar e refletir sobre a importância da família, nos violentos dias que passamos, em meio à indiferença entre as pessoas,cada vez mais crescente.
sexta-feira, 2 de dezembro de 2011
UMA DAS MENSAGENS MAIS LINDAS E VERDADEIRAS QUE JÁ VI!
Meu amado dono, Minha vida deve durar entre 10 e 15 anos, já estou com alguns anos.Qualquer separação é muito dolorosa para nós. Não fique zangado por muito tempo e não me prenda em nenhum lugar como punição.
Você tem seu trabalho, seus amigos e suas diversões.
EU SÓ TENHO VOCÊ!
Fale comigo de vez em quando.Compreendo muito bem o seu tom de voz e sinto tudo o que você está dizendo. Ficará gravado em mim para sempre, jamais esquecerei.
Antes de me bater por algum motivo, lembre-se que tenho dentes que poderiam feri-lo seriamente, mas que jamais vou usá-los em você.Jamais!
Antes de me censurar por estar preguiçoso ou teimoso, veja antes se há alguma coisa me incomodando. Talvez eu não esteja me alimentando bem. Posso estar resfriado ou, ainda, meu coração pode estar ficando mais fraco…
Cuide de mim quando eu ficar velho e cansado – Por favor, NÃO ME ABANDONE!
Tudo é mais fácil para mim com você ao meu lado.
Me ame, pois independente de qualquer razão, eu lhe amarei para sempre!
domingo, 27 de novembro de 2011
HORÁRIO DE VERÃO
De 16 de outubro de 2011 a 26 de fev. de 2012. Primavera e o domingo, aniversário da irmã menor, foram bastante chuvosos. Apesar do novo horário que atrapalhou e confundiu a vida de muita gente, a chuva trouxe uma nova e repentina poesia ao que antes estava ressequido e quase sem vida.
A Bahia também foi incluída, pela primeira vez, no horário que deixa as noites curtas e os dias bem longos.
Tereza acordou bem cedo para a vida neste domingo e decidida a mudar o rumo de sua vida. Afro descendente, embora de família simples, já tinha concluído um curso de Nutrição na Unicamp, com a ajuda de custo do governo e de um padrinho, funcionário da Prefeitura de São Paulo, viúvo e aposentado.
Ela já sabia dos quitutes saborosos que sua avó preparava e vendia na Baixa do Sapateiro, em Salvador e quando criança ficava ali, por perto, vendo as alegres e hospitaleiras baianas, com seus coloridos trajes típicos e sorrisos alvos recebendo os turistas.
Sabia da tradição mantida pelos seus ancestrais de longa data. Desde que pisaram a Roma Negra, vindos de Angola, na África. Dadá, sua tia, já é famosa com seu restaurante típico com filiais em SP, no Rio e em Brasília, onde serve pratos típicos nos banquetes oficias do Itamarati e em várias embaixadas. E recebe sonoros elogios.
Dadá começou vendendo vatapá, acarajé, caruru e outras iguarias em feiras na capital baiana. No Mercado Modelo eram seus fregueses, entre outros, o escritor Jorge Amado e sua mulher, a escritora Zélia Gattai. A fama da família cozinheira já percorre os quatro cantos do Brasil e do mundo.
Tereza sonha em percorrer o mesmo caminho de sua avó, de sua mãe e de outras mulheres da família, preparando pratos típicos “de se comer rezando”, usando uma frase de efeito muito em voga hoje. Tem planos de renovar as receitas culinárias antigas da família, com o que aprendeu no curso na Unicamp. Ela já sabe fazer uma moqueca de siri mole que deixou babando os mestres e colegas da faculdade. Mas quer voar bem mais alto ainda: montar em Londres e Paris, um restaurante típico baiano – AS BAIANAS -.
Por isso, neste domingo, ela arrumou suas malas e mudou-se de vez, para São José dos Campos, no Vale do Paraíba, onde tinha pesquisado o mercado de trabalho e conhecia, de perto, o grande desenvolvimento da região. Tinha nas mãos uma grande relíquia jornalística deixada por outra tia – a revista Realidade – Editora Abril, de meados dos anos 60, onde uma reportagem especial já falava da futura e primeira Megalópoles brasileira unindo pelo Vale do Paraíba, a SanRio – São Paulo e Rio num grande corredor de desenvolvimento global.
Várias fábricas, empresas, hotéis, resorts, escolas técnicas, faculdades e shoppings estão abrindo vagas e dando oportunidade de trabalho para muita gente talentosa, disposta a vencer na vida e nas profissões que abraçaram. Uma amiga sua, de Jacareí, estava entusiasmada com o crescimento da região, que inclui ainda o Litoral Norte, por causa da implantação de obras do Pré Sal, da Petrobrás e do crescimento do porto de São Sebastião. O enorme Serramar Caraguá Shopping abriu suas portas dias atrás. O “boom” imobiliário comprova isto: muita gente vindo morar e trabalhar na região, começando uma vida nova.
Com o diploma de nutricionista debaixo do braço e algumas referências já estava praticamente empregada num grande hotel que se especializara em atender a clientela formada por comerciantes, empresários, engenheiros e técnicos de várias firmas que estão se instalando em Jacareí, São José dos Campos e Taubaté. Cheia de entusiasmo passou em frente ao novo Hipermercado Wal-Mart, de Jacareí, uma rede americana mundial, que, sem dúvida, é o maior exemplo desse grande desenvolvimento ao longo da Via Dutra, entre as duas maiores capitais do país: São Paulo e Rio.
Tereza ficou com sua auto-estima e autoconfiança nas alturas, ao ver nesta semana, a homenagem feita no Dia Nacional da Consciência Negra, em várias firmas, escolas e nos meios de comunicação de massa do país e da região. Sentiu bem perto a presença espiritual de seus ancestrais e de um vibrante batuque no coração. Com um sorriso enorme estampado no belo rosto e lágrimas de alegria de uma pessoa vitoriosa, gritou bem alto prá todo mundo ouvir:
AQUI É MESMO O MEU LUGAR... VOU MOSTRAR PARA ESTA GENTE O QUE É QUE ESTA BAIANA TEM!...O SABOR E A ALMA DA BAHIA NOS PRATOS QUE VOU PREPARAR!.. PARA NUNCA MAIS NINGUÉM ESQUECER!...
CENAS E DIÁLOGOS PARA PROVÁVEIS NOVELAS DE TV –
Cenário: a Estação da Luz, nos anos 20, SP. A personagem, Mariana, de vinte e poucos anos, vai se despedindo do namorado engenheiro Júlio, 32, que parte para uma nova missão: a construção de mais uma etapa da Ferrovia Paulista, rumo ao Oeste, Mato Grosso e, provavelmente, até a Bolívia. O trem dá partida, em direção ao interior do Estado lentamente. A namorada caminha pela plataforma seguindo, com o olhar, o namorado, na escada do vagão de passageiros, que já não sabe mais o que faz, lutando com suas emoções divididas, se fica ou parte.
Lágrimas vêm aos olhos de ambos junto com juras de amor – eu voltarei meu amor, juro e seremos felizes, você vai ver. Agora o trem já está mais rápido. A personagem também acelera os passos, sempre encarando o olhar do também apaixonado namorado, ambos tentando parar o tempo, não aceitando mais as separações que já sofreram, por conta do preconceito social: ela, de família humilde, descendente de italianos e ele, de família tradicional, tipo quatrocentona. Ela da Mooca e ele, da Avenida Paulista, morador em uma mansão.
É quando, de repente o namorado a puxa para dentro do vagão e o trem agora segue velozmente deixando a estação para trás,a metrópole que cresce, deixando tudo que sofreram. Abraçados, segurando arriscadamente o corrimão da escada, segue longo beijo. “Veja o que você fez meu amor!”, diz a namorada, com o coração disparado. O namorado, “eu sei, meu amor, mas nada mais há de nos separar Seja o que Deus Quiser”... O trem some na curva, levando para sempre e para bem longe o casal, dando um longo apito. Vida nova, nova vida!...Um grande amor a ser vivido... Música ao longe...
O CASARÃO
Guarda uma história aquele casarão caindo aos pedaços...
Naquele bairro de classe média baixa, os moradores quase nunca olhavam com mais curiosidade, aquele casarão de tijolinhos marrons, tipo chalé suíço, com seis portas, seis sacadas com janelas brancas, um grande mirante e até um sótão onde pombos e pombas faziam seu ninho de amor.
Algumas pessoas diziam que ele estava ficando mal assombrado, pois juravam ter visto nas noites de lua cheia, o vulto branco de sua antiga dona, que ali vivera sozinha, escondida das maldades do mundo e da inveja de todos. Heléne era holandesa, mas morou muitos anos na França, antes de Paris ser ocupada pelos alemães nazistas. Integrava o elenco do famoso show internacional do Holliday On Ice, entre 1937 e 1942
Depois de uma apresentação em Cannes, no sul da França, conseguiu fugir, de barco, pelo Mediterrâneo, para Portugal, escondida, com parte do elenco e várias outras pessoas, ajudadas, em Lisboa, pelo embaixador brasileiro e depois Senador Dantas, para chegar ao Brasil. Foi uma fuga desesperada e cheia de riscos, com passaportes falsificados, envolvendo membros da Resistência francesa, que ajudavam na fuga e desconfiados colaboracionistas do regime de Hitler.
No alto da grande lareira, só acessa no inverno e mesmo assim nos dias mais frios, no enorme salão agora vazio, coberto de pó e teias de aranha, ficavam os retratos da sua juventude atestando sua grande beleza nórdica e fina educação em Colégio na Suíça. No Brasil, em Manaus, conheceu, namorou e se casou com Abel, um engenheiro civil de Rondônia, que tinha trabalhado, com americanos, na Fordlândia.
A cidadela, que explorava a borracha, já estava entrando em decadência, mas ainda rendia lucros para a família de Henry Ford, idealizador do empreendimento em plena Amazônia, no começo do século XX, quando Manaus passou a ser conhecida como “A Paris dos Trópicos”. A ferrovia Madeira – Mamoré, também já se despedia de sua época de glórias e boa parte dela ficou abandonada.
Durante as madrugadas que anunciava tempestade, a ventania também parecia sussurrar o nome de Heléne pelas laterais do imponente prédio que levou vários anos a ser construído, pelo casal, com muito empenho, dedicação e amor na pequena vila de São Bento do Sapucaí, entre l949 e 1952. O casarão tinha privilegiada vista para a Pedra do Baú, em Campos do Jordão. Pelos arredores da cidade o casal fazia longas caminhadas, sob o sol de inverno. Prática salutar continuada, anos depois, pelos quatro filhos: Henry, Abelardo, Helena e Hebe. Anos da mais intensa felicidade. Uma família brasileira verdadeira.
Os pais de Heléne conseguiram chegar aos Estados Unidos e, depois de alguns anos, ao Brasil, vivendo no casarão por vários anos e, mais tarde, no Sul, em Joinville. Não tiveram, porém, a mesma sorte, seus avós, vítimas do Nazismo, nos campos de concentração. O mesmo acontecendo com vários parentes dela que moravam na Iugoslávia.
O casarão, tão mal compreendido pelos moradores, “praquê essa imponência toda!”, diziam os invejosos, tinha histórias e mistérios. Mesmo se dedicando à filantropia, na pequena cidade, ajudando asilos e albergues. Heléne começou a se sentir muito só, surpreendida que foi, pela traição do marido que a trocou, assim sem mais nem menos, por uma ambiciosa jovem atriz carioca das chanchadas da Cinedistri, vinte anos mais nova que ela, numa de suas viagens ao Rio, a negócios. A partir de tristes acontecimentos, como este, o casarão começou a definhar, morrendo aos poucos...
Algumas pessoas que a conheceram atestam sua lealdade e ética, pois as ruas de dois grandes bairros da cidade receberam, por sugestão dela, junto à Câmara de Vereadores, nomes de países europeus e de estados brasileiros e norte americanos. Era a forma que Heléne encontrou para homenagear suas origens européias, a América e o Brasil que a acolhera e a seus pais.
Nunca de conformou com a traição do ex- marido que, anos mais tarde morreria de câncer da próstata. Sua solidão ficou mais agravada ainda com a morte de sua filha Hebe, num grave acidente de carro em São Paulo. Uma de suas netas ficou paraplégica.
Só e desamparada, com a idade já meio avançada, Heléne, balbuciando palavras em português, holandês e francês e incapaz de entender a origem daquela inveja de pessoas que ela realmente estimava ou simplesmente gostava por uma questão de civilidade, fechou para sempre aquele casarão, guardando a sete chaves, a sua memória e começou a vagar pelas ruas da cidade. “Lá vai a louca do casarão!”, comentavam, sem piedade, as pessoas.
Uma madrugada, portas e janelas do casarão abandonado, misteriosamente se abriram, com uma estranha ventania que assustou os moradores das ruas próximas. “Credo!” diziam os supersticiosos, mais alarmados, no escuro de suas casas, olhando pelas frestas.
Todas as luzes estavam acesas e, no salão principal, parecia estar acontecendo um grande baile, com uma valsa sobrenatural, jamais ouvida pelas pessoas. Muita alegria circulava no interior do prédio. Vozes e tilintar de taças. E, no alto, o que parecia ser uma grande pista de patinação no gelo, onde uma fantástica Heléne exibia airosamente todo seu talento de dançarina.
No dia seguinte e por semanas a fio foi grande o comentário no bairro. “O que teria acontecido naquela estranha noite, no velho casarão abandonado?!...”
Heléne nunca mais foi vista...
terça-feira, 1 de novembro de 2011
" APELIDOS '.
No romance “Dona Flor e Seus Dois Maridos”, de Jorge Amado,(e depois filme de Bruno Barreto), numa cena hilária de seresta onde Vadinho e um grupo de músicos tocam e cantam “Noite alta céu risonho, aqui tudo é quase um sonho...”, para pedir perdão a Dona Flor, aparece o personagem Cazuza Funil e um dos palavrões mais sonoros já ouvidos na tela grande, num filme genuinamente brasileiro
– “Meu nome é Epaminondas Cardoso de Moraes, Cazuza Funil é PQP!”
O personagem porreta, no livro de JA, tinha este apelido por viver bêbado pelas ruas de Salvador. A história se passa no ano de 1943, após a morte de Vadinho ( José Wilker), que era casado com Flor ( Sonia Braga).
Existem vários apelidos por aí que deveriam ser relembrados, por suas histórias. Exemplos: Margô Bola de Cristal,(vidente) Generosa ou Jeanne Rose, (porque não gostava de ser chamada de generosa e virar motivo de risadas entre os rapazes ),Bedé Garcia,Bacurau, Zé Cupido, Zé Calipiá,Zé da Véia, Seu Princípio, Professor Claro Que,Maria Pelé,Baiano,Zé Porva e Zé Porvinha (trabalhavam numa fábrica de fogos e numa explosão, o mais velho perdeu a mão), Mineiro,Dito Cipó, Dito Leiteiro, Zé Bebeu, (Era Zebedeu, mas como exagerava na caninha e ficava falando abobrinhas ficou conhecido assim), Zé do ET(Jura que viu e conversou com um deles, em Varginha).
E também apelidos como: João Três x oito (apelido gay),Bil, Zap, Maria Pé de Ferro, Geraldo Bandecu, Moacir Quiquifoá, Fernandona, Jair Bomba, Zé Cadela, Marilda Black Is Beautifull,( se amarra em negão) Paulo da Lambreta, Joana das Cocadas,Tica, Dita Saravá, Berruga,Deixa que eu chuto (manco),Macuco, Gaguinho,Zé Buscapé,Maria Batalhão,Maria Pelé, Rosa Boca Doce,Lola,Sorriso Vazio (banguela),Pau de Virar Tripa ( magrelo), Doca, etc.
MEU QUINTAL;MEU MUNDO
Todos deveriam ler e meditar sobre o pequeno livro MEU QUINTAL, (textos e desenhos) de Edna Cassal, Cissa Regina e Luciane Recieri, resultado de um projeto poético e exposição educacional que focaliza o Viveiro Municipal de Jacareí.
Ganhei um exemplar autografado. Estou sempre lendo e admirando o colorido, “com um olhar atento ao verde que ainda temos”, como alertam as autoras. Sintam – “Entre bambu que entrelaça e me abraça, florefesta não me sinto tão só, viver e sentir feito árvores, virar a vida do fundo do chão...” E por aí vai...
UMA VERDADE QUE DEVE SER GRITADA AOS QUATRO VENTOS: “Todos nós podemos através da arte modificar atitudes e transformar nossos caminhos, idéias e vivências”
Parabéns, meninas!
"AUDÁCIA!"
O Educa Mais Centro, em Jacareí –SP- ficou lotado na noite deste domingo, 30 de outubro, quando, o show “As Eternas Cantoras do Rádio, In Performance”, foi apresentado ao público.
Com apoio da Fundação Cultural de Jacarehy, na presidência de Sônia Ferraz, um grupo de artistas transformistas da cidade, relembrou os tempos da Rádio no Brasil, interpretando: Carmem Miranda, Nora Ney, Marlene, Emilinha Borba, Dalva de Oliveira,Violeta Cavalcanti,Zezé Gonzaga, Rosita Gonzales Carmélia Alves, Izaurinha Garcia, Elizeth Cardoso e Ângela Maria que lotavam os auditórios das rádios nos anos 30, 40 e 50. Época de Ouro.
O impecável e glamuroso show trouxe ao palco os transformistas: Keylla Abdalla, Jamile Scheneider,Sarah Pfeifer, Melissa Phill, Priscila Lamer e Jenifer Brazil. Com belíssimas performances e detalhes em todo visual da época, foram muito aplaudidos e fotografados.
O show foi apresentado de maneira elegante por Silvia Daher
A intenção agora é percorrer outras cidades do Vale do Paraíba e Sul de Minas. Já há convites: de Taubaté e Guará.
A FCJ quer que eles interpretem também músicas do compositor jacareiense José Maria de Abreu num próximo show.
A MENSAGEM escrita no folheto do show por Cau Ramos, diretor artístico do evento, acentua que “Todo ser humano sonha em um dia alcançar o sucesso. Todos se iludem pensando que ele chega acidentalmente. Porém, para galgar os degraus da fama é necessário muito esforço e dedicação”.
Valeu!!! Parabéns!!! Pela grande noite e imensa nostalgia.
terça-feira, 25 de outubro de 2011
PEPITA,UMA CADELA AMARELA DE BEM COM A VIDA OU QUASE...
Foi que foi. Louca por uma rua, levada, à noitinha do dia 12 de outubro,feriado duplo, numa pequena corrente para tomar conta da casa de sua nova dona, a jovem babá Arlete, mulher do mecânico Anderson. Nem tive quase tempo de me despedir dela, tão serelepe que estava, vacinada, alimentada e de banho tomado com shampu anti tudo, limpinha de dar gosto.
Vou sentir saudades por um tempo, depois a gente se acostuma. Afinal a sua nova casa tem um amplo quintal de terra em declive que termina no fundo de uma estrada bonita, cheia de árvores, a do Porto de areia. Um lugar cheio de verde, como o meu.
De cujo portão ela apreciava ao vaivém de pessoas, cães e gatos. Quem sentiu falta foram seus dois filhos, Neguinha e Branquelo( por ser albino). Muito brincalhão. Alguns apelidaram de Maradona ou Fantasma da Ópera. Comilão feito num sei o quê, mastiga tudo que é pano e depois defeca. Deve ser algum problema de intestino, mas não tem vermes, como era de se supor. Mastigou e comeu quase todo o seu ninho feito de retalhos coloridos.
Devem, também se acostumar com a falta dela, como eu. Ah! Carinhosa Pepita, meu coração partido está com você, pode crer. Apesar de me dar trabalho desde que nasceu há quase seis anos, me alegrou muito a vida. Era um quase nada de esforço te dar comida e água e limpar seu cocô todo santo dia. Companheira, dormia como os outros, bem debaixo da janela do meu quarto, numa extensão da varanda. Latia muito quando aparecia alguém ou bicho no portão e no quintal. Foi assim no dia em que vários e inusitados balões promocionais de uma festa apareceram no céu da cidade e do bairro. Aliás todos os meus 4 cães ficaram enlouquecidos,latindo forte e correndo de um lado para outro, supostamente para se proteger de uma ameaça ou de algo que eles nunca tinham visto e que poderiam invadir o meu e o espaço delas.
Quem deu muito trabalho nos últimos dias foi o Rambinho de 12 anos, focinho e patas já brancos pelos anos, feito um preto velho. Chamei Isabel e seu marido Francisco, (táxi-dog) e o levei ao dr.Fábio veterinário, que diagnosticou um tumor na garganta. Acho que benigno. Depois de 2 injeções de Benzetacil aprumou e já está quase bom. Uma bola de pus estourou, molhando seu ninho. Limpei tudo, com creolina, água sanitária e álcool e estou passando metiolato na enorme ferida aberta bem abaixo do pescoço. Mistura de Waimaraner e vira lata (SRD), Rambinho ,meio resmungão,vem resistindo bravamente como um macho emperdenido. Já está comendo a sua ração e bebendo leitinho e água. Estes estão sendo os dias da minha vida em que mais estou pedindo muita misericórdia e compaixão a Deus, para que ele supere a doença e viva mais, meio indiferente que sou com relação ao divino, tentando resolver tudo de forma mais ou menos prática para não dar trabalho a ninguém. Refleti que tanto os humanos como os animais sentem as mesmas dores. Somos, ao mesmo tempo, tudo e nada nesta vida. E que dependemos uns dos outros nesta longa estrada. A ficha está caindo. As lições que temos que aprender vem sempre do Alto.Egoístas que somos, muitas vezes esquecemos. E profundamente temos que agradecer. Diariamente. Com meditações e preces. É assim.
domingo, 23 de outubro de 2011
CINEMA ITALIANO-O NEOREALISMO E SUA IMPORTÂNCIA CULTURAL.
O Neorrealismo italiano foi um movimento cultural surgido na Itália ao final da segunda guerra mundial, cujas maiores expressões ocorreram no cinema. Seus maiores expoentes foram Roberto Rosselini, Vittorio De Sica e Luchino Visconti, todos fortemente influenciados pelos filmes da escola do realismo poético francês.
O cinema neorrealista italiano caracterizou-se pelo uso de elementos da realidade numa peça de ficção, aproximando-se até certo ponto, em algumas cenas, das características do filme documentário. Ao contrário do cinema tradicional de ficção, o neo-realismo buscou representar a realidade social e econômica de uma época.
Índice
1 Origem
2 Características
2.1 Neo-realismo como contraponto à estética fascista
3 Principais autores e obras
4 Ramificação e decadência
5 Ver também
6 Ligações externas
7 Quiz
[editar] OrigemO marco inicial do movimento é o lançamento do filme de Rossellini, Roma, città aperta (1944-1945), rodado logo após a libertação de Roma, nitidamente influenciado pelo realismo poético francês. A "paternidade do termo" é de dúbia possibilidade: a primeira diz que seria de Umberto Barbaro quando chamou de "neorrealístico" o filme Ossessione , do qual havia sido montador; e a outra possibilidade atribui o termo a Mario Serandrei, quando este usou o termo em uma resenha do filme Quai des Brumes.
Apesar de Roma... ter marcado o início do movimento, o primeiro filme daqueles dias é o documentário Giorni di Gloria, de Giuseppe de Santis, Marcello Pagliero, Mario Serandrei e Luchino Visconti), que traz cenas reais alternadas com cenas reconstituídas da ocupação nazi-fascista. Porém o filme foi exibido depois de Roma....
[editar] CaracterísticasO Neorrealismo italiano, por características comuns entre as obras e por uma ideologia difundida entre seus realizadores, tanto estética quanto política, constitui um "estilo de época" do Cinema. Teve lugar e tempo na Itália do final da Segunda Grande Guerra, em processo de "libertação" do regime fascista, como veículo estético-ideológico da resistência. Hasteava a bandeira da representação objetiva da realidade social como forma de comprometimento político. Seu período mais produtivo e significativo ocorreu entre 1945 e 1948.
Seus temas protagonizados por pessoas da classe operária imersas em um ambiente injusto e fatalista, sempre encontrando a frustração na eterna busca por melhores condições de vida, foram trazidos por influência do realismo poético francês.
Apesar de haver um certo consenso quanto às suas características, não existe uma delimitação exata quanto ao período de duração do movimento. Seguindo o paradigma observado na maior parte dos estilos estéticos da História da Arte e do Cinema, o nascimento dessa corrente aconteceu gradualmente, levando algum tempo até que se observasse o aparecimento de um filme genuinamente neo-realista. E, da mesma forma, sofreu uma decadência paulatina, sem um ponto delimitado de começo ou fim.
[editar] Neo-realismo como contraponto à estética fascistaArtigo pricipal: Estética totalitária
Certamente, no entanto, não seria possível falar de Neorrealismo na Itália antes da decadência do regime fascista, que vigorou de 1922 a 1945. Esta, porém, não se limitava apenas a transformações de aspecto político, mas tinha também um projeto estético abrangente e definido. O Fascismo, muito além de puro fenômeno político, trazia consigo uma ideologia estética profundamente fincada em seus valores morais e sociais — e esta era, aliás, uma característica comum às manifestações de ideologias totalitárias.
Entre as várias propriedades dessa ideologia estética, estava a representação da sociedade por meio de uma ótica moralista/positivista, muito mais adequada à legitimação do regime do que à realidade das massas. Conseqüência direta dessa visão de mundo foi a produção em larga escala (estimulada e apreciada pelo governo) de filmes melodramáticos, épicos, romanceados, construindo na tela uma representação um tanto distante da vida cotidiana da sociedade italiana.
Um dos objetivos da geração neo-realista, posteriormente, seria a maior aproximação daquilo que acreditava ser a realidade do povo, para contrapor a essa "falsa imagem" da sociedade; os neo-realistas queriam apresentá-la, e não representá-la.
O que essa vanguarda pretende colocar na tela é um registro da vida das pessoas, no momento atual, contemporâneo à produção. Não interessava mais falar de tempos passados ou das tragédias folhetinescas. O cineasta neo-realista filmará a favela, a vila de pescadores, as ruas cheias de gente nos centros das cidades. A preocupação é com o "hic et nunc", num dos momentos mais críticos da História da Itália, e os jovens diretores acreditam no cinema como forma de expor os problemas — para que sejam resolvidos.
Esse comprometimento com o "retrato da verdade" faz com que a geração que desponta a partir da invasão aliada, em 1944/45 seja identificada como um movimento que os críticos Pietrangeli e Barbaro apelidam de Verismo (do it. vero, verdadeiro). O Neo-Realismo é percebido e nomeado enquanto os filmes estão sendo feitos, ou seja, o estilo é identificado no mesmo momento de sua produção artística, e não posteriormente. No mínimo, isso significa que a Itália notou que algo de diferente estava sendo feito.
[editar] Principais autores e obrasLuchino Visconti, com seu filme "Ossessione", de 1942, lançou a primeira pá na construção desse movimento. Adaptando o romance "The Postman Always Rings Twice" ("O Carteiro sempre toca duas vezes"), do norte-americano James Cain, o diretor conseguiu retratar um país de contrastes, que destoava da representação estilizada então dominante. Isso chocou os censores que, mesmo tendo aprovado anteriormente o roteiro, engavetaram a produção, até que o próprio Duce o tivesse visto — e apreciado!
Roberto Rossellini, ainda durante a guerra — e, mais especificamente, no próprio campo de batalha — filma "Roma, Città Aperta" (1945), inserindo registros de combates verdadeiros junto à dramatização. Rodado clandestinamente, como a própria resistência dos Partisans, o filme situa-se num limiar entre encenação e documento histórico. E, ainda, peça de propaganda contra o regime agonizante. No ano seguinte, realiza "Paisà", cujos 6 episódios acompanham o trajeto dos "libertadores", do sul para o norte, retratando a convivência entre italianos e aliados estrangeiros (com pessoas atuando nos papéis delas mesmas), com seus conflitos e choques inevitáveis.
Em "Germania, Anno Zero" (1947), Rosselini visita a outra nação derrotada (e destroçada), a Alemanha, para mostrar uma realidade muito semelhante à da Itália. Submetidos novamente a uma ocupação, a restrições e a toda sorte de privações, os alemães violam os valores éticos mais primários por causa da fome, e Rossellini espelha neles a própria crise italiana. Além desses, a "base teórica" do movimento deveu muito ainda a Cesare Zavattini, que adaptou e roteirizou vários dos filmes ("I Bambini Ci Guardano", 1944) ("Sciuscià", 1946) (Umberto D., 1952) e ao produtor/diretor Giuseppe Amato, que saiu da produção ativa do período fascista para patrocinar as experiências ousadas da geração Neo-Realista.
Mas é com Vittorio De Sica que o Neo-Realismo produz uma das obras mais expressivas e emblemáticas de sua estética. O filme Ladri di biciclette (1948) contém os principais elementos do filme Neo-Realista: a temática dos problemas sociais, a criança, os atores iniciantes ou desconhecidos, a ambientação in loco, a ausência de apelos técnicos ou dramatúrgicos e ao mesmo tempo um intenso conflito na trama (também escrita por Zavattini). Pela história do homem recém-empregado que tem seu instrumento de trabalho — a bicicleta — roubado, e assim ameaçado de perder o emprego, De Sica emoldura um quadro da classe trabalhadora urbana de então, assombrada pelo desemprego.
[editar] Ramificação e decadênciaO mesmo ano de 1948 vê o aparecimento de vertentes distintas do mesmo movimento, que de certo modo significam estágios paralelos de desenvolvimento.
Em "La Terra Trema" (1948, de Visconti (Francesco Rosi e Franco Zeffirelli são os assistentes de direção), pescadores da Sicília interpretam eles próprios, num filme rodado de maneira semi-documental e crua - mais, talvez, do que "Ladri di Biciclette". Mas o apelativo "Riso Amaro", de Giuseppe DeSantis, constitui-se em outra face do movimento, ainda que se situe dentro da maleável fronteira do "estilo" Neo-Realista. Para muitos críticos, porém, observa-se nesse filme o início do declínio do movimento. A estética engajada comprometida em desnudar as contradições da sociedade acaba por se submeter à "exploração comercial", o que provoca "o começo do fim do movimento que havia trazido ao cinema italiano a vitalidade artística e significação social" (Ephraim Katz).
A chamada geração neo-realista— que ainda teve diretores menos significativos como Pietro Germi, Aldo Vergano, Alberto Lattuada, Luciano Emmer, Renato Castellani e Luigi Zampa — acaba, então, sucumbindo às circunstâncias.
Na década de 1950, o cenário já é outro, o quadro de crise econômica e social parece ter sido amenizado, a televisão ganha cada vez mais espaço como mídia e, para enfrentá-la, os produtores passam a investir no cinema do puro entretenimento escapista. Um pouco mais tarde, Federico Fellini e Michelangelo Antonioni, que tinham participado do Neo-Realismo, afastam-se do Verismo ortodoxo e vão apelar à farsa exuberante ou ao drama existencial para redesenhar a Itália e suas novas questões.
[editar] Ver tambémNeo-realismo
[editar] Ligações externasA influência do neo-realismo no cinema brasileiro
O neo-realismo italiano revisitado
[editar] QuizTeste seus conhecimentos sobre neo-realismo italiano
Obtida de "http://pt.wikipedia.org/wiki/Neorrealismo_italiano"
Categorias: Movimentos de cinema | História do cinema
"PANAMERICANO 2011"; GUADALAJARA!!!
Este ano, os Jogos Pan-Americanos acontecerão na cidade de Guadalajara, no México, e contará com a participação de delegações de atletas de 42 países afiliados ao COI – Comitê Olímpico Internacional. Os preparativos dos jogos já estão a todo vapor e a equipe organizadora trabalha com dedicação total para garantir o sucesso do torneio desportivo internacional.
A cerimônia de abertura acontecerá no dia 14 de Outubro e a de encerramento no dia 30 de Outubro. Estima-se que cerca de 6 mil atletas participarão dos Jogos Pan Americanos 2011 disputando em 28 modalidades diferentes.
Entre as novidades para esta edição, estão mudanças nas modalidades. Além dos 26 esportes disputados nos Jogos Olímpicos, foram incluídos no programa de 2011 o rugby, o raquetebol e a pelota basca. O futsal que havia estreado nos Jogos de 2007, foi excluído pela ODEPA (Organização Desportiva Pan-Americana) que completa o programa dos Jogos de acordo com os pedidos da cidade-sede, e das Federações Internacionais Esportivas.
Os ingressos já podem ser adquiridos e estão sendo comercializados em dólar diretamente pelo site oficial do Pan 2011, onde já está disponível a tabela de preços.
No site oficial dos Jogos você encontrará (em inglês ou espanhol) todas as novidades, notícias sobre o andamento e preparação dos locais onde acontecerão as competições, países participantes, além de conferir o quadro de medalhas das competições anteriores.
A transmissão das modalidades do evento no Brasil será feita ao vivo através da Record que além disso disponibilizará informações e detalhes de toda a competição
Leia Mais: http://www.megadicas.com/jogos-pan-americanos-2011-guadalajara-ingressos-datas-vencedores-fotos-e-informacoes/#ixzz1beEdRT2U
sexta-feira, 16 de setembro de 2011
Dia das Crianças
Todas as vezes que olhar para uma criança, levante seu pensamento em ação de graças à Deus, que jamais abandona seus filhos.
A criança é a esperança de hoje, na realização de amanhã.
É a certeza de que a Terra está sempre a renovar-se, recebendo cada dia novos habitantes que lhe vêm trazer a contribuição de seu trabalho e de sua capacidade, para o progresso do mundo.
F R E V O
O frevo fervia nas avenidas, ruas e pontes do Recife Velho, entre os rios Capibaribe e Beberibe, naquele carnaval de 1945. Milhares de foliões entoavam alto os refrões alegres do Galo da Madrugada – voltei Recife, foi a saudade que me trouxe pelo braço – quando Anna começou a sentir fortes as dores do parto. O menino veio ao mundo justamente quando um grande e colorido estandarte passou sob a janela do casarão, na rua da Praia, onde, no térreo ficava o famoso restaurante Buraco da Otilia, repleto de turistas. O berreiro do recém nascido juntou –se, um pouco,ao alarido das troças, blocos e cordões que passavam, na grande festa.A criança, que recebeu o nome de Ednaldo José, nasceu de parto normal, embora difícil,fazendo a mãe gemer muito sendo amparada pelas mulheres da casa. Começava ali sua vida, sua história, seu caminho no desamparo deste mundo.
Com quase um ano, foi levado pela mãe para São José da Lagoa Seca, nas proximidades de Juazeiro e Petrolina, entre Pernambuco e a Bahia, nas margens do caudaloso Rio São Francisco, numa das suas inúmeras voltas. A longa viagem atravessou a zona da Mata, o Agreste e de Caruaru, penetrou, aos poucos no ressequido cafundó do Sertão.
Velhíssima, Dona Maria das Graças, bisavó paterna e sobrevivente do Arraial de Canudos, tinha de benzer o menino antes de sua outra, mais longa viagem, até o Rio de Janeiro, na região Sudeste, num navio do Loyde Brasileiro, no colo da mãe. Até hoje, afirmam alguns moradores mais antigos, que, um dia depois da saída do menino, a lagoa seca voltou a transbordar de água lentamente. Só muitos anos depois, Ednaldo José voltaria para conhecer sua terra e os parentes de lá. Suas raízes ancestrais espalhadas pela Bahia, Pernambuco e a Paraíba.
A viagem de volta, só foi possível,quando aos 32 anos, apostando um bilhete na Loteria conseguiu ganhar um bom dinheiro. Viajou pela Cia. Aérea Transbrasil, que hoje não existe mais. O bilhete premiado foi sorteado justamente no dia 31 de dezembro, véspera do Ano Novo de 1977. Foi com enorme alegria que comunicou a mãe que lá estava de férias e os parentes sobre sua chegada ao Aeroporto de Guararapes.
Foi uma surpresa para a mãe. Passado os primeiros dias de muita festa e alegria, afinal ali estava o primo formado em curso superior e, relativamente bem, tendo realizado boa parte de seus sonhos de juventude, começou a investigação pois Ednaldo continuava solteiro. Foi sentado a beira mar da vila de Itapessuma, que percebeu o olhar intrigante, sofrido, da mãe, querendo uma resposta para uma pergunta jamais feita. Começava uma Inquisição lenta e dolorida que iria machucar a todos, aos poucos. Percebeu lágrimas no olhar penetrante da mãe. Porque? O rapaz percebeu que sua vida seria totalmente outra depois desse encontro.
A vida, porém teve de continuar. Mágoas e ressentimentos teriam de ser superados, para continuar sua trajetória mais ou menos normal, pois também Ednaldo teria, como tantos outros na mesma situação,de vencer o preconceito e a intolerância da sociedade. Mesmo em cidades grandes como Rio e SP, onde o anonimato poderia encobrir um sentimento escondido. Contudo Ednaldo conseguiu ser vitorioso e não dever nada a ninguém, crescendo em ética e caráter, mantendo um relacionamento terno com a mãe, parentes e amigos. Apenas o pai, como todo nordestino agia com crueldade, muitas vezes, ignorando o próprio filho. Sofria calado, percebia-se.
Ednaldo sempre carregou em sua mente uma outra pergunta sem resposta: por que aquela família não conseguia se conciliar entre si? Vira e mexe brigas aconteciam. Os parentes não se davam e à medida que crescia, apareciam novos con flitos. Esta situação perdura até hoje. Alguns familiares chegaram até a cogitar que essa malquerença só poderia ser fruto de alguma maldição!Tirando alguns momentos de paz, parece que o rancor persistia de forma infinita e não havia quem, religioso ou não, pudesse apaziguar aquela família extensa. Assim se formou uma culpa enorme, de ambos os lados, que todos carregam até hoje, como um fardo pesado. Culpa que atravessa gerações! De forma inexplicável.
Isso deixava Ednaldo com o coração ferido, embora tentando disfarçar, com todas as forças, esta dor. Em momentos de grande revolta gritava – MAS EU NÃO ESTOU ESCREVENDO ESSA HISTÓRIA SOZINHO – Pois era na mais completa solidão que vivia, no fundo, até nos seus melhores momentos, como aquele em que entregou o diploma de jornalista, nas mãos da mãe, pois o pai já havia falecido.
O irmão mais velho desandou pelo mundo e pouquíssimas vezes voltou. Nem mesmo com a notícia da morte da mãe. A única irmã vivia na capital, com suas duas filhas, pois o pai delas também não se conciliava com ninguém, preferindo viver isoladamente. O irmão mais novo, durante algum tempo viveu em família. Depois...Assim acontecia com várias tios, tias, primos e primas que tinham lá sua vida mais ou menos consolados com essa suposta maldição. Afeto e ternura eram coisas raras naquela família.
Seria Dona Maria das Graças a guardiã do segredo desta suposta maldição familiar?, perguntou um dia, Ednaldo, numa de suas profundas crises emocionais. Se fosse culpado, qual seria sua parte nessa história que até hoje, volta e meia, é lembrada? Perguntas, em meio a lembranças, que continuam sem respostas. Apenas a uma, de caráter pessoal, responderia, hoje, sem medo: Sim, é tudo verdade!
Uma das poucas alegrias de Ednaldo, em sua vida de dúvidas, era ver a prima Betânia, entrar na varanda e despachar, como boa pernambucana, as crianças fazendo travessuras. – SAIAM JÁ DAQUI, NÃO QUERO FREVO NA VARANDA!
Em seguida, trancava-se no quarto – escritório e começava, a escrever um pouco mais um romance, quase autobiográfico de sua solidão. A meditação, uma vez por semana, era uma tábua de salvação para poder suportar a vida de um quase exilado, excluído que se achava do convívio familiar e social. Sempre...
Contudo diante desta dura lição, a moral de sua história é perceber hoje que a felicidade não depende necessariamente do que os outros vão pensar e que ela está dentro de cada um de nós.
E assim ele segue na sua eterna procura, escrevendo sozinho a sua história.
segunda-feira, 12 de setembro de 2011
Primavera
Reflexão:
Os Poderosos podem matar uma, duas ou três rosas, mas jamais conseguirão deter a primavera inteira.
Che Guevara
Cecília Meireles
A primavera chegará, mesmo que ninguém mais saiba seu nome, nem acredite no calendário, nem possua jardim para recebê-la. A inclinação do sol vai marcando outras sombras; e os habitantes da mata, essas criaturas naturais que ainda circulam pelo ar e pelo chão, começam a preparar sua vida para a primavera que chega.
Finos clarins que não ouvimos devem soar por dentro da terra, nesse mundo confidencial das raízes, — e arautos sutis acordarão as cores e os perfumes e a alegria de nascer, no espírito das flores.
Há bosques de rododendros que eram verdes e já estão todos cor-de-rosa, como os palácios de Jeipur. Vozes novas de passarinhos começam a ensaiar as árias tradicionais de sua nação. Pequenas borboletas brancas e amarelas apressam-se pelos ares, — e certamente conversam: mas tão baixinho que não se entende.
Oh! Primaveras distantes, depois do branco e deserto inverno, quando as amendoeiras inauguram suas flores, alegremente, e todos os olhos procuram pelo céu o primeiro raio de sol.
Esta é uma primavera diferente, com as matas intactas, as árvores cobertas de folhas, — e só os poetas, entre os humanos, sabem que uma Deusa chega, coroada de flores, com vestidos bordados de flores, com os braços carregados de flores, e vem dançar neste mundo cálido, de incessante luz.
Mas é certo que a primavera chega. É certo que a vida não se esquece, e a terra maternalmente se enfeita para as festas da sua perpetuação.
Algum dia, talvez, nada mais vai ser assim. Algum dia, talvez, os homens terão a primavera que desejarem, no momento que quiserem, independentes deste ritmo, desta ordem, deste movimento do céu. E os pássaros serão outros, com outros cantos e outros hábitos, — e os ouvidos que por acaso os ouvirem não terão nada mais com tudo aquilo que, outrora se entendeu e amou.
Enquanto há primavera, esta primavera natural, prestemos atenção ao sussurro dos passarinhos novos, que dão beijinhos para o ar azul. Escutemos estas vozes que andam nas árvores, caminhemos por estas estradas que ainda conservam seus sentimentos antigos: lentamente estão sendo tecidos os manacás roxos e brancos; e a eufórbia se vai tornando pulquérrima, em cada coroa vermelha que desdobra. Os casulos brancos das gardênias ainda estão sendo enrolados em redor do perfume. E flores agrestes acordam com suas roupas de chita multicor.
Tudo isto para brilhar um instante, apenas, para ser lançado ao vento, — por fidelidade à obscura semente, ao que vem, na rotação da eternidade. Saudemos a primavera, dona da vida — e efêmera.
Texto extraído do livro "Cecília Meireles - Obra em Prosa - Volume 1", Editora Nova Fronteira - Rio de Janeiro, 1998, pág. 366
Os Poderosos podem matar uma, duas ou três rosas, mas jamais conseguirão deter a primavera inteira.
Che Guevara
Cecília Meireles
A primavera chegará, mesmo que ninguém mais saiba seu nome, nem acredite no calendário, nem possua jardim para recebê-la. A inclinação do sol vai marcando outras sombras; e os habitantes da mata, essas criaturas naturais que ainda circulam pelo ar e pelo chão, começam a preparar sua vida para a primavera que chega.
Finos clarins que não ouvimos devem soar por dentro da terra, nesse mundo confidencial das raízes, — e arautos sutis acordarão as cores e os perfumes e a alegria de nascer, no espírito das flores.
Há bosques de rododendros que eram verdes e já estão todos cor-de-rosa, como os palácios de Jeipur. Vozes novas de passarinhos começam a ensaiar as árias tradicionais de sua nação. Pequenas borboletas brancas e amarelas apressam-se pelos ares, — e certamente conversam: mas tão baixinho que não se entende.
Oh! Primaveras distantes, depois do branco e deserto inverno, quando as amendoeiras inauguram suas flores, alegremente, e todos os olhos procuram pelo céu o primeiro raio de sol.
Esta é uma primavera diferente, com as matas intactas, as árvores cobertas de folhas, — e só os poetas, entre os humanos, sabem que uma Deusa chega, coroada de flores, com vestidos bordados de flores, com os braços carregados de flores, e vem dançar neste mundo cálido, de incessante luz.
Mas é certo que a primavera chega. É certo que a vida não se esquece, e a terra maternalmente se enfeita para as festas da sua perpetuação.
Algum dia, talvez, nada mais vai ser assim. Algum dia, talvez, os homens terão a primavera que desejarem, no momento que quiserem, independentes deste ritmo, desta ordem, deste movimento do céu. E os pássaros serão outros, com outros cantos e outros hábitos, — e os ouvidos que por acaso os ouvirem não terão nada mais com tudo aquilo que, outrora se entendeu e amou.
Enquanto há primavera, esta primavera natural, prestemos atenção ao sussurro dos passarinhos novos, que dão beijinhos para o ar azul. Escutemos estas vozes que andam nas árvores, caminhemos por estas estradas que ainda conservam seus sentimentos antigos: lentamente estão sendo tecidos os manacás roxos e brancos; e a eufórbia se vai tornando pulquérrima, em cada coroa vermelha que desdobra. Os casulos brancos das gardênias ainda estão sendo enrolados em redor do perfume. E flores agrestes acordam com suas roupas de chita multicor.
Tudo isto para brilhar um instante, apenas, para ser lançado ao vento, — por fidelidade à obscura semente, ao que vem, na rotação da eternidade. Saudemos a primavera, dona da vida — e efêmera.
Texto extraído do livro "Cecília Meireles - Obra em Prosa - Volume 1", Editora Nova Fronteira - Rio de Janeiro, 1998, pág. 366
domingo, 21 de agosto de 2011
A passagem dos Balões.. a passagem da Vida!
Vendo esses balões parece que todos se tornam criança novamente... e param pra admirar...
“A Vida”, “O Balão” e “O Pássaro”
Já não sei se a este tempo pertenço
Porque não sinto esta vida a passar
Vejo-me aqui neste mundo suspenso
Sem um qualquer lugar onde aterrar
Estou atado por um delgado cordão
Distendido no limite da sua largura
Deixei de ser gente para ser balão
No antojo dessa mão que me segura
De pássaro livre eu vou-me disfarçar
Soltando-me por fim desse barbante
Com asas postiças e anseio de voar
Vejo-me fluir misturado com o vento
Planando livremente naquele instante
Sem corda, sem dono, sem sofrimento
John E. Contreiras
“A Vida”, “O Balão” e “O Pássaro”
Já não sei se a este tempo pertenço
Porque não sinto esta vida a passar
Vejo-me aqui neste mundo suspenso
Sem um qualquer lugar onde aterrar
Estou atado por um delgado cordão
Distendido no limite da sua largura
Deixei de ser gente para ser balão
No antojo dessa mão que me segura
De pássaro livre eu vou-me disfarçar
Soltando-me por fim desse barbante
Com asas postiças e anseio de voar
Vejo-me fluir misturado com o vento
Planando livremente naquele instante
Sem corda, sem dono, sem sofrimento
John E. Contreiras
quarta-feira, 10 de agosto de 2011
PABLO NERUDA (1904 - 1973)
Se cada dia cai, dentro de cada noite,
há um poço
onde a claridade está presa.
Há que sentar-se na beira
do poço da sombra
e pescar luz caída
com paciência.
(Últimos Poemas - Pablo Neruda)
Pablo Neruda, cujo nome verdadeiro é Neftalí Ricardo Reyes Basoalto, nasceu em 12 de julho de 1904, na cidade do Parral, no Chile. Seu pai era um funcionário ferroviário e sua mãe, que morreu pouco tempo após o seu nascimento, foi professora. Alguns anos depois, seu pai, que tinha voltado a casar com dona Trinidad Candida Malverde, mudou-se para a cidade de Malverde.
Pablo Neruda
A infância e juventude do poeta foram passadas em Temuco, onde conheceu Gabriela Mistral, diretora da escola feminina secundária, que se tornou numa grande protetora e sua amiga. Com a idade de treze anos, começou a publicar os seus primeiros artigos para jornais e também o seu primeiro poema. Em 1920, tornou-se colaborador do jornal literário Selva Austral, sob o pseudónimo de Pablo Neruda, que adotou em memória do poeta checoslovaco, Jean Neruda.
Alguns dos poemas de Neruda, escritos naquela época, podem ser encontrados no seu primeiro livro Crepusculário (1923). No ano seguinte publicou Veinte Poemas de Amor e una Cancion Desesperada, que veio a tornar-se numa das obras mais conhecidas e traduzidas. Conjuntamente com a sua atividade literária, Neruda estudou francês e pedagogia na Universidade do Chile, em Santiago.
Neruda e sua esposa Matilde
Entre 1925 e 1937, o Governo nomeou-o para dirigir diversos consulados honorários, facto que o levou para a Birmânia, Ceilão, Java, Singapura, Buenos Aires, Barcelona e Madrid. A sua produção poética durante este período difícil, incluíu, entre outras obras, a coleção de poemas esotéricos Residencia en la tierra , que marcou o início da sua produção literária. A Guerra Civil Espanhola e o assassinato de García Lorca, que Neruda conhecia, afectaram-no fortemente e fizeram com que aderisse ao movimento republicano, primeiro em Espanha, e mais tarde em França, para onde se mudou e continuou a publicação de poemas, agora orientados para assuntos políticos e sociais.
Pablo Neruda e Salvador Allende
España en el corazón, teve um grande impacto devido ao facto deter sido imprimido no meio da frente, durante a guerra civil. Posteriormente, quando nomeado Cônsul Geral do México, reescreveu o seu Cantico General de Chile e transformou-o num poema épico sobre todo o continente sul-americano, o seu povo e a sua história. Este trabalho, intitulado Canto Geral, foi publicado no Chile e no México, e constitui a parte central da sua produção, traduzido em cerca de dez idiomas.
Regressado ao Chile, envolveu-se nos tumultos políticos internos, aderiu ao Partido Comunista do Chile e devido aos seus protestos contra a política repressiva do Presidente Vilela, viu-se obrigado a viver, escondido e no anonimato por um período de dois anos, findos os quais partiu para o estrangeiro. Depois de viver em diferentes países, em 1952 retornou a casa. A sua obra publicada nesta época, reflete toda a instabilidade, lutas e actividade política que Neruda viveu.
Casa museu de Neruda, em Isla Negra, perto da qual
se encontra a sua sepultura.
Entre os trabalhos que marcam os seus últimos anos podem ser citados Cien sonetos de amor(1959), que inclui poemas dedicados a sua esposa Matilde Urrutia, Memorial de Isla Negra, de carácter biográfico, em cinco volumes, Arte de pajaros, La barcarola e vários outros, por ocasião do seu 60.º aniversário.
De acordo com Isabel Allende, Pablo Neruda morreu de tristeza em setembro de 1973, ao ver dissolvido o governo de Salvador Allende.
Logotipo do filme "Il Postino",
ou o "Carteiro de Pablo Neruda".
Na realidade, a sua morte foi originada por um câncro na próstata. Em vida, foi agraciado com o Prémio Lenin da Paz e em 1971 foi-lhe atribuído o Nobel da Paz.
Já em 1965 lhe havia sido autorgado o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade de Oxford, na Grã-Bretanha.
Da sua vasta obra, escolhi estes dois poemas, qual o mais belo...:
Posso escrever os versos mais tristes esta noite...
Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Escrever, por exemplo: "A noite está estrelada,
e tiritam, azuis, os astros lá ao longe".
O vento da noite gira no céu e canta.
Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Eu amei-a por vezes e ela também me amou.
Em noites como esta tive-a em meus braços.
Beijei-a tantas vezes sob o céu infinito.
Ela amou-me, por vezes eu também a amava.
Como não ter amado os seus grandes olhos fixos.
Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Pensar que não a tenho. Sentir que já a perdi.
Ouvir a noite imensa, imensa sem ela.
E o verso cai na alma como no pasto o orvalho.
Importa lá que o meu amor não pudesse guardá-la.
A noite está estrelada e ela não está comigo.
Isso é tudo. Ao longe alguém canta. Ao longe.
A minha alma não se contenta com havê-la perdido.
Como para chegá-la a mim o meu olhar procura-a.
O meu coração procura-a, ela não está comigo.
A mesma noite que faz branquejar as mesmas árvores.
Nós dois, os de então, já não somos os mesmos.
Já não a amo, é verdade, mas tanto que a amei.
Esta voz buscava o vento para tocar-lhe o ouvido.
De outro. Será de outro. Como antes dos meus beijos.
A voz, o corpo claro. Os seus olhos infinitos.
Já não a amo, é verdade, mas talvez a ame ainda.
É tão curto o amor, tão longo o esquecimento.
Porque em noites como esta tive-a em meus braços,
a minha alma não se contenta por havê-la perdido.
Embora seja a última dor que ela me causa,
e estes sejam os últimos versos que lhe escrevo.
(Poema XX de "Vinte poemas e uma c anção desesperada")
REFLEXÂO:
"ALGUMAS PESSOAS OLHAM O MUNDO E PERGUNTAM:PORQUÊ?.
EU PENSO EM COISAS QUE NUNCA EXISTIRAM E PERGUNTO: POR QUE NÃO?
George Bernard Shaw.
sexta-feira, 5 de agosto de 2011
FAÇAM SILÊNCIO QUE HOJE EU NÃO ESTOU NEM UM POUCO CATÓLICA!
Como Tércio e Murilo não poderiam lembrar de Dona Rosalphina logo após a genial interpretação da atriz Marília Pera, no papel de uma professora muito louca, na peça “Apareceu a Margarida”, de Roberto Athaíde, naquela memorável noite,meados de 1980, no Teatro Ipanema, lotado. Os dois irmãos gêmeos, com 22 anos, naquela época, estavam de férias no Rio e foram assistir a peça com mais alguns amigos do interior de SP.Todos riram muito. Com eles estava dona Eunice que era a diretora de Cultura da administração municipal do pai deles, então prefeito da cidade. Com a missão de “corromper”, um pouco os dois. No bom e no mal sentido é claro.
O Rio, para todos os jovens intelectuais é sempre uma caixinha de surpresas até hoje inesgotável. O grupo de amigos vasculhando a cidade, tiveram tempo ainda de assistir outra peça de enorme sucesso na época – “Gaiola das Loucas”, no Teatro Rival,em pleno reduto boêmio, na Cinelândia, com o impagável Jorge Dória, no hilariante papel de uma bicha louca, Canarinho e outros atores. Tedo e Piti, como eram chamados na intimidade, tomaram não só banhos de mar, mas também, um banho de cultura. E de “otras cositas mas”. Hoje são pessoas sensíveis, finamente educados e profissionais em SP, maduros, realizados, amantes da arte e do que a vida tem de melhor.
Ah! Dona Rosalphina, no auge de seus 47 anos era a professora de Matemática deles. Conhecia a matéria de trás prá frente, catedrática mesmo, dessas profissionais que quase não existe mais. E ainda falava fluentemente inglês, francês e espanhol.
Quando esbravejava com a classe, uma 8ª. Série infernal, misturava ,de propósito, os idiomas e sacudia suas milhares de pulseiras, fazendo a alegria da meninada. VOCÊS SÃO UNS ESTAFERMOS! dizia, no mínimo. Que quer dizer isso, professora? Ensinava com dedicação e amor. Solteirona, só se lembrava de um namorado italiano. O resto foi resto, dizia para os curiosos. HOJE ESTOU AZEDA,NÃO BRINQUEM COMIGO,HEIN! A classe mista, as meninas tremiam nas canelas e não ousavam enfrentá-la, mas os meninos, na fase de adolescentes, a adoravam. Não só pelo saber, mas pelas sacanagens e trocadilhos que dizia para animar as aulas. Misturava gíria com os conceitos matemáticos. Subia pelas paredes para explicar muito bem alguma coisa da matéria. Desse jeito, matemática era fácil de aprender.E divertido. Rosalphina dominava, com sua extravagante pedagogia.
Tércio e Murilo, é claro, jamais se esqueceriam também dos atributos físicos da professora. Era bonita e também ficou conhecida pelos seus enormes peitos. O decote ficava no limite, até onde a decência permitia para não chamar a atenção e os colegas não botarem reparo. É claro que alguns falavam da ousadia, que nem podia ser tanto assim. Mas quando ela avançava classe a dentro ,através das carteiras, exibindo aquela fartura empinada, fazia a delícia na curiosidade dos meninos. E quando se voltava rapidamente para o quadro negro, explicando as funções, as equações, as raízes cúbicas e quadradas parecia que ia jogar, voluptosamente, aquelas melancias na cabeça dos alunos. Alguns até brincavam”ÊPA,SAI DEBAIXO,LÁ VEM A MONTANHA RUSSA!” mas ela só ria meio disfarçada da pretensa ingênuidade da sacanagem deles. Não precisava dizer que ela tinha preferência pelos meninos, sabe-se lá qual a razão, mas ficava mais a vontade entre eles. Talvez por nunca ter se casado e nem tido filhos.
Quando estava meio enlouquecida da vida, Rosalphina ainda colocava na testa, duas vírgulas,com os cabelos, que parecia um chamariz . Era um realce feminino para alguém que tinha plena noção de que a idade, inexoravelmente, estava chegando. Mas ela parecia não ter medo de nada. Entendia da vida quase tudo. Por isso era discreta em suas opiniões. Defendia é claro, com lucidez, seus pontos de vista, sobre educação, família, sociedade. Enfim. Não era nem um pouco hipócrita. Muito menos CATÓLICA, apostólica, romana.
Tanto assim que quando viu a pequena Beatriz, entrar em prantos na escola e se esconder embaixo da bancada do laboratório, foi logo abrindo caminho no alvoroço, acolhendo a menina,com carinho, numa sala contígua, até acalmá-la e obter dela, envergonhada, uma confissão : queria usar calcinha, mas o pai, viúvo e ignorantão, obrigava as filhas a só usarem cuecas, como os filhos, por questão de economia até. O homem tinha 8 filhos, tudo escadinha e a menina, começando a ficar mocinha, não podia se submeter a autoridade paterna nesta questão. “Tenho vergonha do que minhas amigas vão dizer”, balbuciou. “Pode ficar calma, já vou resolver isso”. Rosalphina liderou uma campanha em surdina e logo Beatriz tinha um monte de calcinhas para usar
MAS É HOJE QUE EU PEGO ESTE CABRA DE JEITO OU NÃO ME CHAMO ROSALPHINA! Foi até a casa do pai de menina e disse poucas e boas para aquele ignorante nordestino que já tinha se esquecido de que meninos e meninas passam pela fase da puberdade. E que existe uma diferença fundamental entre usar cuecas e calcinhas. O pai ouviu tudo calado, de cabeça baixa. AÍ DELE SE RETRUCAR!, pensou a professora. Uma lição para o resto da vida. Assim era Rosalphina. Tinha uma filosofia de vida. Sabia da importância de ensinar e de amar as pessoas. A professora foi até aplaudida pela sua coragem e iniciativa.
GENTE, JÁ PENSOU SE ELE TIVESSE UMA PEIXEIRA NA CINTURA, EU ESTARIA MORTA, COM CERTEZA!
Só uma vez, durante um churrasco de final de ano letivo, Rosalphina ( e a bem da verdade, também algumas outras professoras que viviam reprimidas sexualmente), bebeu um pouco mais e teve um pilequinho. Antes de ser levada para casa, ria, ria, mas que ria e gritava – ESTA FESTA PARECE ROMA ANTIGA! ME DEIXEM FICAR MAIS UM POUCO! POR FAVOR!
Deitada na cama, meio adormecida, no quarto em penumbra, agora, com certeza, via no passado,a figura daquele jovem italiano irriquieto, (que uma vez pôs fogo em sua alma), a invadir e aquecer seu coração e mente de mulher apaixonada,vagando numa agradável bruma etílica.POR ONDE ANDARÁ AQUELE NAPOLITANO SEDUTOR?
REFLEXÃO
O HOMEM É O QUE PENSA. SE VOCÊ INSISTIR EM PENSAR NO MAL, NA DOR,NA DOENÇA,VOCÊ OS ATRAIRÁ PARA SI.PENSE NA SAÚDE,NA ALEGRIA,NA PROSPERIDADE E SUA VIDA TOMARÁ NOVO RUMO. AFIRME SEMPRE QUE É FELIZ,QUE AS DORES PASSAM,QUE A SAÚDE SE CONSOLIDA CADA VEZ MAIS E A FELICIDADE BATERÁ À SUA PORTA. SEJA OTIMISTA E PERMANEÇA O MAIS POSSÍVEL LIGADO AO PAI CELESTIAL.
sábado, 2 de julho de 2011
tOME nOTA!
Acessando o site oficial você tem em mãos o guia completo das programações:
http://www.festivalcamposdojordao.org.br/programacao2011.php?dia=02
Confira também as novidades da FLIP 2011:
http://www.flip.org.br/
REFELEXÕES:
DEFICIENTE É AQUELE QUE NÃO CONSEGUE MODIFICAR SUA VIDA; MUDO É AQUELE QUE NÃO CONSEGUE FALAR O QUE SENTE E SE ESCONDE POR TRÁS DA MÁSCARA DA HIPOCRISIA;PARALÍTICO É QUEM NÃO CONSEGUE ANDAR NA DIREÇÃO DAQUELES QUE PRECISAM DE SUA AJUDA;DIABÉTICO É QUEM NÃO CONSEGUE SER DOCE.
MÁRIO QUINTANA
http://www.festivalcamposdojordao.org.br/programacao2011.php?dia=02
Confira também as novidades da FLIP 2011:
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REFELEXÕES:
DEFICIENTE É AQUELE QUE NÃO CONSEGUE MODIFICAR SUA VIDA; MUDO É AQUELE QUE NÃO CONSEGUE FALAR O QUE SENTE E SE ESCONDE POR TRÁS DA MÁSCARA DA HIPOCRISIA;PARALÍTICO É QUEM NÃO CONSEGUE ANDAR NA DIREÇÃO DAQUELES QUE PRECISAM DE SUA AJUDA;DIABÉTICO É QUEM NÃO CONSEGUE SER DOCE.
MÁRIO QUINTANA
terça-feira, 21 de junho de 2011
A MENINA QUE VIA TUDO BONITO
Olha mamãe, que bonito! Maria Consuelo desde pequena assim exclamava chamando a atenção de todos. Com o rostinho quase colado na janela do ônibus que a levava para um passeio em São Francisco Xavier, bucólico e encantador distrito de São José dos Campos, perseguia com os olhos o riacho cheio de pequenas cascatas que descia do alto da serra.
Que bonito! Aí todo mundo queria ver a paisagem de ambos os lados, saindo da indiferença costumeira. Alguns usavam câmeras digitais ou celulares registrando detalhes dos lagos, pesqueiros, ribeirões correndo entre as pedras cobertas de musgos; das matas, dos campos e dos vários sítios e chácaras com suas flores, plantas e pequenos animais pastando, cavalos, bois e vacas.
E o ônibus seguia sua viagem encantada, com todos se confraternizando alegremente. Tudo por causa de Maria Consuelo e sua mania (mania?) de ver tudo bonito. A menina, já com 11 anos, ficava embevecida e calada só olhando, com profundidade a beleza da pródiga natureza. Era assim, por onde passava exclamava que bonito, chamando a atenção das pessoas, pegando – as desprevenidas em seu cotidiano anestesiado pela pressa, não vendo e não sentindo nada. Continuava exclamando baixinho, com medo de que pudesse perder aqueles momentos mágicos de rara beleza e encantamento diante dos mais variados cenários. Tanto na roça, como nas praças das cidades por onde passava e nas praias do Litoral Norte Maria Consuelo adorava ver todos os detalhes que acabavam fixos em sua retina.
Era uma menina calma, mas não diferente das outras, nos conhecidos interesses da infância e da adolescência. Tinha este predicado: não deixar de perceber a beleza de tudo. Por exemplo, quando viu o mar pela primeira vez, as ondas quebrando na praia, a areia, o sol e seu calor, desde o amanhecer até o poente, o azul do céu, a lua e as estrelas aos poucos pontilhando cada vez mais intensamente no infinito. Tinha um caderno onde começou a registrar tudo o que via, como um pequeno diário das belezas que via. E vivia um eterno idílio com a natureza. A dor das perdas, na maioria das vezes, passava bem longe dela. Sabia que os entes queridos assim como os animais de estimação algum dia tinham que partir. Foi educada para refletir sempre que nada era para sempre, entretanto. E se conformava.
Ela tinha perfeita noção do que os homens em sua ânsia de lucros estavam fazendo com a natureza. Aí é que não se conformava mesmo, ficando agitada e falando pelos cotovelos, quase esbravejando, cheia de incontida raiva quando via na TV notícias mostrando os correntões que os fazendeiros estavam usando para acabar com trechos da Amazônia. Ficava horas na Internet vendo a região do Jalapão,em Tocantins e suas paisagens quase intocáveis.
Que lugar bonito! Em seu quarto, quando ia deitar ficava com os olhos bem abertos no teto que aos poucos ia se transformando num filme onde apareciam os duendes das florestas e outros seres sobrenaturais, mantendo com eles um silencioso e prazeiroso diálogo. Muitas vezes a mãe, com aquela eterna doçura e preocupação, ao abrir, um pouquinho a porta do quarto, via que a filha estava sorrindo, mas no mais profundo dos sonos...e dos sonhos. Seus outros irmãos Pedro, Ana e Catarina, eram seus cúmplices em busca da beleza.
Uma professora a incentivou a pintar também suas impressões ecológicas e dar ainda mais asas a sua imaginação. Foi assim que Maria Consuelo começou fazer desenhos e a pintar. “Tudo o que você ver e sentir pelos caminhos que passar faça anotações,fotografe, escreva histórias e desenhe, não deixe mesmo nada passar despercebido. O mundo tem realmente paisagens maravilhosas, embora possa haver também coisas feias e degradadas. Temos que aprender e tentar deixar tudo mais bonito”, dizia Adalgisa, a sua professora, acrescentando cada vez mais conhecimento e sentimento na cabeça da aluna.
Escombros, quinquilharias e sucatas também a atraíam, depois de um certo tempo, lá pelos seus 17 anos,pois procurava ver uma nova utilidade para aquilo que já tinha tido sua época e seu valor ornamental. Beleza na decadência. Começava aí também sua fase de decoradora. “Olha como ficou bonito!”, dizia referindo – se a um vaso, uma cadeira, uma porta ou janela, coisas, enfim que ela garimpava em ferro velhos e demolições e transformava com seu talento.Começou a ganhar dinheiro com isso, como consequência...
Aos 19 anos, criou coragem e começou a fazer montanhismo, arborismo e a praticar outros esportes radicais como saltar de asa delta com sua turma lá em São Bento do Sapucaí. Além das trilhas que fazia todo final de semana costumava nadar em rios e lagos e tomar banho na primeira cachoeira que encontrasse pelo caminho. O prazer era enorme, comentava. Em sonhos se via numa Asa Delta cruzando as serras da Mantiqueira, o Vale do Paraíba, a Serra do Mar e descer em alguma praia do Litoral Norte, como a praia da Fazendinha, em Ubatuba, uma de suas preferidas.
Maria Consuelo tinha, contudo, seus momentos de pânico. Recolhia-se a um canto qualquer da casa, de preferência lá no fundo do quintal, com medo de que as pessoas não pudessem entender seus sentimentos. Momentos que só ela, apenas ela, queria desfrutar, sem compartilhar com ninguém, não por egocentrismo ou egoísmo, mas por puro medo de que pudessem roubar aquela vastidão de reflexões e imaginação que, várias vezes terminava num turbilhão mental, em lágrimas, furtivas ou em silêncios mais abissais ainda. “Que faço da minha vida!”, resmungava, limpando os olhos. Ela chamava esses momentos, de “conversa no fundo do poço”.
Mas estava tudo ali tão perto, com claridade meridiana, inclusive o grande amor que seus familiares sentiam por ela, principalmente a avó romena que praticamente entendia tudo daquela neta adorada. Aos 21 anos a anciã, que conciliava em si desmedido afeto e sabedoria, proporcionou a ela sua primeira viagem à Europa, com tanto que ela participasse ativamente de uma grande passeata do Greenpeace, ONG ecológica mundial, em uma de suas passagens pelo Brasil, na ECO 92, no Rio. Missão que Maria Consuelo tirou de letra.
É claro que ela foi muito mais longe. Começou a participar do grupo SOS Mata Atlântica, tornando-se uma das líderes. Uma vez até tentou impedir a ação dos barcos baleeiros no Oceano Pacífico, com o Greenpeace e a conscientizar a preservação ambiental em várias cidades e penetrar nas selvas, em sua fauna e flora em busca daquela beleza que ela procurava manter desde a infância.
Consuelo, agora ao lado do apaixonado Victor, seu companheiro na ONG, se emocionava com tudo o que via, fosse um bichinho, uma borboleta; uma cachoeira, um riacho, ou um rio largo, descendo para o mar ou o encontro de suas águas em vários deltas que conheceu mundo afora.
Às vezes, sentada junto de uma árvore, olhando o pôr do sol, adormecia de puro cansaço das jornadas. Cansada mas compensada, do fundo de seu coração, por tudo que o Deus Natureza tinha lhe proporcionado.
Estava do outro lado do mundo, participando de um protesto contra as usinas nucleares de Fukushima, abaladas por um terremoto e um tsunami, no Japão quando recebeu um telefonema do Brasil. Sua avó tinha falecido. Aí não teve jeito mesmo. A dor penetrou no âmago de sua alma. E chorou amargamente nos braços de Victor. De pura saudade da avó.
CORTA! - TRINTA ANOS SEM MAZZAROPPI – Algumas recordações
Título Original: A Carrocinha
Ano/País/Gênero/Duração: 1955 / Brasil / Comédia / 100min
Direção: Agostinho Martins Pereira
Produção: Jaime Prades
Roteiro: Walter George Durst, Agostinho Martins Pereira, Galileu Garcia, Jacques Deheinzelin
Fotografia: Jacques Deheinzelin
Música: Giovanni Zalunardo
Elenco
Amácio Mazzaropi Jacinto
Doris Monteiro Ermelinda
Modesto de Souza Juca Miranda
Adoniran Barbosa Salvador
Gilberto Chagas Alinor
João Silva Lisboa
Aidar Mar Clotilde
Paulo Saffioti Teotônio
Kleber Macedo Adalgiza
Nicolau Sala padre Simão
Salles de Alencar Abel Fragoso
José Nuzzo Tatu
Luiza de Oliveira Dona Hortênsia
Reinaldo Martini Paulo
Diná Machado tia Josefa
José Gomes tio José
Era em Santa Branca. No ano de 1955 em que Amácio Mazzaroppi filmava “A Carrocinha”, um de seus grandes sucessos. Ainda em preto e branco. O elenco ficou hospedado em Jacareí, no Hotel Máximo, mas uma parte ficou na casa da minha tia Eneida e da Pacheco que tinham aposentos amplos e confortáveis, para não atrasar muito as filmagens que se deram praticamente na pequena praça da cidade e em ruas próximas.
O filme conta a singela história de um menino cujo cão de estimação escapa da sua casa e fica perambulando pelas ruas até ser recolhido pelos homens de preto da aterrorizante carrocinha da Prefeitura. Cenas dolorosas e revoltantes se passam no enredo. Com muito custo o menino e seus amiguinhos conseguem libertar o pequeno cão e os outros que também tinham sido presos,o próprio condutor da carrocinha acaba se apaixonando por uma caipirinha que adorava cachorros. No final há uma revolta dos moradores que destroem e incendeiam o veículo. Final feliz com todos entoando:"Cai Sereno Cai" uma das preferidas canções de Mazzaroppi.
O meu tio Laércio era vereador na época e trabalhava na Fábrica de Fogos Caramuru. Numa das cenas aparecia conduzindo uma charrete. Nunca pretendeu ser ator mas acabou fazendo também uma ponta num outro filme – “Cara de Fogo”, com Alberto Ruschel, com cenas filmadas numa chácara.
Veja um trecho do Filme:
O filme “O Cangaceiro”, com este ator e mais a famosa atriz Vanja Orico, que acabou morando muitos anos na Europa, também teve sua famosa abertura feita no alto do banhado, em São José dos Campos, bem atrás onde hoje se situa a J&J, com a trilha inesquecível da música “Mulher Rendeira”. O filme acabou sendo premiado no Festival de Cannes, na França,no ano de 1954, se não me engano. Outro filme brasileiro premiado lá foi “ O Pagador de Promessas”, da obra de Dias Gomes, em 1961.
São referências cinematográficas quando os filmes eram feitos com muita dificuldade. De forma quase artesanal. Mas os resultados eram surpreendentes. Voltemos a Mazzaroppi.
Imaginem vocês o enorme privilégio que era para os moradores da pequena e adorável cidade participar das filmagens. Imaginem a alegria das crianças ver todos os dias o Mazzaroppi dirigindo e atuando. E elas mesmo participando das cenas externas do filme. Maior felicidade não poderia haver. Está tudo registrado no Museu deste famoso artista, lá em Taubaté. Além da Cia. Cinematográfica Vera Cruz havia a PAM – Produções Amacio Mazzaroppi, criada por ele, com muita coragem e pouco dinheiro. E é claro, muito amor.
Além do elenco, a cantora e atriz Dóris Monteiro encantava a todos. Ela participava do filme e, durante um jantar em homenagem aos moradores e aos artistas, cantou várias músicas de sucesso de seu repertório. Estava no auge de sua brilhante carreira de cantora. Dizem que foi uma noite inesquecível! O filme foi exibido em Jacareí, no Cine Rio Branco lotado, com a presença de Mazzaroppi.
Uma cena hilária ficou registrada na história das filmagens. Os meus primos, o saudoso Fernando e a Regina, calçando tamancos, crianças naqueles bons tempos, não entendiam nada de locações e gravações técnicas. Em pleno sol do meio dia, num forte calor de verão, lá vieram os dois chamarem os artistas para almoçarem. O elenco estava quase no final de uma cena. Alto e sonoro gritaram “Paiê, a mãe tá chamando todo mundo pra ‘armoçar’”. Mazzaroppi tinha uma notória paciência, além do humor característico. CORTA! Gritou. E todos caíram na gargalhada. Fernando e Regina voltaram correndo prá casa, vermelhos que nem dois pimentões!
Época de ouro de uma cidade, como relataram alguns moradores bem antigos. Que no ano seguinte , num enorme piquenique coletivo, despediram-se de muitas fazendas, chácaras e sítios; lugares de uma beleza e paz infinitas, que ficaram inundados com a construção de uma grande barragem. Uma festa com missa solene, banda de música,lencinhos abanando, foguetório e muitas lágrimas nos olhos. Era em Santa Branca. Famosa pelo seu clima ameno e pelos peixes pescados no rio Paraíba, de cima da Ponte Metálica construída no começo do século passado pelo engenheiro e escritor Euclides da Cunha, de “Os Sertões”.
REFLEXÕES:
NÃO TENHAMOS PRESSA, MAS NÃO PERCAMOS TEMPO.
José Saramago, 1922-2010.
Que bonito! Aí todo mundo queria ver a paisagem de ambos os lados, saindo da indiferença costumeira. Alguns usavam câmeras digitais ou celulares registrando detalhes dos lagos, pesqueiros, ribeirões correndo entre as pedras cobertas de musgos; das matas, dos campos e dos vários sítios e chácaras com suas flores, plantas e pequenos animais pastando, cavalos, bois e vacas.
E o ônibus seguia sua viagem encantada, com todos se confraternizando alegremente. Tudo por causa de Maria Consuelo e sua mania (mania?) de ver tudo bonito. A menina, já com 11 anos, ficava embevecida e calada só olhando, com profundidade a beleza da pródiga natureza. Era assim, por onde passava exclamava que bonito, chamando a atenção das pessoas, pegando – as desprevenidas em seu cotidiano anestesiado pela pressa, não vendo e não sentindo nada. Continuava exclamando baixinho, com medo de que pudesse perder aqueles momentos mágicos de rara beleza e encantamento diante dos mais variados cenários. Tanto na roça, como nas praças das cidades por onde passava e nas praias do Litoral Norte Maria Consuelo adorava ver todos os detalhes que acabavam fixos em sua retina.
Era uma menina calma, mas não diferente das outras, nos conhecidos interesses da infância e da adolescência. Tinha este predicado: não deixar de perceber a beleza de tudo. Por exemplo, quando viu o mar pela primeira vez, as ondas quebrando na praia, a areia, o sol e seu calor, desde o amanhecer até o poente, o azul do céu, a lua e as estrelas aos poucos pontilhando cada vez mais intensamente no infinito. Tinha um caderno onde começou a registrar tudo o que via, como um pequeno diário das belezas que via. E vivia um eterno idílio com a natureza. A dor das perdas, na maioria das vezes, passava bem longe dela. Sabia que os entes queridos assim como os animais de estimação algum dia tinham que partir. Foi educada para refletir sempre que nada era para sempre, entretanto. E se conformava.
Ela tinha perfeita noção do que os homens em sua ânsia de lucros estavam fazendo com a natureza. Aí é que não se conformava mesmo, ficando agitada e falando pelos cotovelos, quase esbravejando, cheia de incontida raiva quando via na TV notícias mostrando os correntões que os fazendeiros estavam usando para acabar com trechos da Amazônia. Ficava horas na Internet vendo a região do Jalapão,em Tocantins e suas paisagens quase intocáveis.
Que lugar bonito! Em seu quarto, quando ia deitar ficava com os olhos bem abertos no teto que aos poucos ia se transformando num filme onde apareciam os duendes das florestas e outros seres sobrenaturais, mantendo com eles um silencioso e prazeiroso diálogo. Muitas vezes a mãe, com aquela eterna doçura e preocupação, ao abrir, um pouquinho a porta do quarto, via que a filha estava sorrindo, mas no mais profundo dos sonos...e dos sonhos. Seus outros irmãos Pedro, Ana e Catarina, eram seus cúmplices em busca da beleza.
Uma professora a incentivou a pintar também suas impressões ecológicas e dar ainda mais asas a sua imaginação. Foi assim que Maria Consuelo começou fazer desenhos e a pintar. “Tudo o que você ver e sentir pelos caminhos que passar faça anotações,fotografe, escreva histórias e desenhe, não deixe mesmo nada passar despercebido. O mundo tem realmente paisagens maravilhosas, embora possa haver também coisas feias e degradadas. Temos que aprender e tentar deixar tudo mais bonito”, dizia Adalgisa, a sua professora, acrescentando cada vez mais conhecimento e sentimento na cabeça da aluna.
Escombros, quinquilharias e sucatas também a atraíam, depois de um certo tempo, lá pelos seus 17 anos,pois procurava ver uma nova utilidade para aquilo que já tinha tido sua época e seu valor ornamental. Beleza na decadência. Começava aí também sua fase de decoradora. “Olha como ficou bonito!”, dizia referindo – se a um vaso, uma cadeira, uma porta ou janela, coisas, enfim que ela garimpava em ferro velhos e demolições e transformava com seu talento.Começou a ganhar dinheiro com isso, como consequência...
Aos 19 anos, criou coragem e começou a fazer montanhismo, arborismo e a praticar outros esportes radicais como saltar de asa delta com sua turma lá em São Bento do Sapucaí. Além das trilhas que fazia todo final de semana costumava nadar em rios e lagos e tomar banho na primeira cachoeira que encontrasse pelo caminho. O prazer era enorme, comentava. Em sonhos se via numa Asa Delta cruzando as serras da Mantiqueira, o Vale do Paraíba, a Serra do Mar e descer em alguma praia do Litoral Norte, como a praia da Fazendinha, em Ubatuba, uma de suas preferidas.
Maria Consuelo tinha, contudo, seus momentos de pânico. Recolhia-se a um canto qualquer da casa, de preferência lá no fundo do quintal, com medo de que as pessoas não pudessem entender seus sentimentos. Momentos que só ela, apenas ela, queria desfrutar, sem compartilhar com ninguém, não por egocentrismo ou egoísmo, mas por puro medo de que pudessem roubar aquela vastidão de reflexões e imaginação que, várias vezes terminava num turbilhão mental, em lágrimas, furtivas ou em silêncios mais abissais ainda. “Que faço da minha vida!”, resmungava, limpando os olhos. Ela chamava esses momentos, de “conversa no fundo do poço”.
Mas estava tudo ali tão perto, com claridade meridiana, inclusive o grande amor que seus familiares sentiam por ela, principalmente a avó romena que praticamente entendia tudo daquela neta adorada. Aos 21 anos a anciã, que conciliava em si desmedido afeto e sabedoria, proporcionou a ela sua primeira viagem à Europa, com tanto que ela participasse ativamente de uma grande passeata do Greenpeace, ONG ecológica mundial, em uma de suas passagens pelo Brasil, na ECO 92, no Rio. Missão que Maria Consuelo tirou de letra.
É claro que ela foi muito mais longe. Começou a participar do grupo SOS Mata Atlântica, tornando-se uma das líderes. Uma vez até tentou impedir a ação dos barcos baleeiros no Oceano Pacífico, com o Greenpeace e a conscientizar a preservação ambiental em várias cidades e penetrar nas selvas, em sua fauna e flora em busca daquela beleza que ela procurava manter desde a infância.
Consuelo, agora ao lado do apaixonado Victor, seu companheiro na ONG, se emocionava com tudo o que via, fosse um bichinho, uma borboleta; uma cachoeira, um riacho, ou um rio largo, descendo para o mar ou o encontro de suas águas em vários deltas que conheceu mundo afora.
Às vezes, sentada junto de uma árvore, olhando o pôr do sol, adormecia de puro cansaço das jornadas. Cansada mas compensada, do fundo de seu coração, por tudo que o Deus Natureza tinha lhe proporcionado.
Estava do outro lado do mundo, participando de um protesto contra as usinas nucleares de Fukushima, abaladas por um terremoto e um tsunami, no Japão quando recebeu um telefonema do Brasil. Sua avó tinha falecido. Aí não teve jeito mesmo. A dor penetrou no âmago de sua alma. E chorou amargamente nos braços de Victor. De pura saudade da avó.
CORTA! - TRINTA ANOS SEM MAZZAROPPI – Algumas recordações
Título Original: A Carrocinha
Ano/País/Gênero/Duração: 1955 / Brasil / Comédia / 100min
Direção: Agostinho Martins Pereira
Produção: Jaime Prades
Roteiro: Walter George Durst, Agostinho Martins Pereira, Galileu Garcia, Jacques Deheinzelin
Fotografia: Jacques Deheinzelin
Música: Giovanni Zalunardo
Elenco
Amácio Mazzaropi Jacinto
Doris Monteiro Ermelinda
Modesto de Souza Juca Miranda
Adoniran Barbosa Salvador
Gilberto Chagas Alinor
João Silva Lisboa
Aidar Mar Clotilde
Paulo Saffioti Teotônio
Kleber Macedo Adalgiza
Nicolau Sala padre Simão
Salles de Alencar Abel Fragoso
José Nuzzo Tatu
Luiza de Oliveira Dona Hortênsia
Reinaldo Martini Paulo
Diná Machado tia Josefa
José Gomes tio José
Era em Santa Branca. No ano de 1955 em que Amácio Mazzaroppi filmava “A Carrocinha”, um de seus grandes sucessos. Ainda em preto e branco. O elenco ficou hospedado em Jacareí, no Hotel Máximo, mas uma parte ficou na casa da minha tia Eneida e da Pacheco que tinham aposentos amplos e confortáveis, para não atrasar muito as filmagens que se deram praticamente na pequena praça da cidade e em ruas próximas.
O filme conta a singela história de um menino cujo cão de estimação escapa da sua casa e fica perambulando pelas ruas até ser recolhido pelos homens de preto da aterrorizante carrocinha da Prefeitura. Cenas dolorosas e revoltantes se passam no enredo. Com muito custo o menino e seus amiguinhos conseguem libertar o pequeno cão e os outros que também tinham sido presos,o próprio condutor da carrocinha acaba se apaixonando por uma caipirinha que adorava cachorros. No final há uma revolta dos moradores que destroem e incendeiam o veículo. Final feliz com todos entoando:"Cai Sereno Cai" uma das preferidas canções de Mazzaroppi.
O meu tio Laércio era vereador na época e trabalhava na Fábrica de Fogos Caramuru. Numa das cenas aparecia conduzindo uma charrete. Nunca pretendeu ser ator mas acabou fazendo também uma ponta num outro filme – “Cara de Fogo”, com Alberto Ruschel, com cenas filmadas numa chácara.
Veja um trecho do Filme:
O filme “O Cangaceiro”, com este ator e mais a famosa atriz Vanja Orico, que acabou morando muitos anos na Europa, também teve sua famosa abertura feita no alto do banhado, em São José dos Campos, bem atrás onde hoje se situa a J&J, com a trilha inesquecível da música “Mulher Rendeira”. O filme acabou sendo premiado no Festival de Cannes, na França,no ano de 1954, se não me engano. Outro filme brasileiro premiado lá foi “ O Pagador de Promessas”, da obra de Dias Gomes, em 1961.
São referências cinematográficas quando os filmes eram feitos com muita dificuldade. De forma quase artesanal. Mas os resultados eram surpreendentes. Voltemos a Mazzaroppi.
Imaginem vocês o enorme privilégio que era para os moradores da pequena e adorável cidade participar das filmagens. Imaginem a alegria das crianças ver todos os dias o Mazzaroppi dirigindo e atuando. E elas mesmo participando das cenas externas do filme. Maior felicidade não poderia haver. Está tudo registrado no Museu deste famoso artista, lá em Taubaté. Além da Cia. Cinematográfica Vera Cruz havia a PAM – Produções Amacio Mazzaroppi, criada por ele, com muita coragem e pouco dinheiro. E é claro, muito amor.
Além do elenco, a cantora e atriz Dóris Monteiro encantava a todos. Ela participava do filme e, durante um jantar em homenagem aos moradores e aos artistas, cantou várias músicas de sucesso de seu repertório. Estava no auge de sua brilhante carreira de cantora. Dizem que foi uma noite inesquecível! O filme foi exibido em Jacareí, no Cine Rio Branco lotado, com a presença de Mazzaroppi.
Uma cena hilária ficou registrada na história das filmagens. Os meus primos, o saudoso Fernando e a Regina, calçando tamancos, crianças naqueles bons tempos, não entendiam nada de locações e gravações técnicas. Em pleno sol do meio dia, num forte calor de verão, lá vieram os dois chamarem os artistas para almoçarem. O elenco estava quase no final de uma cena. Alto e sonoro gritaram “Paiê, a mãe tá chamando todo mundo pra ‘armoçar’”. Mazzaroppi tinha uma notória paciência, além do humor característico. CORTA! Gritou. E todos caíram na gargalhada. Fernando e Regina voltaram correndo prá casa, vermelhos que nem dois pimentões!
Época de ouro de uma cidade, como relataram alguns moradores bem antigos. Que no ano seguinte , num enorme piquenique coletivo, despediram-se de muitas fazendas, chácaras e sítios; lugares de uma beleza e paz infinitas, que ficaram inundados com a construção de uma grande barragem. Uma festa com missa solene, banda de música,lencinhos abanando, foguetório e muitas lágrimas nos olhos. Era em Santa Branca. Famosa pelo seu clima ameno e pelos peixes pescados no rio Paraíba, de cima da Ponte Metálica construída no começo do século passado pelo engenheiro e escritor Euclides da Cunha, de “Os Sertões”.
REFLEXÕES:
NÃO TENHAMOS PRESSA, MAS NÃO PERCAMOS TEMPO.
José Saramago, 1922-2010.
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